quinta-feira, 12 de junho de 2008

Portugal no seu melhor,

Como todos sabemos, ao longo das últimas três décadas, Portugal tem sido governado por políticos cuja esmagadora maioria, enquanto demostrava ser exímia a falar e a prometer, provava simultaneamente ser profundamente incompetente na gestão dos diversos sectores do país, nomeadamente, aqueles ligados aos aspectos de ordem económica e consequentemente, também incapazes de defender os legítimos interesses dos cidadãos que, com o seu trabalho e as suas crescentes e omnipresentes contribuições, têm sustentado os responsáveis por essa autêntica e desastrosa política de miséria, que nos envergonha a todos.
Prova dessa incapacidade, é que Portugal, apesar da “pesada herança recebida da União Europeia”, constituída por inúmeros bilhões de euros, graciosamente dados em subsídios e outras ajudas, por tudo e por nada, nunca esteve tão empobrecido e endividado, com uma produtividade tão baixa, com tanto desemprego e empregos tão precários, com tanto crédito mal parado, com tantos cheques sem cobertura, com tão pouco investimento estrangeiro, com tanta insegurança, com tanta fome, com tanta impunidade e onde o custo de vida é estranhamente superior ao da vizinha Espanha, outrora tão pobre como nós, enquanto os salários nacionais são vergonhosamente os piores da Europa.
Os únicos que parecem estar alheios a essa profunda crise de valores e de dinheiros, serão certamente os que souberam tirar proveio do chamado clientelismo político, ou seja, os que, graças a uma corrupção galopante, enriqueceram os corruptos, em cada vez maior número e os seus próprios bolsos, seguramente guardados e ou registados em off shore, de onde, nem o Estado, dito de direito, nem a sua “exemplar” Justiça, seriam bem vindos para averiguações, caso houvesse real vontade política para tal.
Curiosamente, a totalidade dos inquilinos das prisões, têm todos um ponto em comum : são todos pobres ! A principal razão que os levou para trás das grades, é certamente a inveja de ver que, enquanto uma minoria de privilegiados têm tudo e mais alguma coisa, esbanjam sem pudor a sua indecente fortuna de origem duvidosa, os outros, os que efectivamente trabalham e produzem algo, ficam reduzidos a uma posição de insignificância, onde já é moda entrar em guerra com seus semelhantes, nem que seja para disputar e apanhar as porcas migalhas que, inadvertida ou prudentemente, os ditos privilegiados deixaram cair.
Das duas uma, ou existem prisões altamente secretas para esconder ricos, poderosos e outros privilegiados, ou então, ninguém dessa gente chegou de facto a ser condenado pela “Justiça”, sendo sistematicamente ilibados dos crimes imputados, ou ainda, são felizes beneficiários das apropriadas e bem vindas prescrições, “legalmente” previstas na lei.
Enquanto tudo isso acontece, o país continua eficazmente a caminho de um ponto de empobrecimento sem retorno, encontrando-se compreensivelmente em último lugar do ranking dos vinte e sete países membros da UE.
Para ajudar à festa, os produtores de petróleo e demais especuladores sem vergonha, em comum acordo, resolveram encher ainda mais os bolsos, (que já estavam cheios), fazendo disparar o preço desta matéria prima para níveis totalmente insustentáveis para uma economia considerada normal, quanto mais para uma economia já tão debilitada, como é o caso da nossa, (e a dos políticos, também) !!!
Como se tanta desgraça junta não chegasse, os senhores camionistas, usurpando direitos e infringindo a lei, resolveram olhar para os interesses exclusivos da sua classe, bloqueando estradas de Norte a Sul do país, tornando assim reféns mais de dez milhões de portugueses, já altamente prejudicados pelo Estado e seus fieis servidores, aliás, reis e donos deste cantinho à beira-mar plantado.
É pena que estes senhores camionistas, certamente prejudicados também pelos altos preços do gasóleo, não tenham querido ver que não eram os únicos a ser vítimas da loucura dos preços, tendo em conta que os outros contribuintes, individuais ou colectivos, também suportam, à sua escala, os referidos aumentos.
Com que direito uma corporação inteira impõe a sua lei, a lei da selva, à restante população ? Será isso democracia ?
Em vez de bloquear o povo que, além de ser seu cliente, não tem culpa nenhuma do que está a acontecer, os senhores camionistas, também parte integrante desse mesmo povo, deveriam antes, bloquear as instâncias e serviços do Estado, tais como : as forças da ordem, os militares, os deputados, os ministérios e seus ministros, as finanças, as refinarias da Galp e assim sucessivamente. Dessa forma, as negociações chegariam a um consenso em poucas horas.
Entretanto, as prateleiras da distribuição vão ficando vazias ou desfalcadas, o que, além de aumentar a fome, não vai resolver nada, pelo contrário. Na melhor das hipóteses, vamos assistir a uma guerra entre a parte refém da população e os senhores camionistas, também novos reis e donos disto. E depois, o que veremos e sofreremos ainda, enquanto o governo da nação afirma não poder fazer nada em favor dos camionistas, por falta de margem de manobra !!!
O culpado disso, chama-se equilíbrio fiscal e é mais importante que o bem estar do povo !!!
Alguém, neste governo sempre arrogante e prepotente, tentou calcular os custos financeiros para o Estado das numerosas consequências da presente situação ? Será que um gesto de compreensão em favor dos senhores camionistas não sairia mais barata à nação inteira ?
Felizmente, nem tudo está mal. Encontrou-se uma nota de optimismo. Enquanto o país, sua população e seus agentes económicos já não conseguem sustentar os luxos do Estado, nem a sua própria e humilde sobrevivência, seja por excesso de inconsciência, seja por excesso de lucidez perante essa agonia nacional, assistimos, impávidos e serenos, a uma verdadeira loucura colectiva que se arrogou o direito de ajudar os senhores camionistas a bloquear o país, suspendendo qualquer actividade profissional, para prosternar-se perante o futebol e seu campeonato de qualquer coisa, outro rei e dono disto.
Haja paciência !! Haja moralidade !! Haja pudor e inteligência !! Sem essas imprescindíveis virtudes, onde iremos parar ??
É incomensuravelmente triste, para não dizer lamentável, que um país, outrora tão glorioso e bem sucedido, já não seja capaz de inspirar-se do seu honroso passado, para se conhecer melhor a si próprio, de forma a aprender e ser capaz de construir e garantir um futuro minimamente honroso para as gerações vindouras. O último a sair que feche a porta !!!

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