segunda-feira, 16 de junho de 2008

Os sonhos e os pesadelos da União Europeia,

O NÃO da Irlanda ao referendo sobre o recém elaborado Tratado de Lisboa, suscita três reacções distintas, conforme a posição e a natureza de quem estiver a analisar este resultado.

1). Para alguns, nomeadamente, os que votaram pela negativa, a reacção é compreensivelmente de alegria, por terem alcançado a desejada vitória, que curiosamente, poucos saberão explicar pormenorizadamente !

2). Para os que colocaram uma cruz no SIM, no boletim de voto, fica a tristeza e a decepção de uma derrota, com sabor amargo, por terem plena consciência de que a Irlanda acabara de afogar as esperanças reunidas dos outros vinte e seis países, que, naturalmente, quiseram acreditar no sonho europeu.

3). Para os muitos milhares de cidadãos irlandeses, (a maioria deles), que optaram, “democraticamente”, por abster-se, deixando aos outros o cuidado e a responsabilidade de tentar viabilizar o que sobra de uma UE mais adoentada do que nunca, não se trata, agora, de lamentar a tristeza ou exteriorizar qualquer alegria inerente ao resultado, mas sim, com o passar do tempo, de sentir, (oxalá), um sentimento de vergonha, por terem tido a má fé e a cobardia de não dar o justo valor às verdadeiras raízes do sucesso económico de uma Irlanda, rica e confortável, que, sem os numerosos apoios dessa mesma União Europeia, permaneceria certamente na lista dos mais pobres e menos desenvolvidos da UE.

Que conclusões podemos e devemos tirar dessa consulta e deste resultado ?

- A primeira de todas, é que a Comissão europeia, suas instituições, e seu parlamento, não souberam tirar os importantes ensinamentos do histórico NÃO da Holanda e da França em 2005, na precedente consulta popular.

- A segunda, é que Portugal, o seu Primeiro Ministro e o seu governo, também não quiseram ou não souberam prever o futuro, que se encontrava comprometido desde 2005, na sequência da rejeição do primeiro Tratado.

- A terceira, é que, à boa maneira lusitana, depois do Tratado ter sido assinado pelos países convidados e participantes, numa festa tão grandiosa como dispendiosa, que teve lugar em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, com a presença dos omnipresentes médias audiovisuais de toda a Europa e do resto do mundo, lançaram-se ruidosamente os foguetes antes da festa, apesar do presidente francês, Nicolas Sarkosy, ter conseguido um acordo de última hora com os irmãos polacos que partilhavam então as rédeas do poder em Varsóvia.

- A quarta, despender grandes somas de dinheiro dos contribuintes, tendo em vista o planeamento de um cada vez mais hipotético futuro da UE, baseando-se simplesmente na conhecida capacidade dos políticos e na dos cidadãos eleitores, que nem sequer leram ou alcançaram os verdadeiros objectivos contidos no referido Tratado, prova que houve uma real ingenuidade na crença de que se podia transformar o sonho em realidade, pela simples vontade de alguns.

Continuar a partir de agora, ou, melhor, a partir da estaca zero, depois deste NÃO irlandês, com o teimoso objectivo de querer construir o que aparentemente não quer ser construído, pelo menos, nem com essa política de alargamento, nem com os actuais responsáveis políticos, será extremamente difícil, sem previamente tirar as importantes lições do passado e do presente da Europa e do mundo.

Parafraseando Winston Churchil, que afirmava que “A guerra era um assunto demasiado sério para ser confiado aos militares”, pode-se dizer, agora, depois de um terceiro país rejeitar a ideia desse Tratado (remodelado), que a política é igualmente um assunto demasiado sério e complexo, para ser confiado às populações, que por muito bem sucedidas que estejam na vida, não possuem nem a formação, nem o discernimento necessários, para se pronunciar sobre questões, que, nem os próprios políticos entendem e dominam inequivocamente.
As consequências, imediatas e futuras, desse resultado, são, em primeiro lugar, um sério revés na credibilidade da UE, perante o resto da Europa e o resto do mundo, numa altura particularmente sensível, na medida em que o poder mudou disfarçadamente de mãos no coração da poderosa e enigmática Rússia, nos USA, a casa Branca irá igualmente mudar de inquilino em Janeiro de 2009, a China persiste em querer dar lições ao mundo, sem infelizmente ser capaz de ouvir as opiniões desse mesmo mundo, a África encontra-se cada vez mais doente e esfomeada, continuando a saque, por uma dúzia de ricos e poderosos ditadores que, nem a ONU incomoda, o Irão já afirmou repetidamente que não tenciona desistir do seu sonho nuclear, os Balcãs, por muito que se diga ou que se deixe crer, ainda representam uma hipótese de destabilização que poderá alastrar-se a outras zonas do continente, o Paquistão muçulmano e nuclear, assemelha-se cada vez mais a um barril de pólvora, o inexpugnável Bem Laden, continua a monte, apesar dos poderosos e sofisticados meios americanos e não só, as forças da coligação, (bonita imagem), ao longo dos anos, continuam a afogar-se nos enlameados Afeganistão e Iraque, e o conhecido Médio Oriente, continua incansavelmente fiel a si mesmo, etc, etc...
Por isso, e em especial por tudo isso, a responsabilidade da Europa e do seu projecto de União, é cada vez maior, perante as ameaças a médio e longo prazo, que surgem vindas de todas as direcções, de todos os continentes, sem falar dos assombrosos perigos que representam os avanços incontestáveis de um Islão radical e a caminho de uma maior radicalização.

Que ninguém tenha dúvidas, de que o futuro do mundo e do nosso planeta, tem as suas maiores raízes nessa Europa pacificada e por enquanto, equilibrada. Desperdiçar o papel da Europa no mundo, deixando os seus detractores livres de agirem, é uma forma de atentado em prejuízo da humanidade, cujo futuro e bem-estar, é incomensuravelmente mais importante do que as eternas clivagens políticas, há muito e ainda ridiculamente reduzidas, entre uma demagógica esquerda e uma direita envelhecida e ultrapassada.






quinta-feira, 12 de junho de 2008

Portugal no seu melhor,

Como todos sabemos, ao longo das últimas três décadas, Portugal tem sido governado por políticos cuja esmagadora maioria, enquanto demostrava ser exímia a falar e a prometer, provava simultaneamente ser profundamente incompetente na gestão dos diversos sectores do país, nomeadamente, aqueles ligados aos aspectos de ordem económica e consequentemente, também incapazes de defender os legítimos interesses dos cidadãos que, com o seu trabalho e as suas crescentes e omnipresentes contribuições, têm sustentado os responsáveis por essa autêntica e desastrosa política de miséria, que nos envergonha a todos.
Prova dessa incapacidade, é que Portugal, apesar da “pesada herança recebida da União Europeia”, constituída por inúmeros bilhões de euros, graciosamente dados em subsídios e outras ajudas, por tudo e por nada, nunca esteve tão empobrecido e endividado, com uma produtividade tão baixa, com tanto desemprego e empregos tão precários, com tanto crédito mal parado, com tantos cheques sem cobertura, com tão pouco investimento estrangeiro, com tanta insegurança, com tanta fome, com tanta impunidade e onde o custo de vida é estranhamente superior ao da vizinha Espanha, outrora tão pobre como nós, enquanto os salários nacionais são vergonhosamente os piores da Europa.
Os únicos que parecem estar alheios a essa profunda crise de valores e de dinheiros, serão certamente os que souberam tirar proveio do chamado clientelismo político, ou seja, os que, graças a uma corrupção galopante, enriqueceram os corruptos, em cada vez maior número e os seus próprios bolsos, seguramente guardados e ou registados em off shore, de onde, nem o Estado, dito de direito, nem a sua “exemplar” Justiça, seriam bem vindos para averiguações, caso houvesse real vontade política para tal.
Curiosamente, a totalidade dos inquilinos das prisões, têm todos um ponto em comum : são todos pobres ! A principal razão que os levou para trás das grades, é certamente a inveja de ver que, enquanto uma minoria de privilegiados têm tudo e mais alguma coisa, esbanjam sem pudor a sua indecente fortuna de origem duvidosa, os outros, os que efectivamente trabalham e produzem algo, ficam reduzidos a uma posição de insignificância, onde já é moda entrar em guerra com seus semelhantes, nem que seja para disputar e apanhar as porcas migalhas que, inadvertida ou prudentemente, os ditos privilegiados deixaram cair.
Das duas uma, ou existem prisões altamente secretas para esconder ricos, poderosos e outros privilegiados, ou então, ninguém dessa gente chegou de facto a ser condenado pela “Justiça”, sendo sistematicamente ilibados dos crimes imputados, ou ainda, são felizes beneficiários das apropriadas e bem vindas prescrições, “legalmente” previstas na lei.
Enquanto tudo isso acontece, o país continua eficazmente a caminho de um ponto de empobrecimento sem retorno, encontrando-se compreensivelmente em último lugar do ranking dos vinte e sete países membros da UE.
Para ajudar à festa, os produtores de petróleo e demais especuladores sem vergonha, em comum acordo, resolveram encher ainda mais os bolsos, (que já estavam cheios), fazendo disparar o preço desta matéria prima para níveis totalmente insustentáveis para uma economia considerada normal, quanto mais para uma economia já tão debilitada, como é o caso da nossa, (e a dos políticos, também) !!!
Como se tanta desgraça junta não chegasse, os senhores camionistas, usurpando direitos e infringindo a lei, resolveram olhar para os interesses exclusivos da sua classe, bloqueando estradas de Norte a Sul do país, tornando assim reféns mais de dez milhões de portugueses, já altamente prejudicados pelo Estado e seus fieis servidores, aliás, reis e donos deste cantinho à beira-mar plantado.
É pena que estes senhores camionistas, certamente prejudicados também pelos altos preços do gasóleo, não tenham querido ver que não eram os únicos a ser vítimas da loucura dos preços, tendo em conta que os outros contribuintes, individuais ou colectivos, também suportam, à sua escala, os referidos aumentos.
Com que direito uma corporação inteira impõe a sua lei, a lei da selva, à restante população ? Será isso democracia ?
Em vez de bloquear o povo que, além de ser seu cliente, não tem culpa nenhuma do que está a acontecer, os senhores camionistas, também parte integrante desse mesmo povo, deveriam antes, bloquear as instâncias e serviços do Estado, tais como : as forças da ordem, os militares, os deputados, os ministérios e seus ministros, as finanças, as refinarias da Galp e assim sucessivamente. Dessa forma, as negociações chegariam a um consenso em poucas horas.
Entretanto, as prateleiras da distribuição vão ficando vazias ou desfalcadas, o que, além de aumentar a fome, não vai resolver nada, pelo contrário. Na melhor das hipóteses, vamos assistir a uma guerra entre a parte refém da população e os senhores camionistas, também novos reis e donos disto. E depois, o que veremos e sofreremos ainda, enquanto o governo da nação afirma não poder fazer nada em favor dos camionistas, por falta de margem de manobra !!!
O culpado disso, chama-se equilíbrio fiscal e é mais importante que o bem estar do povo !!!
Alguém, neste governo sempre arrogante e prepotente, tentou calcular os custos financeiros para o Estado das numerosas consequências da presente situação ? Será que um gesto de compreensão em favor dos senhores camionistas não sairia mais barata à nação inteira ?
Felizmente, nem tudo está mal. Encontrou-se uma nota de optimismo. Enquanto o país, sua população e seus agentes económicos já não conseguem sustentar os luxos do Estado, nem a sua própria e humilde sobrevivência, seja por excesso de inconsciência, seja por excesso de lucidez perante essa agonia nacional, assistimos, impávidos e serenos, a uma verdadeira loucura colectiva que se arrogou o direito de ajudar os senhores camionistas a bloquear o país, suspendendo qualquer actividade profissional, para prosternar-se perante o futebol e seu campeonato de qualquer coisa, outro rei e dono disto.
Haja paciência !! Haja moralidade !! Haja pudor e inteligência !! Sem essas imprescindíveis virtudes, onde iremos parar ??
É incomensuravelmente triste, para não dizer lamentável, que um país, outrora tão glorioso e bem sucedido, já não seja capaz de inspirar-se do seu honroso passado, para se conhecer melhor a si próprio, de forma a aprender e ser capaz de construir e garantir um futuro minimamente honroso para as gerações vindouras. O último a sair que feche a porta !!!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Homem, o Petróleo e o Capitalismo,

Os meios de comunicação social têm chamado a atenção do grande público sobre o facto de os ricos serem cada vez mais ricos e o pobres cada vez mais pobres e também cada vez mais numerosos.

Os recentes acontecimentos, relativos aos sucessivos aumentos do preço do barril de petróleo, demonstram, por um lado, a triste veracidade dessa notícia e por outro, revelam uma tendência para um substancial agravamento da situação. No entanto, na sequência dos referidos aumentos, surgiram situações perfeitamente anómalas, que ainda não foram explicadas por parte de quem tem obrigação moral e política de vir a terreiro prestar contas aos contribuintes.
Face a esse silêncio e para tentar clarificar a problemática desses aumentos, importa lembrar os principais factores que, à escala internacional, influenciam directamente a fixação dos preços de venda dos combustíveis ao consumidor.

- Em primeiro lugar, sabendo que foram descobertas novas e importantíssimas reservas de petróleo na África e na América Latina, afasta-se cada vez mais o espectro do próximo esgotamento das respectivas reservas. Esse factor positivo, deveria provocar a redução dos preços e não o contrário. Convém aliás reparar que graças às novas reservas encontradas ao longo dos últimos trinta anos e graças também aos novos métodos de pesquisa, de perfuração, de captação e de tratamento, o hipotético fim do petróleo beneficia de um permanente adiamento, apesar do seu consumo ter aumentado exponencialmente, durante esse mesmo período de tempo.
- Em segundo lugar, os preços de referência do barril, nas bolsas de Nova Iorque e de Londres, expressos em Dólares americanos representam normalmente mais um argumento que justificaria uma descida dos preços aos consumidores, tendo em conta que o petróleo é negociado e pago em Dólares US, que, por sua vez, viram a sua paridade com o Euro baixar sensivelmente desde o início do ano em curso.
- Em terceiro lugar, a redução do elevado grau de dependência para com o petróleo, graças ao desenvolvimento tecnológico de energias alternativas, ( Bio combustíveis, energia eólica, etc, etc ), utilizadas com sucesso na industria automóvel, assim como na distribuição energética para uso domestico e público, deveria igualmente reflectir-se numa nova redução do preço base dessa matéria prima.
- Em quarto e último lugar, as principais zonas geográficas onde existem os conhecidos conflitos armados, (Iraque, Afeganistão, Médio Oriente), registaram uma certa diminuição de intensidade e consequentemente de vítimas, o que também deveria contribuir para tranquilizar os investidores e outros especuladores e ser mais um importante factor de descida de preços.

Como os argumentos acima indicados não podem servir de bode expiatório para tentar justificar os referidos aumentos do preço de base do barril, os relatórios das bolsas de Nova Iorque e Londres, desesperadamente à procura de outras explicações, indicam que as razões da falta de estabilização dos preços e consequente subidas, têm as suas origens na ligeira deterioração da situação económica americana, provocada pelas chamadas Subprime, ou bolha imobiliária, que rebentou por culpa exclusiva dos bancos, à procura de lucros fáceis. Sendo os referidos bancos geralmente accionistas das empresas petrolíferas, ganham agora, de um lado, lucros gigantescos, que compensam evidentemente o que não conseguiram ganhar no imobiliário, do outro lado.

Na verdade, o que determina os recentes e sucessivos aumentos, não é nada mais do que uma concertada política de forte especulação, destinada a proporcionar agigantados lucros para alguns, lucros esses pura e simplesmente sustentados pelos milhões de milhões de consumidores contribuintes, que, por não se encontrarem devidamente organizados, suportam estes repetidos aumentos, à custa de muitos sacrifícios.

É de lamentar que a maioria dos políticos, em vez de defender eficazmente os soberanos interesses das populações e dos agentes económicos que juntos, sustentam o Estado e seus muitos funcionários, preferem sorrateiramente esfregar as mãos de contentes pela entrada repentina destes encaixes de receitas extraordinárias, que, certamente, irão alimentar parcialmente os invisíveis circuitos paralelos da alargada corrupção, aliás, denunciada em boa hora pelo João Cravinho, antes dele ser habilmente afastado para a Inglaterra pelo seu próprio partido.

Procedendo dessa forma, importa termos consciência de que os políticos de segunda categoria, ajudados por várias espécies de especuladores sem vergonha, estão insidiosa e perigosamente, a abalar as bases do actual sistema sócio económico, dito capitalista, que, reconhecidamente, longe de ser o sistema perfeito, tinha e ainda tem comprovadamente a virtude de ser o único que tem funcionado até agora, com mais ou menos eficácia.

Uma das provas irrefutáveis da má fé dos governantes, reside no facto que, enquanto o Estado persegue os contribuintes individuais e colectivos, por tudo e por nada, esse mesmo Estado, arroga-se um direito, aliás inconstitucional, de tributar impostos sobre outros impostos, como é o caso do IVA sobre os ISP (impostos sobre produtos petrolíferos), ou ainda, no caso do IVA sobre o IA (imposto automóvel). É caso para perguntar: Quem vigia e condena o Estado quando ele se encontra fora da lei ?
Para se sustentar a si próprio e sustentar os milhares de lugares de conveniência, o Estado continua a preferir o caminho fácil da tributação de impostos, em vez de impor e manter uma sábia contenção da despesa pública, da qual fazem parte vencimentos e regalias principescas atribuídos a um elevado número de altos funcionários.

Caso não prevaleça rapidamente o bom senso, o mundo poderá assistir a uma revolta generalizada das populações desesperadamente empobrecidas por culpa de uma minoria de privilegiados. Alguém está a brincar com o fogo, e, como diz o povo, quem brinca com o fogo acaba sempre por se queimar !!

As pessoas não podem continuar a ser espezinhadas em toda a impunidade por uma cambada de incompetentes, ainda por cima obcecados pelo poder e pelo enriquecimento pessoal.

A quando um levantamento a sério para por ordem nessa infeliz e escandalosa desordem ? Mas afinal, por onde anda o tão apregoado orgulho nacional ?