quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Falando de remodelação

Já sabemos por experiência, que haverá sempre mais pessoas a criticar que a aprovar as medidas governamentais, sejam elas quais forem. Faz parte da natureza humana, de acordo com o famoso ditado que sempre reconheceu que: “A critica é fácil, mas a arte é difícil”. Seja como for, terá sido necessário remodelar, nomeadamente o ministro da Saúde, para que pessoas anónimas, através de numa emissão de televisão dedicada à opinião pública, venham humildemente dizer, com factos e argumentos, que o trabalho desenvolvido pelo agora ex-ministro tinha sido louvável e merecedor de respeito. Uma coisa é certa, aquele responsável governamental mexeu em muitas coisas num relativamente curto espaço de tempo, mexeu em muitos interesses instalados, assim como teve a coragem e a frontalidade de a dar a cara às suas constantes e numerosas mudanças no SNS. È claro que não se pode permanentemente exigir, à boca cheia, um Estado mais moderno, mais eficaz e menos gastador e rejeitar simultaneamente qualquer ideia de mudança, por muito que elas custam. O povo sabe que sem ovos não se fazem omeletas ! Portanto, importa dizer que, se o ex-ministro da Saúde não pecou por defeito, ou por incapacidade e ainda menos por loucura e irresponsabilidade, a verdadeira falha existente na aplicação das muito faladas mudanças, terá sido ao nível da profunda falta de comunicação entre governantes e governados. Não será por acaso que existe no nosso sistema de ensino, uma imprescindível ciência intitulada: pedagogia. Não basta de facto explicar convenientemente uma matéria, importa antes de mais, explicar antecipadamente a sua utilidade e consequência futuras. Quando um governo, em geral e seu primeiro ministro em particular, cultivam exaustivamente o exercício de uma política da permanente arrogância, quando não de autêntico autismo, agindo como se fossem reis e donos da razão e do país, é natural e compreensível que já não haja espaço para o recurso à acima referenciada pedagogia.
Da mesma forma que um governo, legitimado pelo voto popular, não pode esquecer-se ou furtar-se a explicar, como, quando, porquê e de que forma vai empreender novas medidas, o povo também tem de saber exigir, junto desse mesmo governo, satisfações concretas sobre a aplicação do seu dinheiro, arrecadado através de uma exigente política fiscal e cujo crescente montante de impostos cobrados, é porventura cada vez mais inversamente proporcional à qualidade de vida dos cidadãos e seu já debilitado poder de compra.

O que vale para o agora ex-ministro da Saúde, em termos de gritante falta de pedagogia, condição sine qua non para se obter um sempre desejável consenso que, no caso presente, não terá existido, também vale para outros responsáveis governamentais, tais como por exemplo, a ministra da Educação, o ministro das Obras Públicas, e o ministro da Economia, cujas políticas aplicadas pelos respectivos ministérios são sujeitas a constantes e crescentes criticas, que, consoante a opinião popular e a de especialistas de reconhecida capacidade, parecem amplamente justificadas.

Mais uma vez, convém realçar que estamos todos confrontados com um gigantesco equívoco, representado pelo verdadeiro ataque ao poder, ao qual se entrega a esmagadora maioria dos actuais políticos.

Se, antigamente, os servidores do Estado se caracterizavam pela nobreza da causa pública que abraçavam com corpo e alma, tendo por orgulho, a digna missão de estar ao serviço das populações e do país, hoje em dia, as motivações que justificam a atracção pela actual política, são de uma ordem tão diferente que, a outrora nobreza e o invejável orgulho da profissão, foram sendo ultrapassados e substituídos por outros atractivos bem conhecidos, tais como: proximidade com o dinheiro fácil, tendo em vista um melhor e mais rápido enriquecimento pessoal, agravado pela irresistível atracção e magia do poder em si, cujos aspectos já foram aqui relatados num precedente artigo de opinião sob o insuspeito título: A ebriedade do poder.

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