O NÃO da Irlanda ao referendo sobre o recém elaborado Tratado de Lisboa, suscita três reacções distintas, conforme a posição e a natureza de quem estiver a analisar este resultado.
1). Para alguns, nomeadamente, os que votaram pela negativa, a reacção é compreensivelmente de alegria, por terem alcançado a desejada vitória, que curiosamente, poucos saberão explicar pormenorizadamente !
2). Para os que colocaram uma cruz no SIM, no boletim de voto, fica a tristeza e a decepção de uma derrota, com sabor amargo, por terem plena consciência de que a Irlanda acabara de afogar as esperanças reunidas dos outros vinte e seis países, que, naturalmente, quiseram acreditar no sonho europeu.
3). Para os muitos milhares de cidadãos irlandeses, (a maioria deles), que optaram, “democraticamente”, por abster-se, deixando aos outros o cuidado e a responsabilidade de tentar viabilizar o que sobra de uma UE mais adoentada do que nunca, não se trata, agora, de lamentar a tristeza ou exteriorizar qualquer alegria inerente ao resultado, mas sim, com o passar do tempo, de sentir, (oxalá), um sentimento de vergonha, por terem tido a má fé e a cobardia de não dar o justo valor às verdadeiras raízes do sucesso económico de uma Irlanda, rica e confortável, que, sem os numerosos apoios dessa mesma União Europeia, permaneceria certamente na lista dos mais pobres e menos desenvolvidos da UE.
Que conclusões podemos e devemos tirar dessa consulta e deste resultado ?
- A primeira de todas, é que a Comissão europeia, suas instituições, e seu parlamento, não souberam tirar os importantes ensinamentos do histórico NÃO da Holanda e da França em 2005, na precedente consulta popular.
- A segunda, é que Portugal, o seu Primeiro Ministro e o seu governo, também não quiseram ou não souberam prever o futuro, que se encontrava comprometido desde 2005, na sequência da rejeição do primeiro Tratado.
- A terceira, é que, à boa maneira lusitana, depois do Tratado ter sido assinado pelos países convidados e participantes, numa festa tão grandiosa como dispendiosa, que teve lugar em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, com a presença dos omnipresentes médias audiovisuais de toda a Europa e do resto do mundo, lançaram-se ruidosamente os foguetes antes da festa, apesar do presidente francês, Nicolas Sarkosy, ter conseguido um acordo de última hora com os irmãos polacos que partilhavam então as rédeas do poder em Varsóvia.
- A quarta, despender grandes somas de dinheiro dos contribuintes, tendo em vista o planeamento de um cada vez mais hipotético futuro da UE, baseando-se simplesmente na conhecida capacidade dos políticos e na dos cidadãos eleitores, que nem sequer leram ou alcançaram os verdadeiros objectivos contidos no referido Tratado, prova que houve uma real ingenuidade na crença de que se podia transformar o sonho em realidade, pela simples vontade de alguns.
Continuar a partir de agora, ou, melhor, a partir da estaca zero, depois deste NÃO irlandês, com o teimoso objectivo de querer construir o que aparentemente não quer ser construído, pelo menos, nem com essa política de alargamento, nem com os actuais responsáveis políticos, será extremamente difícil, sem previamente tirar as importantes lições do passado e do presente da Europa e do mundo.
Parafraseando Winston Churchil, que afirmava que “A guerra era um assunto demasiado sério para ser confiado aos militares”, pode-se dizer, agora, depois de um terceiro país rejeitar a ideia desse Tratado (remodelado), que a política é igualmente um assunto demasiado sério e complexo, para ser confiado às populações, que por muito bem sucedidas que estejam na vida, não possuem nem a formação, nem o discernimento necessários, para se pronunciar sobre questões, que, nem os próprios políticos entendem e dominam inequivocamente.
As consequências, imediatas e futuras, desse resultado, são, em primeiro lugar, um sério revés na credibilidade da UE, perante o resto da Europa e o resto do mundo, numa altura particularmente sensível, na medida em que o poder mudou disfarçadamente de mãos no coração da poderosa e enigmática Rússia, nos USA, a casa Branca irá igualmente mudar de inquilino em Janeiro de 2009, a China persiste em querer dar lições ao mundo, sem infelizmente ser capaz de ouvir as opiniões desse mesmo mundo, a África encontra-se cada vez mais doente e esfomeada, continuando a saque, por uma dúzia de ricos e poderosos ditadores que, nem a ONU incomoda, o Irão já afirmou repetidamente que não tenciona desistir do seu sonho nuclear, os Balcãs, por muito que se diga ou que se deixe crer, ainda representam uma hipótese de destabilização que poderá alastrar-se a outras zonas do continente, o Paquistão muçulmano e nuclear, assemelha-se cada vez mais a um barril de pólvora, o inexpugnável Bem Laden, continua a monte, apesar dos poderosos e sofisticados meios americanos e não só, as forças da coligação, (bonita imagem), ao longo dos anos, continuam a afogar-se nos enlameados Afeganistão e Iraque, e o conhecido Médio Oriente, continua incansavelmente fiel a si mesmo, etc, etc...
Por isso, e em especial por tudo isso, a responsabilidade da Europa e do seu projecto de União, é cada vez maior, perante as ameaças a médio e longo prazo, que surgem vindas de todas as direcções, de todos os continentes, sem falar dos assombrosos perigos que representam os avanços incontestáveis de um Islão radical e a caminho de uma maior radicalização.
Que ninguém tenha dúvidas, de que o futuro do mundo e do nosso planeta, tem as suas maiores raízes nessa Europa pacificada e por enquanto, equilibrada. Desperdiçar o papel da Europa no mundo, deixando os seus detractores livres de agirem, é uma forma de atentado em prejuízo da humanidade, cujo futuro e bem-estar, é incomensuravelmente mais importante do que as eternas clivagens políticas, há muito e ainda ridiculamente reduzidas, entre uma demagógica esquerda e uma direita envelhecida e ultrapassada.
1). Para alguns, nomeadamente, os que votaram pela negativa, a reacção é compreensivelmente de alegria, por terem alcançado a desejada vitória, que curiosamente, poucos saberão explicar pormenorizadamente !
2). Para os que colocaram uma cruz no SIM, no boletim de voto, fica a tristeza e a decepção de uma derrota, com sabor amargo, por terem plena consciência de que a Irlanda acabara de afogar as esperanças reunidas dos outros vinte e seis países, que, naturalmente, quiseram acreditar no sonho europeu.
3). Para os muitos milhares de cidadãos irlandeses, (a maioria deles), que optaram, “democraticamente”, por abster-se, deixando aos outros o cuidado e a responsabilidade de tentar viabilizar o que sobra de uma UE mais adoentada do que nunca, não se trata, agora, de lamentar a tristeza ou exteriorizar qualquer alegria inerente ao resultado, mas sim, com o passar do tempo, de sentir, (oxalá), um sentimento de vergonha, por terem tido a má fé e a cobardia de não dar o justo valor às verdadeiras raízes do sucesso económico de uma Irlanda, rica e confortável, que, sem os numerosos apoios dessa mesma União Europeia, permaneceria certamente na lista dos mais pobres e menos desenvolvidos da UE.
Que conclusões podemos e devemos tirar dessa consulta e deste resultado ?
- A primeira de todas, é que a Comissão europeia, suas instituições, e seu parlamento, não souberam tirar os importantes ensinamentos do histórico NÃO da Holanda e da França em 2005, na precedente consulta popular.
- A segunda, é que Portugal, o seu Primeiro Ministro e o seu governo, também não quiseram ou não souberam prever o futuro, que se encontrava comprometido desde 2005, na sequência da rejeição do primeiro Tratado.
- A terceira, é que, à boa maneira lusitana, depois do Tratado ter sido assinado pelos países convidados e participantes, numa festa tão grandiosa como dispendiosa, que teve lugar em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, com a presença dos omnipresentes médias audiovisuais de toda a Europa e do resto do mundo, lançaram-se ruidosamente os foguetes antes da festa, apesar do presidente francês, Nicolas Sarkosy, ter conseguido um acordo de última hora com os irmãos polacos que partilhavam então as rédeas do poder em Varsóvia.
- A quarta, despender grandes somas de dinheiro dos contribuintes, tendo em vista o planeamento de um cada vez mais hipotético futuro da UE, baseando-se simplesmente na conhecida capacidade dos políticos e na dos cidadãos eleitores, que nem sequer leram ou alcançaram os verdadeiros objectivos contidos no referido Tratado, prova que houve uma real ingenuidade na crença de que se podia transformar o sonho em realidade, pela simples vontade de alguns.
Continuar a partir de agora, ou, melhor, a partir da estaca zero, depois deste NÃO irlandês, com o teimoso objectivo de querer construir o que aparentemente não quer ser construído, pelo menos, nem com essa política de alargamento, nem com os actuais responsáveis políticos, será extremamente difícil, sem previamente tirar as importantes lições do passado e do presente da Europa e do mundo.
Parafraseando Winston Churchil, que afirmava que “A guerra era um assunto demasiado sério para ser confiado aos militares”, pode-se dizer, agora, depois de um terceiro país rejeitar a ideia desse Tratado (remodelado), que a política é igualmente um assunto demasiado sério e complexo, para ser confiado às populações, que por muito bem sucedidas que estejam na vida, não possuem nem a formação, nem o discernimento necessários, para se pronunciar sobre questões, que, nem os próprios políticos entendem e dominam inequivocamente.
As consequências, imediatas e futuras, desse resultado, são, em primeiro lugar, um sério revés na credibilidade da UE, perante o resto da Europa e o resto do mundo, numa altura particularmente sensível, na medida em que o poder mudou disfarçadamente de mãos no coração da poderosa e enigmática Rússia, nos USA, a casa Branca irá igualmente mudar de inquilino em Janeiro de 2009, a China persiste em querer dar lições ao mundo, sem infelizmente ser capaz de ouvir as opiniões desse mesmo mundo, a África encontra-se cada vez mais doente e esfomeada, continuando a saque, por uma dúzia de ricos e poderosos ditadores que, nem a ONU incomoda, o Irão já afirmou repetidamente que não tenciona desistir do seu sonho nuclear, os Balcãs, por muito que se diga ou que se deixe crer, ainda representam uma hipótese de destabilização que poderá alastrar-se a outras zonas do continente, o Paquistão muçulmano e nuclear, assemelha-se cada vez mais a um barril de pólvora, o inexpugnável Bem Laden, continua a monte, apesar dos poderosos e sofisticados meios americanos e não só, as forças da coligação, (bonita imagem), ao longo dos anos, continuam a afogar-se nos enlameados Afeganistão e Iraque, e o conhecido Médio Oriente, continua incansavelmente fiel a si mesmo, etc, etc...
Por isso, e em especial por tudo isso, a responsabilidade da Europa e do seu projecto de União, é cada vez maior, perante as ameaças a médio e longo prazo, que surgem vindas de todas as direcções, de todos os continentes, sem falar dos assombrosos perigos que representam os avanços incontestáveis de um Islão radical e a caminho de uma maior radicalização.
Que ninguém tenha dúvidas, de que o futuro do mundo e do nosso planeta, tem as suas maiores raízes nessa Europa pacificada e por enquanto, equilibrada. Desperdiçar o papel da Europa no mundo, deixando os seus detractores livres de agirem, é uma forma de atentado em prejuízo da humanidade, cujo futuro e bem-estar, é incomensuravelmente mais importante do que as eternas clivagens políticas, há muito e ainda ridiculamente reduzidas, entre uma demagógica esquerda e uma direita envelhecida e ultrapassada.