terça-feira, 23 de junho de 2009

Quando a Democracia tem os ombros largos,

Quando a Democracia tem os ombros largos,

Numa análise simples e ao alcance de todos, é fácil chegar à conclusão de que, só os adeptos da má-fé, por um lado, e os deficientes mentais, por outro, é que não reconhecem nem a extrema gravidade da situação socioeconómica que Portugal atingiu, após três décadas de “Democracia”, nem as verdadeiras razões que levaram vergonhosamente este país, outrora rico, a um ponto de quase não retorno, do tipo terceiro-mundista, onde florescem as denominadas repúblicas das bananas. Aliás, essa triste constatação já ultrapassou as fronteiras nacionais, tendo, como consequências negativas directas, um forte recuo dos investimentos estrangeiros, tão importantes para um normal e saudável desempenho de uma economia de mercado, como é o caso da economia portuguesa.

É claro que o caos actual em que se encontram respectivamente: as finanças públicas, a Justiça e a Saúde, entre outras numerosas Instituições estatais, que regem e controlam a sociedade no seu todo, só pode beneficiar aqueles que têm grande responsabilidade por este lamentável estado de coisas a que o país chegou, pela simples razão de que, do caos instalado, nasce a impunidade na qual estes responsáveis podem continuar a enriquecer às custas de uma nação de contribuintes reféns do sistema implantado pelos seus hábeis mentores.

O meio utilizado para atingir este fim, é tão simplesmente a forma como hoje se faz política, eficazmente transformada numa ciência meticulosamente elaborada por uma classe de chamados políticos, cujo perfil é cada vez mais igual para todos e que, em vez de se colocarem, humilde e orgulhosamente, ao serviço de toda uma nação e do seu povo, escolheram, sem pudor algum, essa via, para melhor poderem atingir, segura e rapidamente, os procurados proveitos pessoais, materiais e não só.

As armas de que dispõem esses todo-poderosos políticos, são, além do poder legislativo, de uma certa forma manipulado para melhor favorecer a classe dos governantes e respectivas tropas, o controlo total e omnipresente sobre a sociedade, seus agentes económicos, a criação de novos impostos e o regular aumento dos já existentes, a atribuição a si próprios de uma privilegiada imunidade, o recurso a uma cada vez mais maior arrogância, que serve, além de desviar as atenções, para disfarçar a incompetência generalizada, geradora de flagrantes abusos de poder e outros erros profundos verificados no exercício dos cargos públicos. Aliás, quantos políticos já foram condenados pelos tribunais nacionais por delapidação de património, por erros e omissões, incompetência, burla, ou ainda corrupção, compadrio e enriquecimento pessoal ilícito?

Curiosamente, enquanto qualquer cidadão contribuinte tem que obedecer cegamente ao poder político e à sua alargada máquina estatal, responder civil e criminalmente pelos erros e omissões por si cometidos, pagar juros de mora e suportar outras obrigações em que o Estado tem sempre e invariavelmente a última palavra, os todo-poderosos deste país, estão isentos de prestar contas decorrentes das suas funções, em muitos casos recebem vencimentos e prémios escandalosamente elevados e dificilmente justificados, e tudo isso, numa gritante e inexplicável impunidade que divide a sociedade em duas partes distintas: os cidadãos de “primeira” e os de “segunda”.

O que custa entender, é a aparentemente inquebrável passividade com a qual os cidadãos de “segunda” vivem e sofrem amargamente na pele os efeitos secundários da existência de filhos por um lado e de enteados, por outro.

Tudo na vida, incluindo a própria vida, tem um fim, lógico e natural. Por isso, pode-se perguntar, com toda a legitimidade, até quando o povo, composto pelos tais cidadãos de “segunda”, irá aceitar, surda e pacificamente, as condições de permanente sacrifício, de miséria, de injustiça e de discriminação por parte dos referidos cidadãos de “primeira”?

Mas afinal, para que servem os ditos senhores políticos, eterna e limitadamente acantonados entre uma esquerda e uma direita, senão para gastar demasiado tempo, demasiado dinheiro e energias para se insultarem reciprocamente e guerrearem-se uns aos outros, em vez de, num claro e imprescindível interesse nacional, apresentarem propostas inteligentes e soluções viáveis, supostas reverterem em benefício de todos e aplicá-las em honra de uma nação, hoje perigosamente carente de competências, de seriedade, de dedicação desinteressada, de altruísmo, de transparência e de um verdadeiro sentido de Estado? Olhando para o nosso passado colectivo e o presente, como não ter medo do futuro?

Se, de uma forma geral, os muitos milhares de empresas privadas, todas elas geridas por gestores qualificados e tecnicamente formados e preparados, criam os preciosos empregos, como também criam as riquezas que sustentam, nomeadamente, o próprio Estado e seus respectivos e numerosos “servidores”, com os seus omnipresentes impostos directos e indirectos, multas, coimas, taxas, juros e outras imposições, porque não proceder de igual forma com os demais serviços do Estado, substituindo progressivamente os senhores ditos políticos, por profissionais qualificados, tanto na sua formação moral como técnica? O excesso de amadorismo está a asfixiar lenta e seguramente o país.

Enquanto não se tomar este tipo de medidas drásticas, para o bem de todos, os ditos senhores políticos continuarão a intensificar as suas acções de propaganda barata, invadindo, para o efeito, os canais públicos e privados de televisão, as emissoras de rádios e as redacções dos jornais diários, semanários e outros, para enganar e distrair o povo daquilo que é realmente importante. Ou seja, a prosperidade do país e respectiva qualidade de vida das suas martirizadas, manipuladas e sacrificadas populações que, com o seu suor e esforços permanentes, sustentam, contra a sua vontade, uma classe de privilegiados que perpetua, cínica e insolentemente, a sua permanência no poder, apesar de estarem comprovadas escandalosas situações de incompetência no exercício das funções atribuídas, a existência infelizmente crescente de um clima generalizado de corrupção activa e passiva, de compadrios tendentes a garantir a distribuição de altos cargos bem remunerados a elementos da mesma tendência politica, em vez de escolherem e nomearem elementos de comprovada idoneidade e inquestionável competência profissional.

Em nome de quê, estes senhores e donos, usam e abusam do luxuoso e privilegiado património arquitectónico pertença de todos, se deslocam, com motoristas particulares, em carros de luxo invariavelmente de alta cilindrada, sempre novos ou recentes, auferem vencimentos, regalias, prémios e regime de reformas diametralmente opostos aos praticados na sociedade civil, não raras vezes se posicionam acima da lei, suposta ser igual para todos?
Na verdade, estes senhores políticos, todos iguais independentemente da sua cor partidária, são os verdadeiros responsáveis directos pela visível desorganização da sociedade civil e respectivo descalabro financeiro que, gradual e inexoravelmente, empobreceu o país ao longo das últimas décadas, apesar dos muitos milhões de milhões recebidos em ajudas comunitárias. O povo, pelo seu lado, também tem a sua parte de responsabilidade, a de ter permitido, cobarde e silenciosamente, que os políticos se apoderassem de tudo e mais alguma coisa, em prejuízo desse mesmo povo, agora cansado, desacreditado, desanimado, empobrecido e endividado.

Em conclusão, se optamos por rejeitar essa bem estranha forma de Democracia e ambicionamos legar aos nossos filhos um país onde sabe bem viver, com justiça, igualdade de direitos e de oportunidades para todos, então, importa cada um tomar as suas responsabilidades, fazer uso da sua coragem, exercitar o seu sentimento de plena solidariedade e arregaçar as mangas com eficácia e determinação. Uma das formas de o povo interferir pacificamente no seu destino, é, por um lado, boicotar as eleições, único meio que legitima os políticos nos lugares do poder, e por outro, suspender, sine dia, a alimentação dos cofres do Estado e dos seus servidores, fazendo uma greve ilimitada ao pagamento de qualquer importância monetária em benefício das repartições de finanças. Não há tribunais que resistam a tamanha avalancha de processos.



























sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Crise Financeira

O verdadeiro cataclismo financeiro, que, em primeira mão, afectou grande parte das principais instituições americanas especializadas na alta finança, levanta as mais sérias dúvidas sobre os fundamentos do sistema financeiro, na sua forma actual, assim como, nos instrumentos de controlo, federais e governamentais, supostos garantir um funcionamento exemplar.

Assim, face à assustadora sucessão de falências verificada em autênticos impérios financeiros, sejam eles bancos ou seguradoras, importa reflectirmos sobre alguns pontos que parecem essenciais na compreensão dos acontecimentos, de maneira a permitir que o cidadão anónimo, também possa tirar as suas próprias conclusões :
(1) Tornou-se imprescindível para as autoridades americanas encontrarem e divulgarem publicamente as origens exactas e geradoras desta derrocada institucional, de proporções ainda desconhecidas.
(2) Informarem as populações em geral, sobre as consequências a curto, médio e longo prazo para a economia mundial, no seu conjunto, (empresas e particulares).
(3) Decidirem quais as medidas, inteligentes e duradoiras que, com caracter de urgência, deverão ser tomadas para, de um lado, tentar minimizar o mais possível o desastroso efeito dominó verificado em diversos sectores da economia americana assim como além fronteiras e por outro, criar as condições sólidas, que, garantidamente, impedirão que, no interesse geral, tais aberrações venham a repetir-se no futuro.
(4) Utilizarem todos os meios possíveis para conseguir o apuramento das responsabilidades, consequente julgamento e punição dos verdadeiros culpados, independentemente dos nomes e lugares que desempenharam na hierarquia destes impérios e instituições.
(5) Reunir o maior número de especialistas à escala mundial, para, juntos, aplicarem uma terapia, para sarar uma doença que não se limita exclusivamente à economia americana.

Curiosamente, mais uma vez, as raízes dessa gravíssima crise são americanas, como já foi o caso na bolsa de Wall Steet, Nova Iorque em 1929 e têm por origem, um país que, porventura, ocupa o primeiro lugar na economia do mundo (por enquanto), pois a China e Índia estão progredindo a passos de gigante, como também, num país que se arroga o direito de querer ser o patrão e o polícia do mundo, sem que nenhum outro consiga, nem controlá-lo, nem intimidá-lo, até hoje.

Parece evidente que a primeira causa deste cataclismo se encontra nas próprias bases do actual sistema, dito capitalista.

Sabendo que a criação, edificação, administração e controlo do referido sistema é de origem humana, importa perguntarmo-nos se o Homem terá criado essa engenharia financeira a pensar no posterior proveito próprio, ou se, por falhas do mesmo sistema, o Homem arquitectou sabiamente planos, para tirar proveito das suas falhas. (caso não sejam as duas).

Além das “falhas técnicas” que, agora, tardiamente, estão a ser investigadas pelo FBI, houve erros graves quanto ao persistente aumento das taxas de juros, que tornavam insustentável a amortização dos créditos concedidos, sem falar da ausência de critérios sérios, que permitiram conceder créditos a clientes que não ofereciam as indispensáveis garantias, por insuficiência de solvabilidade. (subprime). É claro, que a própria (FED) Reserva Federal americana, tal como as autoridades governamentais daquele país, também têm a sua enorme quota parte de responsabilidade, nas premissas da actual crise, ou melhor, deste cataclismo financeiro. Por cá, a Euribor atinge recordes de altura, ainda nunca vistos e ninguém faz nada !

Em qualquer dos casos, no coração deste sistema financeiro, existem instituições e práticas (bolsas e acções), que foram criadas a pensar exclusivamente no estranho fenómeno da especulação, capaz num curto espaço de tempo, de propiciar ganhos ou perdas de proporções incomensuráveis, sem todavia interferir de forma alguma com qualquer criação de riqueza (PIB), suposta beneficiar a sociedade em geral !

Como explicar, que pelo simples jogo de bastidores, a cargo de meros especuladores, determinadas empresas, acções ou produtos (ex: petróleo), possam vir a valorizar ou desvalorizar drasticamente no espaços de horas, sem que as referidas empresas ou produtos, tenham sofrido alterações capazes de justificar essas variações que se cifram rapidamente em milhões ?

Como explicar, que pelo jogo “sujo”, exclusivamente ditado pela ganância incontrolada e desmedida de alguns, seja possível prejudicar milhares ou milhões de pessoas, na suas qualidades de: clientes, reformados, aforradores, proprietários imobiliários, etc, etc, ao ponto de perderem parte ou tudo daquilo que tinham confiado a este sistema financeiro e para ao qual trabalharam uma vida inteira? De facto, como, tão poucos, podem arruinar tantos outros, em tão pouco tempo?

Que faltará ainda acontecer de grave, de mais grave, de dramático, de assombroso, para que, Homens dignos desse nome, venham mudar de vez as regras que sustentam aquele ultrapassado e moribundo sistema ?

Quem defende e quem irá compensar as numerosas e inocentes vítimas destes falsos financeiros, criminosos sem escrúpulos, que só ouvem os seus baixos impulsos, tremenda e limitadamente egoístas ??

Como será possível, que a existência de fraudes em tão grande escala e à luz do dia, tenham transformado as bases que sempre sustentaram estes impérios financeiros, em incríveis pés de barro que os fizeram ruir, num piscar de olhos ?

Porque razão, a história da humanidade demonstra que são sempre e eternamente as maiorias, a serem vítimas de minorias ?

A palavra final : Antes deste cataclismo, eram alguns a enriquecer por excesso de ganância e de ambições pessoais. Uma vez a bolha rebentada, são milhões a pagar a factura. Só faltava agora que os corruptos do sistema fizessem vencer a impunidade !

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Os sonhos e os pesadelos da União Europeia,

O NÃO da Irlanda ao referendo sobre o recém elaborado Tratado de Lisboa, suscita três reacções distintas, conforme a posição e a natureza de quem estiver a analisar este resultado.

1). Para alguns, nomeadamente, os que votaram pela negativa, a reacção é compreensivelmente de alegria, por terem alcançado a desejada vitória, que curiosamente, poucos saberão explicar pormenorizadamente !

2). Para os que colocaram uma cruz no SIM, no boletim de voto, fica a tristeza e a decepção de uma derrota, com sabor amargo, por terem plena consciência de que a Irlanda acabara de afogar as esperanças reunidas dos outros vinte e seis países, que, naturalmente, quiseram acreditar no sonho europeu.

3). Para os muitos milhares de cidadãos irlandeses, (a maioria deles), que optaram, “democraticamente”, por abster-se, deixando aos outros o cuidado e a responsabilidade de tentar viabilizar o que sobra de uma UE mais adoentada do que nunca, não se trata, agora, de lamentar a tristeza ou exteriorizar qualquer alegria inerente ao resultado, mas sim, com o passar do tempo, de sentir, (oxalá), um sentimento de vergonha, por terem tido a má fé e a cobardia de não dar o justo valor às verdadeiras raízes do sucesso económico de uma Irlanda, rica e confortável, que, sem os numerosos apoios dessa mesma União Europeia, permaneceria certamente na lista dos mais pobres e menos desenvolvidos da UE.

Que conclusões podemos e devemos tirar dessa consulta e deste resultado ?

- A primeira de todas, é que a Comissão europeia, suas instituições, e seu parlamento, não souberam tirar os importantes ensinamentos do histórico NÃO da Holanda e da França em 2005, na precedente consulta popular.

- A segunda, é que Portugal, o seu Primeiro Ministro e o seu governo, também não quiseram ou não souberam prever o futuro, que se encontrava comprometido desde 2005, na sequência da rejeição do primeiro Tratado.

- A terceira, é que, à boa maneira lusitana, depois do Tratado ter sido assinado pelos países convidados e participantes, numa festa tão grandiosa como dispendiosa, que teve lugar em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, com a presença dos omnipresentes médias audiovisuais de toda a Europa e do resto do mundo, lançaram-se ruidosamente os foguetes antes da festa, apesar do presidente francês, Nicolas Sarkosy, ter conseguido um acordo de última hora com os irmãos polacos que partilhavam então as rédeas do poder em Varsóvia.

- A quarta, despender grandes somas de dinheiro dos contribuintes, tendo em vista o planeamento de um cada vez mais hipotético futuro da UE, baseando-se simplesmente na conhecida capacidade dos políticos e na dos cidadãos eleitores, que nem sequer leram ou alcançaram os verdadeiros objectivos contidos no referido Tratado, prova que houve uma real ingenuidade na crença de que se podia transformar o sonho em realidade, pela simples vontade de alguns.

Continuar a partir de agora, ou, melhor, a partir da estaca zero, depois deste NÃO irlandês, com o teimoso objectivo de querer construir o que aparentemente não quer ser construído, pelo menos, nem com essa política de alargamento, nem com os actuais responsáveis políticos, será extremamente difícil, sem previamente tirar as importantes lições do passado e do presente da Europa e do mundo.

Parafraseando Winston Churchil, que afirmava que “A guerra era um assunto demasiado sério para ser confiado aos militares”, pode-se dizer, agora, depois de um terceiro país rejeitar a ideia desse Tratado (remodelado), que a política é igualmente um assunto demasiado sério e complexo, para ser confiado às populações, que por muito bem sucedidas que estejam na vida, não possuem nem a formação, nem o discernimento necessários, para se pronunciar sobre questões, que, nem os próprios políticos entendem e dominam inequivocamente.
As consequências, imediatas e futuras, desse resultado, são, em primeiro lugar, um sério revés na credibilidade da UE, perante o resto da Europa e o resto do mundo, numa altura particularmente sensível, na medida em que o poder mudou disfarçadamente de mãos no coração da poderosa e enigmática Rússia, nos USA, a casa Branca irá igualmente mudar de inquilino em Janeiro de 2009, a China persiste em querer dar lições ao mundo, sem infelizmente ser capaz de ouvir as opiniões desse mesmo mundo, a África encontra-se cada vez mais doente e esfomeada, continuando a saque, por uma dúzia de ricos e poderosos ditadores que, nem a ONU incomoda, o Irão já afirmou repetidamente que não tenciona desistir do seu sonho nuclear, os Balcãs, por muito que se diga ou que se deixe crer, ainda representam uma hipótese de destabilização que poderá alastrar-se a outras zonas do continente, o Paquistão muçulmano e nuclear, assemelha-se cada vez mais a um barril de pólvora, o inexpugnável Bem Laden, continua a monte, apesar dos poderosos e sofisticados meios americanos e não só, as forças da coligação, (bonita imagem), ao longo dos anos, continuam a afogar-se nos enlameados Afeganistão e Iraque, e o conhecido Médio Oriente, continua incansavelmente fiel a si mesmo, etc, etc...
Por isso, e em especial por tudo isso, a responsabilidade da Europa e do seu projecto de União, é cada vez maior, perante as ameaças a médio e longo prazo, que surgem vindas de todas as direcções, de todos os continentes, sem falar dos assombrosos perigos que representam os avanços incontestáveis de um Islão radical e a caminho de uma maior radicalização.

Que ninguém tenha dúvidas, de que o futuro do mundo e do nosso planeta, tem as suas maiores raízes nessa Europa pacificada e por enquanto, equilibrada. Desperdiçar o papel da Europa no mundo, deixando os seus detractores livres de agirem, é uma forma de atentado em prejuízo da humanidade, cujo futuro e bem-estar, é incomensuravelmente mais importante do que as eternas clivagens políticas, há muito e ainda ridiculamente reduzidas, entre uma demagógica esquerda e uma direita envelhecida e ultrapassada.






quinta-feira, 12 de junho de 2008

Portugal no seu melhor,

Como todos sabemos, ao longo das últimas três décadas, Portugal tem sido governado por políticos cuja esmagadora maioria, enquanto demostrava ser exímia a falar e a prometer, provava simultaneamente ser profundamente incompetente na gestão dos diversos sectores do país, nomeadamente, aqueles ligados aos aspectos de ordem económica e consequentemente, também incapazes de defender os legítimos interesses dos cidadãos que, com o seu trabalho e as suas crescentes e omnipresentes contribuições, têm sustentado os responsáveis por essa autêntica e desastrosa política de miséria, que nos envergonha a todos.
Prova dessa incapacidade, é que Portugal, apesar da “pesada herança recebida da União Europeia”, constituída por inúmeros bilhões de euros, graciosamente dados em subsídios e outras ajudas, por tudo e por nada, nunca esteve tão empobrecido e endividado, com uma produtividade tão baixa, com tanto desemprego e empregos tão precários, com tanto crédito mal parado, com tantos cheques sem cobertura, com tão pouco investimento estrangeiro, com tanta insegurança, com tanta fome, com tanta impunidade e onde o custo de vida é estranhamente superior ao da vizinha Espanha, outrora tão pobre como nós, enquanto os salários nacionais são vergonhosamente os piores da Europa.
Os únicos que parecem estar alheios a essa profunda crise de valores e de dinheiros, serão certamente os que souberam tirar proveio do chamado clientelismo político, ou seja, os que, graças a uma corrupção galopante, enriqueceram os corruptos, em cada vez maior número e os seus próprios bolsos, seguramente guardados e ou registados em off shore, de onde, nem o Estado, dito de direito, nem a sua “exemplar” Justiça, seriam bem vindos para averiguações, caso houvesse real vontade política para tal.
Curiosamente, a totalidade dos inquilinos das prisões, têm todos um ponto em comum : são todos pobres ! A principal razão que os levou para trás das grades, é certamente a inveja de ver que, enquanto uma minoria de privilegiados têm tudo e mais alguma coisa, esbanjam sem pudor a sua indecente fortuna de origem duvidosa, os outros, os que efectivamente trabalham e produzem algo, ficam reduzidos a uma posição de insignificância, onde já é moda entrar em guerra com seus semelhantes, nem que seja para disputar e apanhar as porcas migalhas que, inadvertida ou prudentemente, os ditos privilegiados deixaram cair.
Das duas uma, ou existem prisões altamente secretas para esconder ricos, poderosos e outros privilegiados, ou então, ninguém dessa gente chegou de facto a ser condenado pela “Justiça”, sendo sistematicamente ilibados dos crimes imputados, ou ainda, são felizes beneficiários das apropriadas e bem vindas prescrições, “legalmente” previstas na lei.
Enquanto tudo isso acontece, o país continua eficazmente a caminho de um ponto de empobrecimento sem retorno, encontrando-se compreensivelmente em último lugar do ranking dos vinte e sete países membros da UE.
Para ajudar à festa, os produtores de petróleo e demais especuladores sem vergonha, em comum acordo, resolveram encher ainda mais os bolsos, (que já estavam cheios), fazendo disparar o preço desta matéria prima para níveis totalmente insustentáveis para uma economia considerada normal, quanto mais para uma economia já tão debilitada, como é o caso da nossa, (e a dos políticos, também) !!!
Como se tanta desgraça junta não chegasse, os senhores camionistas, usurpando direitos e infringindo a lei, resolveram olhar para os interesses exclusivos da sua classe, bloqueando estradas de Norte a Sul do país, tornando assim reféns mais de dez milhões de portugueses, já altamente prejudicados pelo Estado e seus fieis servidores, aliás, reis e donos deste cantinho à beira-mar plantado.
É pena que estes senhores camionistas, certamente prejudicados também pelos altos preços do gasóleo, não tenham querido ver que não eram os únicos a ser vítimas da loucura dos preços, tendo em conta que os outros contribuintes, individuais ou colectivos, também suportam, à sua escala, os referidos aumentos.
Com que direito uma corporação inteira impõe a sua lei, a lei da selva, à restante população ? Será isso democracia ?
Em vez de bloquear o povo que, além de ser seu cliente, não tem culpa nenhuma do que está a acontecer, os senhores camionistas, também parte integrante desse mesmo povo, deveriam antes, bloquear as instâncias e serviços do Estado, tais como : as forças da ordem, os militares, os deputados, os ministérios e seus ministros, as finanças, as refinarias da Galp e assim sucessivamente. Dessa forma, as negociações chegariam a um consenso em poucas horas.
Entretanto, as prateleiras da distribuição vão ficando vazias ou desfalcadas, o que, além de aumentar a fome, não vai resolver nada, pelo contrário. Na melhor das hipóteses, vamos assistir a uma guerra entre a parte refém da população e os senhores camionistas, também novos reis e donos disto. E depois, o que veremos e sofreremos ainda, enquanto o governo da nação afirma não poder fazer nada em favor dos camionistas, por falta de margem de manobra !!!
O culpado disso, chama-se equilíbrio fiscal e é mais importante que o bem estar do povo !!!
Alguém, neste governo sempre arrogante e prepotente, tentou calcular os custos financeiros para o Estado das numerosas consequências da presente situação ? Será que um gesto de compreensão em favor dos senhores camionistas não sairia mais barata à nação inteira ?
Felizmente, nem tudo está mal. Encontrou-se uma nota de optimismo. Enquanto o país, sua população e seus agentes económicos já não conseguem sustentar os luxos do Estado, nem a sua própria e humilde sobrevivência, seja por excesso de inconsciência, seja por excesso de lucidez perante essa agonia nacional, assistimos, impávidos e serenos, a uma verdadeira loucura colectiva que se arrogou o direito de ajudar os senhores camionistas a bloquear o país, suspendendo qualquer actividade profissional, para prosternar-se perante o futebol e seu campeonato de qualquer coisa, outro rei e dono disto.
Haja paciência !! Haja moralidade !! Haja pudor e inteligência !! Sem essas imprescindíveis virtudes, onde iremos parar ??
É incomensuravelmente triste, para não dizer lamentável, que um país, outrora tão glorioso e bem sucedido, já não seja capaz de inspirar-se do seu honroso passado, para se conhecer melhor a si próprio, de forma a aprender e ser capaz de construir e garantir um futuro minimamente honroso para as gerações vindouras. O último a sair que feche a porta !!!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Homem, o Petróleo e o Capitalismo,

Os meios de comunicação social têm chamado a atenção do grande público sobre o facto de os ricos serem cada vez mais ricos e o pobres cada vez mais pobres e também cada vez mais numerosos.

Os recentes acontecimentos, relativos aos sucessivos aumentos do preço do barril de petróleo, demonstram, por um lado, a triste veracidade dessa notícia e por outro, revelam uma tendência para um substancial agravamento da situação. No entanto, na sequência dos referidos aumentos, surgiram situações perfeitamente anómalas, que ainda não foram explicadas por parte de quem tem obrigação moral e política de vir a terreiro prestar contas aos contribuintes.
Face a esse silêncio e para tentar clarificar a problemática desses aumentos, importa lembrar os principais factores que, à escala internacional, influenciam directamente a fixação dos preços de venda dos combustíveis ao consumidor.

- Em primeiro lugar, sabendo que foram descobertas novas e importantíssimas reservas de petróleo na África e na América Latina, afasta-se cada vez mais o espectro do próximo esgotamento das respectivas reservas. Esse factor positivo, deveria provocar a redução dos preços e não o contrário. Convém aliás reparar que graças às novas reservas encontradas ao longo dos últimos trinta anos e graças também aos novos métodos de pesquisa, de perfuração, de captação e de tratamento, o hipotético fim do petróleo beneficia de um permanente adiamento, apesar do seu consumo ter aumentado exponencialmente, durante esse mesmo período de tempo.
- Em segundo lugar, os preços de referência do barril, nas bolsas de Nova Iorque e de Londres, expressos em Dólares americanos representam normalmente mais um argumento que justificaria uma descida dos preços aos consumidores, tendo em conta que o petróleo é negociado e pago em Dólares US, que, por sua vez, viram a sua paridade com o Euro baixar sensivelmente desde o início do ano em curso.
- Em terceiro lugar, a redução do elevado grau de dependência para com o petróleo, graças ao desenvolvimento tecnológico de energias alternativas, ( Bio combustíveis, energia eólica, etc, etc ), utilizadas com sucesso na industria automóvel, assim como na distribuição energética para uso domestico e público, deveria igualmente reflectir-se numa nova redução do preço base dessa matéria prima.
- Em quarto e último lugar, as principais zonas geográficas onde existem os conhecidos conflitos armados, (Iraque, Afeganistão, Médio Oriente), registaram uma certa diminuição de intensidade e consequentemente de vítimas, o que também deveria contribuir para tranquilizar os investidores e outros especuladores e ser mais um importante factor de descida de preços.

Como os argumentos acima indicados não podem servir de bode expiatório para tentar justificar os referidos aumentos do preço de base do barril, os relatórios das bolsas de Nova Iorque e Londres, desesperadamente à procura de outras explicações, indicam que as razões da falta de estabilização dos preços e consequente subidas, têm as suas origens na ligeira deterioração da situação económica americana, provocada pelas chamadas Subprime, ou bolha imobiliária, que rebentou por culpa exclusiva dos bancos, à procura de lucros fáceis. Sendo os referidos bancos geralmente accionistas das empresas petrolíferas, ganham agora, de um lado, lucros gigantescos, que compensam evidentemente o que não conseguiram ganhar no imobiliário, do outro lado.

Na verdade, o que determina os recentes e sucessivos aumentos, não é nada mais do que uma concertada política de forte especulação, destinada a proporcionar agigantados lucros para alguns, lucros esses pura e simplesmente sustentados pelos milhões de milhões de consumidores contribuintes, que, por não se encontrarem devidamente organizados, suportam estes repetidos aumentos, à custa de muitos sacrifícios.

É de lamentar que a maioria dos políticos, em vez de defender eficazmente os soberanos interesses das populações e dos agentes económicos que juntos, sustentam o Estado e seus muitos funcionários, preferem sorrateiramente esfregar as mãos de contentes pela entrada repentina destes encaixes de receitas extraordinárias, que, certamente, irão alimentar parcialmente os invisíveis circuitos paralelos da alargada corrupção, aliás, denunciada em boa hora pelo João Cravinho, antes dele ser habilmente afastado para a Inglaterra pelo seu próprio partido.

Procedendo dessa forma, importa termos consciência de que os políticos de segunda categoria, ajudados por várias espécies de especuladores sem vergonha, estão insidiosa e perigosamente, a abalar as bases do actual sistema sócio económico, dito capitalista, que, reconhecidamente, longe de ser o sistema perfeito, tinha e ainda tem comprovadamente a virtude de ser o único que tem funcionado até agora, com mais ou menos eficácia.

Uma das provas irrefutáveis da má fé dos governantes, reside no facto que, enquanto o Estado persegue os contribuintes individuais e colectivos, por tudo e por nada, esse mesmo Estado, arroga-se um direito, aliás inconstitucional, de tributar impostos sobre outros impostos, como é o caso do IVA sobre os ISP (impostos sobre produtos petrolíferos), ou ainda, no caso do IVA sobre o IA (imposto automóvel). É caso para perguntar: Quem vigia e condena o Estado quando ele se encontra fora da lei ?
Para se sustentar a si próprio e sustentar os milhares de lugares de conveniência, o Estado continua a preferir o caminho fácil da tributação de impostos, em vez de impor e manter uma sábia contenção da despesa pública, da qual fazem parte vencimentos e regalias principescas atribuídos a um elevado número de altos funcionários.

Caso não prevaleça rapidamente o bom senso, o mundo poderá assistir a uma revolta generalizada das populações desesperadamente empobrecidas por culpa de uma minoria de privilegiados. Alguém está a brincar com o fogo, e, como diz o povo, quem brinca com o fogo acaba sempre por se queimar !!

As pessoas não podem continuar a ser espezinhadas em toda a impunidade por uma cambada de incompetentes, ainda por cima obcecados pelo poder e pelo enriquecimento pessoal.

A quando um levantamento a sério para por ordem nessa infeliz e escandalosa desordem ? Mas afinal, por onde anda o tão apregoado orgulho nacional ?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Simplex versus Incapacitex,

Numa altura em que o governo PS se orgulha do seu “Simplex”, assim como da sua “inquestionável eficácia” em todos os horizontes, importa dar a conhecer um dos muitos aspectos desta infeliz sociedade, cuja realidade crua e nua, fica longe, bem longe, das mil e uma maravilhas arrogantemente reivindicadas pelo seu responsável máximo.
Era uma vez, uma empresa animada de boas intenções...
Vamos aos factos : esta empresa, animada de boas intenções e desejosa de vender saúde, decidiu comercializar, legalmente, uma linha de Purificadores de Ar, cuja tecnologia é provavelmente a mais avançada do mundo.
Apesar dos aparelhos exibirem as Normas CE, comprovadas numa Declaração de Conformidade, o responsável da empresa, prudente e avisado, fiz questão de contactar a DGS e a ASAE, para se certificar da legalidade da operação.
Enquanto na Direcção Geral da Saúde, lhe foi dito que : “Não se podia comercializar os Purificadores de Ar, sem prévia homologação”, a resposta da ASAE surpreendeu ainda mais: “A nossa função não é informar, mas sim fiscalizar”!
Entretanto, procedeu-se a alguns contactos, junto de potenciais clientes para analisar as suas reacções. Um deles, comerciante, perguntou ao vendedor pela homologação do aparelho. Insatisfeito com a exibição das Normas e respectiva Declaração de Conformidade, o cliente optou por ligar a um dos seus amigos, (inspector da ASAE) que foi peremptório na sua opinião : “Não compre nada disso porque não está homologado”. Quando se lhe perguntou ao abrigo de que Dec. Lei ou norma, o inspector fazia tal afirmação, o silêncio foi a única resposta ! !
Entretanto, firmemente decidida a aclarar o bom fundamento de tal atitude, a empresa resolveu dar seguimento aos seus contactos junto de entidades oficiais e algumas não oficiais, perguntando-lhes : É legal comercializar em Portugal Purificadores de Ar obedecendo às Normas CE, já vendidos e utilizados em outros países da UE” ? Lista dos organismos contactados, além da DGS e da ASAE : Representação da UE em Lisboa / Comissão de Higiene e Segurança / Instituto Nacional da Propriedade Industrial / Direcção Geral das Actividades Económicas / Direcção Geral de Energia e Geologia / Instituto do Ambiente / Agência para a Energia / Comissão Coordenadora para o Desenvolvimento Regional / Instituto Português de Qualidade / Instituto Português de Acreditação / Universidade Técnica de Lisboa / Universidade Católica / Instituto Superior Técnico / Ordem dos Engenheiros / Adene / Ministério da Economia e da Inovação / Direcção Geral das Empresas / Ministério da Saúde / Direcção Geral das Instalações e Equipamentos da Saúde.
Importa referir que a maioria destes contactos, foram feito no seguimento dos conselhos dados por cada um destes organismos, sob o pretexto de que : “Nada sabiam informar relativamente a essa questão”, ou, então que : “Este assunto não é da nossa competência, é melhor o Sr. contactar ...”
Resultado, não podendo viver do ar, mesmo daquele garantido pelos Purificadores de Ar, a equipa de venda, contratada e formada para o efeito, não resistiu a três longas semanas recheadas de intensa confusão, indecisões e despesas infrutíferas e resolver abandonar antecipadamente o projecto !
Logo a seguir, ainda convicta da viabilidade das suas boas intenções, a empresa, aconselhada por uma pessoa amiga, contactou o Instituto de Soldadura e Qualidade, (ISQ), que entre outras qualificações técnicas, controla também a qualidade do ar. Depois de um engenheiro deste organismo ter verificado os aparelhos e a respectiva documentação, o mesmo garantiu categoricamente a plena legalidade do projecto, legalidade essa, que ficará oficializada por um Certificado, entretanto requisitado pela empresa ao próprio ISQ, para que não haja mais dúvidas.
Entretanto, considerando tratar-se de aparelhos cujos benefícios revertem em favor da saúde da população e consequentemente em favor das finanças públicas, que com mais saúde gastam muito menos, foi questionado o departamento da Concepção do IVA com a finalidade de atribuir aos referidos aparelhos uma taxa de IVA bonificada. A resposta foi curta e simples : “Tal não é possível por falta de enquadramento” !!
É caso para perguntarmos se o Estado não estará minimamente interessado em melhorar a saúde das populações !!
Que conclusões podem ser retiradas desta caricata aventura ? Que país é este, onde ninguém, (pago para saber), sabe responder com precisão e inteligência, preferindo sacudir a água do capote ? Onde está o orgulho pessoal e profissional desta gente ? Como melhorar o já complicado presente e construir o futuro risonho com tanta leviandade e irresponsabilidade ? Será que foi com tais atitudes e comportamentos que se ergueu o sempre falado orgulho nacional ?
Coitado do pobre Luís Vaz de Camões que deve dar saltos e sobressaltos nos seu túmulo dos Jerónimos !
Visto por outro angulo, mas afinal, onde está o retorno dos inúmeros investimentos feitos à custa dos incessantes e multi-milionários subsídios vindo da UE, desde a sua adesão ao clube dos ricos em 1986 ? Quem de direito, explica e justifica tanta incompetência junta ? Será que parte desse muito dinheiro caiu “milagrosamente” em mãos alheias ?
Algo de profundamente errado se encontra alojado no ensino em geral, na formação profissional, na chefia desta gente, por não saber explicar, gerir e controlar, etc...
De uma certa forma, tal realidade nua e crua, por muito que custe aceitar e acreditar, equivale a ser um verdadeiro insulto para os cidadãos que “sofrem” de honestidade e de respeitabilidade para com as regras estabelecidas e que sustentam com seus impostos os referidos organismos.
Apetece mesmo...

terça-feira, 22 de abril de 2008

A vida, este milagre da mãe natureza,

A vida, tal qual a conhecemos, pode naturalmente ser interpretada de formas diferentes e que variam, consoante ouvimos as explicações de um antropólogo, um químico, um religioso, um militar, uma cidadão comum, um poeta, ou ainda um criminoso.
Cada um tem, de acordo com a sua ascendência, cultura, crença e fé, ou modo de vida, uma opinião formada sobre as origens desta vida, as razões e os porquê da sua existência e finalidade na Terra, assim como no Cosmos.
Todavia a maioria, senão mesmo a unanimidade dos que estiverem interessados em analisar tão empolgante tema, deverão estar de acordo, quando se diz que a vida aparece envolta em mistérios e complexidade, aos olhos de quem se esforça para entendê-la, como poderá parecer simples e fácil, na óptica de quem se limita apenas e tão só a alinhar os dias que vive, uns atrás dos outros.
No entanto, haverá certamente para ambos, um sentimento comum de deslumbramento perante a própria existência da vida, o que ela proporciona ao Homem, de bom, de útil, como de enigmático, mas cujo encanto ajuda a ultrapassar os referidos conceitos de complexidade e de simplicidade.
Por ter sido abençoada pelo seu carácter, tão único como insubstituível, essa vida que recebemos e vivemos, merece justificadamente, da parte de todos, além de uma natural admiração e um incondicional respeito, a firme obrigação e o dever de ser embelezada, quanto mais melhor, para que a mesma, por sua vez, venha embelezar o Homem e torná-lo realmente feliz.
A vida, este milagre da mãe natureza, tem nas suas múltiplas e por vezes estranhas formas de representação, um ponto comum que une equitativamente todas elas. Independentemente da sua natureza e da sua finalidade, cada uma tem, sem excepções, um nascimento, um desenvolvimento e um fim. Uma indesmentível justiça que coloca todas as espécies vivas num terreno de perfeita igualdade, para a satisfação de uns e o compreensível desagrado ou indiferença de outros.
O que separa as visões individuais de uns e interpretações diversas de outros, relativamente a essa noção de justiça, resume-se afinal a uma mera questão de filosofia e de sensibilidade pessoal de cada um.
Esta verdade, não se reduz à limitada individualidade do SER e dos seus caprichos, ela é a própria essência do carácter intrínseco da vida, na sua dimensão universal.
Se tivermos consciência da verdadeira insignificância da Terra e do Homem, quando confrontados com a incomensurável e desconhecida dimensão do Cosmos, dificilmente conseguimos entender a permanente postura de arrogância e de agressividade a que o Homem tem recurso, para melhor se afirmar perante si, como também e sobretudo perante os outros.
A espécie humana, sendo apenas mais uma forma de vida, no meio de tantos milhões de outras espécies, deveria ter abnegação e percepção suficientes, que lhe permitissem reconhecer e aceitar essa sua autêntica insignificância, para poder colocar-se finalmente no seu exacto e devido lugar, ao lado das outras espécies, numa posição de justificada igualdade e irmandade, em vez de se confinar a uma permanente e lamentável atitude de cobarde superioridade, de onde extraí um poder absolutista de vida e de morte sobre elas, incluindo sobre a o seu semelhante, exemplar da mesmíssima espécie.
Curiosamente, na extensa diversidade das formas de vida criadas pela mãe natureza, algumas delas extraem, da inelutável morte de outras espécies, o indispensável sustento que lhes garante a continuação da sua própria vida.
Até prova em contrário, parece que a espécie humana não se encontra inserida nessa estranha programação natural. Podemos todavia fazer votos, enquanto se mantém inalterada essa programação, para que, o próprio Homem, este SER permanentemente atarefado em tudo reformular, nunca consiga alterar a presente situação de equilíbrio.
Por outro lado, embora pareça uma incongruência, dificilmente se pode falar da vida, sem falar da morte, mesmo compreendendo e aceitando o medo natural que a morte inspira ao comum dos mortais ! Medo, principalmente por duas razões :
A primeira, devido ao facto que a morte significa inelutavelmente, o fim, derradeiro e definitivo da vida, salvo provas irrefutáveis em contrário.
A segunda, porque, apesar da promessa teológica da imortalidade da alma dos crentes, o Homem, este animal inteligente que se orgulha de saber, entender e dominar tudo, ou quase, desconhece por inteiro, se por detrás dessa morte, existirá, ou não, uma certa forma de continuação da existência da entidade humana.
Podemos até admitir que, os que já faleceram e que aqui saudamos carinhosamente, soubessem responder a tão animada e legítima especulação, com factos e argumentos. O problema, é que tanto quanto se sabe, uma vez aberta a porta da mansão da morte e fechada essa mesma porta logo após a nossa passagem para o além, não se conhecem provas circunstanciais de um potencial ou hipotético regresso ao mundos dos vivos ! A vida é assim mesmo !
O peso consequente de tal consideração, tem que ter pelo menos uma arrebatadora virtude, a de incitar e convencer o Homem, a cuidar conveniente e qualitativamente da sua postura de SER, enquanto albergar e desfrutar da vida e dos seus incontornáveis prazeres, que a mãe natureza generosamente lhe deu.
A vida, por muito extraordinária e encantadora que seja, é, e sempre será, uma dadiva temporária, o infinitamente mais precioso presente que o Homem poderia sonhar receber. Por isso, e só por isso, a vida merece ser vivida, encaminhada e acarinhada com muito amor e com muito respeito, de todos. Eis um humilde apelo.
Saibamos estar orgulhosamente à altura desta oferta, única, em Honra da natureza e em Honra da própria vida, também única e passageira...