quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Homem, o Petróleo e o Capitalismo,

Os meios de comunicação social têm chamado a atenção do grande público sobre o facto de os ricos serem cada vez mais ricos e o pobres cada vez mais pobres e também cada vez mais numerosos.

Os recentes acontecimentos, relativos aos sucessivos aumentos do preço do barril de petróleo, demonstram, por um lado, a triste veracidade dessa notícia e por outro, revelam uma tendência para um substancial agravamento da situação. No entanto, na sequência dos referidos aumentos, surgiram situações perfeitamente anómalas, que ainda não foram explicadas por parte de quem tem obrigação moral e política de vir a terreiro prestar contas aos contribuintes.
Face a esse silêncio e para tentar clarificar a problemática desses aumentos, importa lembrar os principais factores que, à escala internacional, influenciam directamente a fixação dos preços de venda dos combustíveis ao consumidor.

- Em primeiro lugar, sabendo que foram descobertas novas e importantíssimas reservas de petróleo na África e na América Latina, afasta-se cada vez mais o espectro do próximo esgotamento das respectivas reservas. Esse factor positivo, deveria provocar a redução dos preços e não o contrário. Convém aliás reparar que graças às novas reservas encontradas ao longo dos últimos trinta anos e graças também aos novos métodos de pesquisa, de perfuração, de captação e de tratamento, o hipotético fim do petróleo beneficia de um permanente adiamento, apesar do seu consumo ter aumentado exponencialmente, durante esse mesmo período de tempo.
- Em segundo lugar, os preços de referência do barril, nas bolsas de Nova Iorque e de Londres, expressos em Dólares americanos representam normalmente mais um argumento que justificaria uma descida dos preços aos consumidores, tendo em conta que o petróleo é negociado e pago em Dólares US, que, por sua vez, viram a sua paridade com o Euro baixar sensivelmente desde o início do ano em curso.
- Em terceiro lugar, a redução do elevado grau de dependência para com o petróleo, graças ao desenvolvimento tecnológico de energias alternativas, ( Bio combustíveis, energia eólica, etc, etc ), utilizadas com sucesso na industria automóvel, assim como na distribuição energética para uso domestico e público, deveria igualmente reflectir-se numa nova redução do preço base dessa matéria prima.
- Em quarto e último lugar, as principais zonas geográficas onde existem os conhecidos conflitos armados, (Iraque, Afeganistão, Médio Oriente), registaram uma certa diminuição de intensidade e consequentemente de vítimas, o que também deveria contribuir para tranquilizar os investidores e outros especuladores e ser mais um importante factor de descida de preços.

Como os argumentos acima indicados não podem servir de bode expiatório para tentar justificar os referidos aumentos do preço de base do barril, os relatórios das bolsas de Nova Iorque e Londres, desesperadamente à procura de outras explicações, indicam que as razões da falta de estabilização dos preços e consequente subidas, têm as suas origens na ligeira deterioração da situação económica americana, provocada pelas chamadas Subprime, ou bolha imobiliária, que rebentou por culpa exclusiva dos bancos, à procura de lucros fáceis. Sendo os referidos bancos geralmente accionistas das empresas petrolíferas, ganham agora, de um lado, lucros gigantescos, que compensam evidentemente o que não conseguiram ganhar no imobiliário, do outro lado.

Na verdade, o que determina os recentes e sucessivos aumentos, não é nada mais do que uma concertada política de forte especulação, destinada a proporcionar agigantados lucros para alguns, lucros esses pura e simplesmente sustentados pelos milhões de milhões de consumidores contribuintes, que, por não se encontrarem devidamente organizados, suportam estes repetidos aumentos, à custa de muitos sacrifícios.

É de lamentar que a maioria dos políticos, em vez de defender eficazmente os soberanos interesses das populações e dos agentes económicos que juntos, sustentam o Estado e seus muitos funcionários, preferem sorrateiramente esfregar as mãos de contentes pela entrada repentina destes encaixes de receitas extraordinárias, que, certamente, irão alimentar parcialmente os invisíveis circuitos paralelos da alargada corrupção, aliás, denunciada em boa hora pelo João Cravinho, antes dele ser habilmente afastado para a Inglaterra pelo seu próprio partido.

Procedendo dessa forma, importa termos consciência de que os políticos de segunda categoria, ajudados por várias espécies de especuladores sem vergonha, estão insidiosa e perigosamente, a abalar as bases do actual sistema sócio económico, dito capitalista, que, reconhecidamente, longe de ser o sistema perfeito, tinha e ainda tem comprovadamente a virtude de ser o único que tem funcionado até agora, com mais ou menos eficácia.

Uma das provas irrefutáveis da má fé dos governantes, reside no facto que, enquanto o Estado persegue os contribuintes individuais e colectivos, por tudo e por nada, esse mesmo Estado, arroga-se um direito, aliás inconstitucional, de tributar impostos sobre outros impostos, como é o caso do IVA sobre os ISP (impostos sobre produtos petrolíferos), ou ainda, no caso do IVA sobre o IA (imposto automóvel). É caso para perguntar: Quem vigia e condena o Estado quando ele se encontra fora da lei ?
Para se sustentar a si próprio e sustentar os milhares de lugares de conveniência, o Estado continua a preferir o caminho fácil da tributação de impostos, em vez de impor e manter uma sábia contenção da despesa pública, da qual fazem parte vencimentos e regalias principescas atribuídos a um elevado número de altos funcionários.

Caso não prevaleça rapidamente o bom senso, o mundo poderá assistir a uma revolta generalizada das populações desesperadamente empobrecidas por culpa de uma minoria de privilegiados. Alguém está a brincar com o fogo, e, como diz o povo, quem brinca com o fogo acaba sempre por se queimar !!

As pessoas não podem continuar a ser espezinhadas em toda a impunidade por uma cambada de incompetentes, ainda por cima obcecados pelo poder e pelo enriquecimento pessoal.

A quando um levantamento a sério para por ordem nessa infeliz e escandalosa desordem ? Mas afinal, por onde anda o tão apregoado orgulho nacional ?

Sem comentários: