quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Falando de remodelação

Já sabemos por experiência, que haverá sempre mais pessoas a criticar que a aprovar as medidas governamentais, sejam elas quais forem. Faz parte da natureza humana, de acordo com o famoso ditado que sempre reconheceu que: “A critica é fácil, mas a arte é difícil”. Seja como for, terá sido necessário remodelar, nomeadamente o ministro da Saúde, para que pessoas anónimas, através de numa emissão de televisão dedicada à opinião pública, venham humildemente dizer, com factos e argumentos, que o trabalho desenvolvido pelo agora ex-ministro tinha sido louvável e merecedor de respeito. Uma coisa é certa, aquele responsável governamental mexeu em muitas coisas num relativamente curto espaço de tempo, mexeu em muitos interesses instalados, assim como teve a coragem e a frontalidade de a dar a cara às suas constantes e numerosas mudanças no SNS. È claro que não se pode permanentemente exigir, à boca cheia, um Estado mais moderno, mais eficaz e menos gastador e rejeitar simultaneamente qualquer ideia de mudança, por muito que elas custam. O povo sabe que sem ovos não se fazem omeletas ! Portanto, importa dizer que, se o ex-ministro da Saúde não pecou por defeito, ou por incapacidade e ainda menos por loucura e irresponsabilidade, a verdadeira falha existente na aplicação das muito faladas mudanças, terá sido ao nível da profunda falta de comunicação entre governantes e governados. Não será por acaso que existe no nosso sistema de ensino, uma imprescindível ciência intitulada: pedagogia. Não basta de facto explicar convenientemente uma matéria, importa antes de mais, explicar antecipadamente a sua utilidade e consequência futuras. Quando um governo, em geral e seu primeiro ministro em particular, cultivam exaustivamente o exercício de uma política da permanente arrogância, quando não de autêntico autismo, agindo como se fossem reis e donos da razão e do país, é natural e compreensível que já não haja espaço para o recurso à acima referenciada pedagogia.
Da mesma forma que um governo, legitimado pelo voto popular, não pode esquecer-se ou furtar-se a explicar, como, quando, porquê e de que forma vai empreender novas medidas, o povo também tem de saber exigir, junto desse mesmo governo, satisfações concretas sobre a aplicação do seu dinheiro, arrecadado através de uma exigente política fiscal e cujo crescente montante de impostos cobrados, é porventura cada vez mais inversamente proporcional à qualidade de vida dos cidadãos e seu já debilitado poder de compra.

O que vale para o agora ex-ministro da Saúde, em termos de gritante falta de pedagogia, condição sine qua non para se obter um sempre desejável consenso que, no caso presente, não terá existido, também vale para outros responsáveis governamentais, tais como por exemplo, a ministra da Educação, o ministro das Obras Públicas, e o ministro da Economia, cujas políticas aplicadas pelos respectivos ministérios são sujeitas a constantes e crescentes criticas, que, consoante a opinião popular e a de especialistas de reconhecida capacidade, parecem amplamente justificadas.

Mais uma vez, convém realçar que estamos todos confrontados com um gigantesco equívoco, representado pelo verdadeiro ataque ao poder, ao qual se entrega a esmagadora maioria dos actuais políticos.

Se, antigamente, os servidores do Estado se caracterizavam pela nobreza da causa pública que abraçavam com corpo e alma, tendo por orgulho, a digna missão de estar ao serviço das populações e do país, hoje em dia, as motivações que justificam a atracção pela actual política, são de uma ordem tão diferente que, a outrora nobreza e o invejável orgulho da profissão, foram sendo ultrapassados e substituídos por outros atractivos bem conhecidos, tais como: proximidade com o dinheiro fácil, tendo em vista um melhor e mais rápido enriquecimento pessoal, agravado pela irresistível atracção e magia do poder em si, cujos aspectos já foram aqui relatados num precedente artigo de opinião sob o insuspeito título: A ebriedade do poder.

Alguém disse Corrupção ?


Pela louvável e corajosa iniciativa do recém empossado Bastonário da Ordem dos Advogados, Dr. António Marinho, o fantasma da corrupção voltou a estar na ordem do dia, para regozijo de alguns e incómodo de outros. Os que podem sentir-se satisfeitos pelo regresso do já reaquecido tema, são precisamente aqueles que têm alguma vergonha na cara, mas que, por não terem o necessário poder entre mãos para agirem eficientemente, se sentem impotentes perante esta calamitosa situação. Quanto aos que se sentem incomodados pelo regresso deste tema à praça pública, são evidentemente todos aqueles que estão implicados nesta gigantesca teia de partilha de interesses pessoais e colectivos e que estão conscientes e receosos de que a hora da verdade acabe um dia por soar mais alto. O que não deixa todavia de ser bastante elucidativo e constrangedor nesta fase da reintrodução deste tão malcheiroso assunto, é o ar e a linguagem verdadeiramente ofendidos de alguns que, por enquanto, se limitam a tentar descreditar a figura e a pessoa do Bastonário Marinho, dizendo que quem acusa sem citar nomes e factos concretos, não pode ser levado a sério, deixando mesmo no ar, uma pseudo ameaça de queixa por difamação. Ora, como diz o povo, quem não deve não teme. Portanto, no meu humilde entender, qualquer cidadão, seja ele anónimo ou a fortiori, ligado ao poder político, deveria logicamente sentir-se satisfeito por poder participar activamente na luta contra este maldito cancro das sociedades modernas, pela simples razão de que as gravíssimas consequências da corrupção tocam a cada um de nós, sem excepções. Salvo erro, desde o 25 de Abril de 1974, nunca ninguém investido de poderes legais e representativos para tal, teve a coragem e a lucidez suficientes para criticar tão dura e abertamente, com dados e factos concretos, a nossa real e pouca honrada situação da justiça. Pouca honrada pelo simples facto de que, por exemplo, com um tão elevado número de situações de obras públicas, sujeitos ou não a concurso, em que o valor orçamentado fica inequivocamente multiplicado pelo dobro, triplo ou ainda mais, como foi efectivamente o caso da famigerada “Casa da Música” na cidade invicta, nunca haja rigorosamente ninguém levado à barra do tribunal e ainda menos condenado e preso por corrupção activa, com obrigação de repor, em favor do tesouro público, as verbas ilegalmente arrecadadas. Temos portanto que chegar a um consenso: se houvesse de facto no país, uma justiça diferente da actual, mais célere, mais eficiente e sobretudo mais independente, nunca poderiam existir as gritantes e vergonhosas situações de total impunidade, a que todo um povo infelizmente impotente assiste. Uma das maiores provas de que o tema da corrupção é desconfortável e altamente perigoso para alguns, (leia-se muitos) encontra-se no afastamento apressado do conhecido deputado e antigo ministro das obras públicas do PS, João Cravinho, que quis publicamente fazer da problemática situação da corrupção, o seu principal cavalo de batalha. O todo poderoso governo, apoiado pelo partido que o sustenta, o próprio PS, decidiu transferir de imediato o dito deputado para Londres, ou seja, longe, bem longe da cena política nacional. Palavras para quê ?
Agora uma coisa é certa, sabendo-se que quando ferido, um animal se torna muito mais perigoso, todos os cuidados serão poucos para o Sr. Bastonário, a partir de agora, até ao fim do seu mandato e certamente depois, por além de tudo isso, ter afirmado, com a devida solenidade, que “a justiça tem sido forte contra os fracos e fraca contra os fortes”. Todos aqueles que, a custo de repetidas e proveitosas atitudes corruptas, se enriqueceram pessoal e desmedidamente, não irão de ânimo leve pôr em risco essa acumulação de privilégios e de riqueza ilícita, nem um nome que ainda permaneça intocado.
O apelo da Procuradora geral adjunta, Dra Maria José Morgado, para que o grande público venha denunciar abertamente os conhecimentos e/ou provas de tais procedimentos, poderia de facto ser extremamente eficaz e perigoso para os muitos implicados, se a Justiça, no seu conjunto, tivesse verdadeiramente o poder nas suas mãos para poder julgar em plena liberdade e imparcialidade.

Mais uma vez, encontramos um assunto, em que, por um lado, a já lendária indolência de um povo e por outro, a sua lamentável não implicação directa nos assuntos que a todos dizem respeito, favorece inexoravelmente a existência destas aberrantes ilegalidades e a não menos escandalosa situação de total impunidade que salvaguarda o “bom nome” e interesses dos muitos prevaricadores. Se e quando um povo quer de facto viver numa verdadeira democracia, ninguém no seu lugar poderá fazer e empreender o que só a ele realmente compete: Agir.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

A surpreendente e misteriosa força da Nacionalidade

Como se sabe, quando nascemos, é-nos atribuído, com carácter legal e sistemático, salvo excepções, a nacionalidade do país onde ocorre o referido acontecimento.
Ou seja, não há lugar para uma eventual preferência nossa, qualquer escolha, ou qualquer outra forma de expressão de vontade própria. Portanto, quem nasce, por exemplo em Portugal, para já, é português. Ponto final.
Continuando nos meandros dessa casualidade, também não somos, nem tidos nem achados, quanto à escolha dos nossos progenitores, nem intervimos em nada no processo selectivo dos nossos genes, que determinam tanto o nosso lado físico, como por exemplo a cor da pele, como o nosso lado intelectual, que incluí nomeadamente o nosso Q.I. Tendo essa realidade em consideração, não deveríamos, à partida, sentirmo-nos particularmente orgulhosos de nascermos: “gregos ou troianos”, por decreto ! Porque é bem de lei e de legalidade que se trata neste caso !
Uma vez consumada a atribuição dessa nacionalidade, vamos ter de viver com ela, normalmente até ao fim. Agora, existem de facto várias maneiras de sentir e exteriorizar essa nacionalidade ao longo do tempo e de acordo com as circunstâncias. Podemos encontrar diversas formas de viver essa realidade, meramente administrativa, com mais ou menos intensidade, racionalidade e/ou mais ou menos apego, que vai da assimilação silenciosa, à demonstração de um certo orgulho de ser “grego ou troiano”, até ao nacionalismo dito exacerbado, que incorpora habitualmente motivos e ingredientes, capazes de levar a desacatos, violência, violência extrema, guerra e crime puro e simples, quando não genocídio. A nossa história colectiva está repleta de exemplos que corroboram essa dura realidade. Também há formas individuais e colectivas de provar e exibir este orgulho oscilante de nacionalidade, consoante se trate de defender uma bandeira, no sentido militar do termo, ou preferir e incentivar uma equipa desportiva, face a um adversário internacional, cuja nacionalidade difere forçosamente da nossa.
No decorrer do famigerado europeu de futebol de 2004 que teve lugar em Portugal, a esmagadora maioria dos portugueses, atendeu ao especial e invulgar pedido proferido pelo seleccionador nacional (embora sendo ele estrangeiro, porque brasileiro), colocando bandeiras portuguesas nas janelas e varandas das casas de todo o país, de Norte a Sul. Embora essa grandiosa exibição nacional se tenha revelado, antes do mais, profundamente pacífica, serviu para exacerbar espantosamente um orgulho que se encontrava, há que tempo, adormecido na mente e nos corações dos portugueses. Como toda a gente se lembra, essa inusitada euforia foi crescendo, na medida em que a equipa das quinas eliminava um a um os seus adversários, até se alinhar no relvado para disputar uma esperada e mais do que ambicionada final. Talvez e compreensivelmente por se ter desejado, ambicionado e desmedidamente sonhado numa vitória que só podia obviamente ser dos “tugas”, enorme foi a decepção e infinitamente maior foi a tristeza dos nacionais, quando o sonho abortou, precisamente no momento em que soou o apito final que consagrava a vitoria do nosso adversário, sem apelo nem agravo. Pior ainda, foi o depois, quando todos os que desejaram, sonharam e ambicionaram essa vitória, se sentiram novamente reduzidos à sua real e anterior dimensão, de onde só nas páginas que compõem os livros de História, encontramos datas, factos e lugares, que ajudaram a dar lugar ao conhecido orgulho nacional.
Importa agora analisar friamente e sem preconceitos o que poderá justificar, ou não, se for o caso, as premissas deste orgulho, pedra basilar do já referido nacionalismo. Se, de facto, não interviemos minimamente no percurso e na composição da nossa História colectiva, na escolha dos nossos progenitores, dos nossos genes, nem tão pouco no nome da terra que nos viu nascer, podemos então questionarmo-nos sobre as verdadeiras razões que nos levam a sentir e exteriorizar implicitamente uma inquestionável vaidade e uma reforçada altivez, quanto ao amor de uma bandeira nacional, que por vezes chegam mesmo, aliás, a ultrapassar os limites da “razoabilidade” e do comedimento.
Finalmente, parece que nos sentimos única e simplesmente orgulhosos do que os outros fizeram, ou seja da obra feita pelos nossos predecessores e outros contemporâneos. Não temos decididamente nada nosso, que seja susceptível de suscitar legitimamente um orgulho de âmbito nacional.
Muito curiosamente, enquanto evidenciamos, ruidosamente ou não, o nosso próprio orgulho do país em questão, sua respectiva bandeira e demais índices inerentes, com uma tendência agravada para colocar o todo num egocentrismo que queremos tão óbvio como lógico, somos raramente capazes de ver, entender e aceitar que um qualquer habitante, de qualquer outro país/nação, um portador de uma qualquer bandeira, possam, com a mesma igualdade de direito e plena legitimidade, reivindicar igual pretensão, igual orgulho, igual vaidade ou altivez. Daí os ocasionais incentivos aos desacatos físicos entre facções que, muitas vezes, de simples rivais e adversárias, passam a assimilar-se ao papel do “perfeitos” inimigos!!
Se, para concluir, somos todos iguais no aspecto da legitimidade do nosso orgulho, por possuirmos razões idênticas a qualquer outro estrangeiro, ou seja, igualmente idênticas a todos os homens e mulheres que compõem as populações dos numerosos países, qual será em definitivo o fundamento desse surpreendente e bem estranho nacionalismo, cujas consequências são infelizmente para todos nós, mais frequentemente negativas que positivas ??? Pela minha parte, só posso lamentar sentir-me isolado neste raciocínio.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Quando a verdade dói

A caminho do trigésimo quarto aniversário da revolta dos capitães de Abril de 1974, (pomposamente apelidada de revolução dos cravos), importa necessariamente fazer um balanço, isento de partidarismos, sobre o longo caminho percorrido desde aquela data, realçando e agradecendo o bom que foi introduzido, no país e na sociedade, sem nunca perder a coragem e a frontalidade de criticar veementemente todo o mal e o muito mal que debilitou, ontem e hoje, a nação portuguesa e a sua população.

Vejamos o lado bom: Portugal deixou de ser um país politicamente isolado, para transformar-se, no ano de 1986, em mais um Estado membro do (até ontem) reservado clube da UE, com direito a numerosas ajudas comunitárias ($$$$$), que totalizam hoje uma soma de dinheiro literalmente colossal (e de que ninguém fala !). Com parte dessas verbas, construíram-se algumas escolas, hospitais, estradas e auto-estradas e pouco mais. Distribuíram-se determinados subsídios a fundo perdido, onde filhos e enteados lutaram em desigualdade de circunstâncias para receberem uma “fatia do bolo”. No mesmo período, adquiriram-se frotas inteiras de viaturas (de luxo) ao serviço da máquina administrativa do Estado e seus demais organismos tentaculares e respectivos responsáveis, (com sabor a clientelismo). Nasceram diversos bancos, autênticos campeões de enriquecimento rápido e altamente consequente. Mandaram-se construir por todo o país (e não só), luxuosas vivendas e sumptuosas propriedades (que nem sempre o povo vê), criaram-se sociedade e contas bancárias “off shore”, ou paraísos fiscais (para quem pode) e mais algumas coisas do género. É caso para perguntarmos onde andará o remanescente dessa soma colossal de dinheiro. Alguém tem ideia ??? Alguém prestou contas ???

Vejamos agora o outro lado: O lado menos bom. Portugal deixou de ser um país rico (não se lembram da “pesada herança”?) que somava aproximadamente 970 toneladas de ouro, acrescidas das importantíssimas reservas financeiras, para se transformar, (já com grande parte do seu ouro derretido, não se sabe bem como), num país endividado até às duas próximas gerações (pelo menos), e cuja população também se encontra credora de tudo e todos, (ninguém sabe até quando), o que não impede a proliferação de empresas de crédito imediato com simples consulta telefónica e com a cumplicidade do Estado. Curiosamente, ou não, o exuberante enriquecimento dos bancos, encontra-se inversamente proporcional ao empobrecimento agravado da população. O insuspeito INE indicou haver quase 20% da população a viver num estado muito próximo da pobreza (menos que 365 euros por mês). Exceptuando os prédio novos, propriedades das numerosas multinacionais que chegaram em força (quase sempre com ajudas chorudas), e tantos outros, onde estão instalados departamentos do Estado, encontramos de Norte a Sul do país, milhares de carcassas de casas destruídas, embargadas ou inacabadas, prédios e casas desabitados e/ou em ruína, até mesmo nas avenidas mais emblemáticas do país! Paralelamente a estes imóveis supostamente residenciais, encontramos de lés a lés e também por milhares, antigas fábricas e outros edifícios que outrora albergavam inúmeras empresas e seus respectivos empregados. Consequência directa, os desempregados e os excluídos da sociedade de consumo, somam mais de meio milhão de pessoas que ficam entregues à sua sorte. Assistimos à desertificação das zonas rurais e ao envelhecimento das suas populações, (no resto do país, também). Está definitivamente declarada a morte a prazo do que ainda sobra da indústria pesqueira e conserveira nacional, como já foi infelizmente o caso da marinha mercante portuguesa. As ruas citadinas e respectivos passeios de calçada portuguesa, as estradas nacionais e secundárias, encontram-se vergonhosa e perigosamente esburacadas e com graves deficiências de sinalização vertical e horizontal. Já repararam que as tampas de esgotos nunca estão ao nível do alcatrão ? (coisas que lá fora raramente acontece!). A maior parte dos pisos da modesta rede de auto-estradas, (cuja portagens são pagas a peso de ouro pelos seus utilizadores) deixam muito a desejar. Aliás, hoje em dia, gasta-se mais com o valor da portagem do que com o próprio combustível. Muitas pontes rodoviárias sobre rios, encontram-se em mau estado de manutenção, colocando fatalmente em risco a vida dos automobilistas e respectivos ocupantes (quem não se lembra da incomensurável tragédia de Entre-os-Rios, que ceifou a vida de cinquenta e nove pessoas e enlutou ainda muitas mais?). Quem entende e aceita o aparecimento de uma emigração massiva e de legalidade duvidosa, vinda de além mar ou do leste europeu e o aumento drástico do número de sem abrigos que já ninguém vê, seja por vergonha, por incapacidade de prestar qualquer ajuda ou ainda por falta de tempo ? Quem sabe verdadeiramente qual a situação real quanto à proliferação das diversas drogas e a dos drogados (aliás cada vez mais jovens), das bebedeiras colectivas da actual juventude, da sua postura perante o sexo, a sexualidade e as DST (doenças sexualmente transmissíveis)? Quem, nos adultos em geral e nos pais em particular, tem realmente consciência da demonstração gratuita de violência presente 24 horas por dia na Internet ? Comparem os índices de criminalidade leve e agravada dos últimos dez / vinte anos que são verdadeiramente assustadores !! Durante esses dez / vinte anos, quantos morreram ou ficaram marcados para o resto da vida nas estradas portuguesas, onde cada condutor tem natural e sistematicamente a arrogância de atribuir a si próprio uma “razão” que raramente tem, enquanto dirige os seus baixos insultos e outros gestos obscenos aos outros condutores ? Basta sentar um português atrás de um volante, para o transformar num verdadeiro e perigoso rei e dono absoluto do asfalto e da prioridade ! (isso, sem falar dos táxis e seus motoristas, supostamente profissionais). Sobre a vergonhosa problemática do alastramento da corrupção, activa e passiva, assim como da inexplicável impunidade dos seus autores, qual a conclusão que se pode tirar ? Certamente a mesma relativamente à extrema lentidão da justiça, que, além do tempo anormalmente longo para pronunciar uma sentença e do consequente desespero dos muitos queixosos, nem sempre é capaz de honrar o ambicionado sentido de justiça para o qual foi criada.
Quem consegue entender que o Estado seja prioritário para receber os dinheiros ditos públicos, quando ele é o pior dos pagadores? Quem consegue entender que o Estado tenha ao seu dispor todos os meios e mais alguns para cobrar o que se lhe deve e não seja minimamente capaz de disciplinar o mercado, a bem da saúde financeira dos agentes económicos, que vendem bens e serviços a uma clientela que honra cada vez menos os seus compromissos e, verdade seja dita, num clima de total impunidade?
Como aceitar que, consequentemente, Portugal seja considerado nos mercados internacionais como sendo um país de alto risco e de pouca credibilidade, sem que quem de direito, faça alguma coisa para contrariar tal vergonhosa situação ?
Como entender que determinados empresários estrangeiros instalados neste país, tal como as lojas chinesas, entre outras, possam beneficiar de vantagens fiscais que os jovens empresários nacionais não possam legalmente usufruir ?
Porque se aceita pacificamente o facto de que os ricos (grupos e indivíduos), sejam cada vez mais ricos e poderosos, enquanto no mesmo espaço de tempo, a esmagadora maioria da população empobrece e se endivida a olhos vistos, passando cada vez mais por dificuldades sérias e inéditas ?
Como se explica que haja pessoas a morrer regularmente na sequência da incompreensível remodelação operada no campo da saúde, sem que as reclamações de familiares e amigos passem de meros lamentos de rua e não se vislumbre sequer uma resposta adequada pelas respectivas autoridades do sector ?
Como entender que as leis portuguesas sejam maioritariamente redigidas de forma a permitir interpretações diferentes, quando não opostas, consoante se trate da actuação da defesa ou do Ministério Público?
Porque razão, aos cidadãos anónimos, é legalmente exigida, uma responsabilidade civil e criminal dos seus actos, nomeadamente profissional, além de responderem perante as suas legítimas chefias sobre o resultado da sua actuação laboral e não existe incompreensivelmente idêntica obrigação para com a classe política, sejam eles chefes de gabinete, secretários de Estado e ministros, entre outros individualidades, inequivocamente responsáveis pelo estado, no mínimo calamitoso, em que o país se encontra ?
Como entender que o nível de vida, (o visível e o invisível) dos políticos em geral, seja claramente superior ao da média nacional dos particulares e o mesmo seja conseguido num prazo de tempo normalmente bastante mais curto do que o do comum dos mortais, quando consegue lá chegar ?

A primeira razão de todos esses males e injustiças, é curiosa e infelizmente simples e está ao alcance da compreensão de todos. Salvo raras excepções, nestes tais trinta e quatro anos, este país tem sido sucessivamente governado por pessoas que sempre colocaram os interesses partidários e particulares, muito acima dos interesses nacionais e cuja capacidade real em governar pode questionar-se com toda a legitimidade. Para agravar ainda mais este já triste panorama, o povo (dito soberano), tem ainda que suportar, além do incumprimento das numerosas promessas feitas, uma insuportável e desmedida arrogância dos ditos governantes e constatar, (quando pode), que se não sabem ou não querem governar de uma forma politicamente correcta os assuntos do país, sabem todavia governar eficazmente no domínio privado dos seus interesses pessoais, mormente os de âmbito financeiro e patrimonial. Mas nem tudo vai mal nesta casta particular dos profissionais da política, pois, todos eles, sem excepção, sabem e não se coíbem, há mais de trinta anos, de pedir e/ou exigir eternos e crescentes sacrifícios a uma população cansada, descrente, empobrecida e surpreendentemente pessimista quanto ao seu futuro a médio e curto prazo. Por muito que a população consiga apertar cada vez mais o cinto, sofrendo na pele o peso dos constantes sacrifícios impostos, mais periclitante ainda se torna o estado da nação ! Mas afinal, por onde vai toda a criação de riqueza penosamente conseguida ao longo destes mesmos trinta e quatro anos, por esta mais do que obediente população ?

A segunda razão de todos esses males e injustiças, é a forma demasiadamente fatalista e pacifica de todo um povo que, enquanto verifica e sofre na pele e na carteira as consequências crescentes de uma governação fantasista, ineficaz e altamente instrumentalizada pelos numerosos e implacáveis grupos de influências, limita-se apenas e tão somente a reclamar timidamente e/ou a mandar bocas “foleiras”, em vez de utilizar uma razoável listagem de meios eficazes ao seu dispor, capazes de pressionar e obrigar eficazmente o poder na sua forma autista e egoísta para gerir eficientemente esta sacrificada nação, mas agora e finalmente, em prol dos actuais penalizados contribuintes.
É claro que ninguém está aqui a apelar, de uma forma generalizada, ao boicote fiscal, incondicional da população, na sua qualidade de contribuinte, seja em termos de impostos, directos e indirectos, de juros, de coimas, de multas diversas e outros regalias que alimentam sempre e incansavelmente os insaciáveis cofres do Estado.
Mas uma coisa é certa, se essa mesma população escolher persistir nesta sua actual postura, tão patética como pateta e irresponsável, deverá então preparar-se para pagar ainda mais caro uma crise fomentada e alimentada por aqueles que tiram, vergonhosa e tranquilamente proveito da mesma, em detrimento dos que a sustentam de uma forma, aliás, algo indolente, para não dizer masoquista !

A terceira e última razão desses males e injustiças flagrantes, tem a sua origem no facto de que, com o decorrer do tempo, a população confiante nos seus outrora humildes e dedicados servidores, deixou os mesmos transformarem-se em grupos de interesses pessoais e colectivos, que posteriormente se auto denominaram: partidos políticos. Para transmitir uma imagem de coerência, separaram habilmente os referidos grupos em tendências e cores políticas diferentes, dando assim origem às conhecidas e variadas facções que compõem a representação parlamentar, apoiada e supostamente legitimada por um eleitorado, também diversificado, onde encontramos nomeadamente: Esquerda e estrema Esquerda, Direita e extrema Direita, centro Esquerda, centro Direita, liberais, socio-democratas, verdes, monárquicos, democratas cristãos, e finalmente alguns independentes, no meio de tantos outros.
Resumidamente : Esquerda e Direita. Resumidamente e de uma forma ainda mais sintética : Políticos.

Esta máquina infernal, está tão bem arquitectada e montada, que já se aguenta há muito tempo e se nada for feito e empreendido com inteligência, seriedade e perseverança, esta farsa irá perpetuar-se até ao infinito, ou então, pelo menos, até ao dia em que desaparecerá, por completa, totalmente exangue, a actual cambada de contribuintes patetas e patéticos que, em desespero de causa, insiste penosa e estupidamente em alimentar os insaciáveis apetites dos agora orgulhosos, pedantes e eternamente gulosos servidores do Estado. Parece que o lendária Papão ainda estará bem presente e eficaz entre nós !!

Confesso que não entendo tamanha demonstração de tanta ingenuidade, vinda de um povo que na sua história gloriosa, soube eficazmente lutar pela defesa da sua soberania e dos seus direitos. Até dói saber tudo isso e ainda mais, quando assistimos a uma autêntica e generalizada letargia popular que se limita a observar e sofrer sem reagir apesar de ter legitimidade para tal.
Como diz o sábio povo : Pode-se enganar muito gente durante muito tempo, mas nunca toda a gente o tempo todo. Ninguém pode duvidar que o verdadeiro futuro passa pela implantação de mudanças tão profundas como radicais. Mãos à obra.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Reaprender a ver e a sentir a Beleza

Na balbúrdia da incessante azáfama diária que caracteriza normalmente a ocupação do nosso tempo, entre o árduo levantar e o abençoado deitar, não sobra praticamente nenhum espaço suficiente para olharmos atentamente à nossa volta, para reparar, descobrir e apreciar uma imensidade de coisas bonitas e agradáveis que nos rodeiam.

Um dos males invisíveis que caracterizam a nossa actual e estranha forma de civilização, é, nomeadamente, a infindável falta de tempo que condiciona negativamente a nossa agenda, o que implica vivermos permanentemente com excesso de velocidade, onde a superficialidade do olhar e do pensamento se tornam inimigas de uma ambicionada e aprazível qualidade de vida.
Aquando da longínqua criação do nosso universo, na sequência de um inimaginável e estrondoso big bang, os átomos recém formados juntaram-se aos milhões e, com o passar dos muitos milénios e séculos, conseguiram criar, muito além dos indispensáveis elementos naturais, uma infinidade sempre crescente de plantas e animais, na maior parte das vezes completamente diferentes, mas frequentemente complementares uns dos outros. Esta sinergia, assim conseguida, ajudou a moldar o nosso planeta, até ele nos oferecer um berço de vida repleto de beleza e de harmonia.
Se, por um lado, não devemos nem podemos cair na ideia deveras utópica de desejar um regresso ao passado, numa vã tentativa de desfrutar o Bom e o Bonito que a Terra possui, podemos e devemos recomeçar a fazer um uso apropriado dos sentidos naturais que nos foram atribuídos.
Assim sendo, deveremos voltar a olhar de uma forma atenta, selectiva e maravilhada o meio envolvente, sentirmos os muitos aromas que flutuam à nossa volta com grande suavidade, tocarmos com uma sensibilidade acrescida a beleza das coisas ao nosso alcance, ouvirmos a musicalidade dos variados sons com a melhor das atenções e, por fim, provar com gosto apurado e redobrado, tudo o que ainda compõe essa incomensurável beleza que nos rodeia e da qual somos parte imprescindível para completar essa acolhedora harmonia.
Entre os passarinhos e demais insectos cantantes e saltitantes, as múltiplas borboletas coloridas, indolentes e silenciosas, as aves de porte maior que planam elegantemente no azul do céu, os peixinhos de formas, tamanhos e cores infinitas, as plantas que oferecem juntas a maior quantidade de tons verdes existentes, as flores que não param de compor uma diversidade de pautas de cores, as árvores que majestosamente nos abrigam debaixo da sua reconfortante sombra e nos convidam a provar as suas frutas de sabor, tamanhos e cores ilimitados. A água límpida e apressada dos rios descendo das zonas montanhosas, as cascatas que embalam os nossos ouvidos graças a uma musicalidade subtil, os gritos diurnos e nocturnos, suaves ou estridentes emitidos pelos nossos amigos, os animais ditos selvagens. A força estrondosa dos mares e oceanos que mandam incansavelmente para nós uma interminável sucessão de ondas de crista branca que ruidosamente atacam as praias de areia, ou as rochas circundantes. Os mais do que misteriosos fundos marinhos que guardam religiosamente nos seus abismos espécies desconhecidas de plantas, peixes e crustáceos. A luz incandescente do astro rei e sua diversidade de tons vermelhos e laranjas que incendeiam o céu, do nascer ao pôr-do-sol. A misteriosa luz cintilante das estrelas que povoam as profundezas insondáveis das nossas noites e a brancura insolente da Lua que se dá o luxo de aparecer perante nós, com tamanhos e formas diferentes, quando não joga às escondidas por entre as nuvens que, silenciosamente, se movem acima de nós e das nossas cabeças.
Os caprichos do tempo que, consoante as temperaturas baixas ou altas, resolve molhar-nos com mais ou menos intensidade, através de uma extraordinária quantidade de brilhantes gotas de água caídas do céu, ou nos acaricia com os seus flocos de neve branca e pura, cujos cristais, todos diferentes uns dos outros, representam a forma simétrica mais perfeita da nossa acolhedora natureza.
A extrema violência dos vulcões em erupção que ejectam pedras e rochas incandescentes, rodeadas de fumos intensos e negros que podem atingir vários quilómetros de altura em direcção ao céu.
No meio deste infindável leque de variedade de espécies, de cores e de vidas, encontra-se em todo o lado e em qualquer latitude ou longitude, a nossa própria espécie, dita humana, que também tem uma beleza verdadeiramente sui generis, tanto na sua forma como na sua capacidade física e intelectual.

Era bom, muito bom, para não dizer mesmo reconfortante a apaziguador, que em vez de corrermos de manhã à noite, fugindo dos males que nos atormentam, malgré nous, deveríamos voltar a consagrar tempo, dedicação e amor a nós próprios e a tudo o que nos rodeia, por forma a beber, saborear à boca cheia e abraçar amigavelmente a natureza e os nossos irmãos, que também anseiam por uma paz tão aprazível como reconfortante, capaz, por si só, de acalentar e aconchegar o que ainda sobra das nossas mentes e das nossas almas esquecidas.
Termos tanta beleza, amor e graciosidade dentro de nós e à nossa volta e não sermos capazes de desfrutar dessa dádiva dos deuses, é o mesmo que deitar fora os nossos sentidos que, juntos, sustentam e dinamizam a nossa identidade, a nossa capacidade estranhamente invulgar de sermos vivos e aguçam a nossa maravilhosa e insubstituível sensibilidade.
Pensam nisso, vale a pena.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

A Ebriedade do Poder

Estou convicto que não sou o único cidadão a questionar-me sobre as verdadeiras motivações que terão alguns políticos da nossa praça, para exibir uma postura repleta de uma indisfarçável arrogância quando fazem uso da palavra. Salvo erro pessoal de interpretação, que se poderia entender pelo meu percurso de cidadão apolítico, pensava eu, do alto da minha ingenuidade cívica, que os políticos se enquadravam simplesmente no papel de cidadãos comuns, investidos momentaneamente de responsabilidades político-administrativas, graças aos votos dos seus concidadãos. Pelos vistos, estarei equivocado. Vejamos: tudo aponta para o facto de que, a “magia” de se estar num lugar público, conjugada com a consequente e inevitável ebriedade intimamente ligada ao poder do dito lugar, operam uma verdadeira metamorfose tão intensa no eleito, que transparece visível e violentamente por fora. Por outras palavras, poder e arrogância parecem intimamente ligados, até prova em contrário. Mas, no meu humilde entender, mais importante que as verdadeiras motivações acima mencionadas e relativas a essa postura, será certamente realçar as consequências que tal comportamento provoca nos profissionais da nossa arena política, tal como no cidadão comum, testemunho involuntário desses excessos de atitudes. O uso da arrogância, intrínseca demonstração de uma auto convencida posição de superioridade, destina-se fundamentalmente a tentar intimidar e inferiorizar o interlocutor, seja ele adversário político, ou simples cidadão anónimo. Em qualquer dos casos, a reacção habitual do(s) interlocutor(es) perante tamanha indelicadeza, será responder com armas semelhantes, numa tentativa de fazer prevalecer a sua opinião sobre a do arrogante. O resultado é invariavelmente o mesmo: o descontrolo invade ambos os intervenientes, sobe o tom e baixa a qualidade do discurso! O mais lamentável nessas situações, infelizmente frequentes no nosso muito particular circo político, é que ninguém fica a ganhar, nem o interpelante, nem o interpelado. Conclusão: a troca de mimos esterilizou por completo a troca de argumentos de cada um, o que tem por efeito desperdiçar estupidamente tempo e energias, enquanto se exibe gratuitamente o pior dos exemplos perante os que assistem de fora. Não seria melhor, mais inteligente e mais produtivo, oradores e interlocutores, aprenderem de novo as regras mais elementares do civismo e de comportamento em sociedade, das quais o respeito do outro e de si mesmo, são supostamente parte integrante? Para os cidadãos contribuintes, que já sofrem involuntariamente os graves efeitos da incapacidade crónica de gestão a cargo das últimas gerações de governantes, a cansativa repetição desses tristes espectáculos, dados por esses mesmos governantes, só contribui para degradar ainda mais a sua já debilitada imagem, devido à situação das crescentes dificuldades em que os portugueses em geral se debatem heroicamente no seu quotidiano. Senhores políticos, já se deram porventura ao trabalho de verificar que, salvo acidente, e em especial no sector privado, os mestres da gestão eficiente, assim como os bem aventurados geradores de riqueza, muito excepcionalmente podem dar algum sinal dessa tão vil arrogância de que aqui se fala com toda a simplicidade do mundo? Se me permitem e sem ofensas, Senhores políticos, não tenham receio de virar corajosamente as costas a essa insustentável arrogância, aprendam eficazmente a fazer uso e abuso de humildade, não se amedrontem perante a eventualidade de apresentar provas cabais da vossa capacidade, estranhamente escondida por ora e ousem, finalmente, para o vosso bem e para o da nação, responsabilizarem-se pela vossa actuação prática e pelo vosso desejado e renovado comportamento. Ganhará o país, ganharão os portugueses, e por incrível que pareça, ganharão também os Senhores (talvez menos dinheiro), mas certamente mais respeito e consideração de uma população hoje desgastada e empobrecida.

Olho de Falcão