quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O nosso legado,

A sabedoria popular recomenda que, ao longo da sua vida, um homem deve conseguir três feitos importantes: plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro.
Cada um destes feitos são supostos representar um legado para toda ou parte da sociedade. A árvore terá por efeito renovar e perpetuar todo o simbolismo da natureza em benefício dos outros. O filho, dará continuidade ao nome da família e em alguns casos, à obra deixada pelo pai. O livro, representará uma forma material de deixar e transmitir para quem necessite, uma determinada experiência de vida contendo ensinamentos preciosos para o seu leitor atento.
Todos sabemos que poucos são, de facto, os homens, que antes de voltarem para junto do criador, conseguem empreender e completar os três feitos em questão. Pele minha parte, e apesar de estar consciente da fraca adesão a essa tal sabedoria, defendo a ideia de que, além de toda a educação e do ensino tradicionais, a cargo e à responsabilidade dos pais e da escola, também deveria ensinar-se aos filhos, a necessidade de cada um imaginar, empreender e completar uma obra que reverteria em prol da humanidade e do seu bem estar; pois limitar a visão do ensino a uma preparação meramente pessoal, tendo em vista um ambicionado sucesso, também prioritariamente individual, equivale a alhear o indivíduo da necessidade de pensar e agir em comunhão com outros, numa ou várias acções concretas, destinadas a interagir eficazmente com a sociedade humana. Por não se verificar essa forma de solidarizar-se com o mundo anónimo que fervilha à nossa volta, sofremos de um individualismo tão exacerbado, que os outros se tornam concorrentes, ou mesmo adversários, quando não inimigos, literalmente. É frequente ouvir, da parte de quem se sente amargurado com a vida, que os outros são sempre responsáveis directos ou indirectos pelo seu insucesso.
Em vez de estarmos “com” as pessoas, somos formados e exercitados para estarmos “contra” elas. Se multiplicarmos por milhões tais raciocínios e tais comportamentos, começamos a entender melhor o porquê dos múltiplos conflitos que agridem, prejudicam e aniquilam as sociedades actuais. Se a essa infinitamente triste realidade, acrescentarmos a presença constante do dinheiro, a sua inegável força egocêntrica e o carácter profundamente negativo do poder absoluto desse mesmo dinheiro, teremos encontrado a explicação para a esmagadora parte dos males que contaminam e destroem inexoravelmente o coração das sociedades contemporâneas.
Como eu tive oportunidade de escrever no meu livro, “Os Implacáveis Inimigos do Homem e da Paz”, Dinheiro, Política, Religião, (a aguardar edição), cujo conteúdo gira à volta do Homem, da sua vida, dos seus amores e dos seus ódios, o actual caminho por onde anda a humanidade, está tão cheio de erros, de perigos e de inconsciência, que só pode levar essa mesma humanidade em direcção ao abismo, de onde, como se sabe, não há retrocesso possível.
Será que ninguém se apercebe dessa assustadora realidade e dos riscos sem apelo que todos corremos ? Caso hajam pessoas, ou grupos, que tenham consciência dessa situação, porque razão não empreendem nada de sério e eficaz, para impedir esse suicídio colectivo e, pior ainda, porque razão continuam essas pessoas a procriar inconscientemente, sabendo que estão oferecendo aos seus filhos e descendentes, um bilhete de ida simples para um inferno globalizado ?
Importa que cada um se convença de que, para os homens de boa vontade, nunca é tarde demais para que reconheçam os seus próprios erros, para juntar-se aos outros, arquitectar e por em prática, em boa inteligência com eles, soluções capazes de colocar a humanidade no bom caminho.
Uma das verdadeiras razões que explicam o estado calamitoso a que se chegou, reside no simples facto de que o Homem não passa de um simples mortal, consciente do carácter tão efémero como inelutável da sua passagem e que, afinal, nem valerá a pena preocupar-se em demasia com tudo isso porque, quem virá depois, terá que se desenrascar para tentar salvar a sua pele.
Por outras palavras, depois de mim, o dilúvio; na maior das indiferenças.

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