quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sociedade e decadência

Creio que, se fosse consultado o sentimento da população, relativamente ao estado actual da sociedade civil e ao futuro sombrio que se adivinha, uma maioria esmagadora de pessoas responderia, certamente, que, num conjunto alargado de situações, se assiste inexoravelmente a uma deterioração qualitativa, tão nítida como generalizada, pela simples razão, que as próprias consequências da evolução desta nossa sociedade, afectam gravosa e indiscriminadamente, as pessoas que representam essa esmagadora maioria.
Nos principais sinais dessa evolução negativa, podemos nomeadamente realçar, numa ordem aleatória : o desemprego, a pobreza, a precariedade na saúde e a proliferação de doenças infecto contagiosas, a criminalidade leve e agravada, o dramático aumento da toxico-dependência e suas terríveis consequências sociais e financeiras, a multiplicação e a duração dos conflitos armados à escala planetária, o constante aumento do custo de vida e a inevitável perda do poder de compra, a subida descontrolada de todas as formas de poluição e consequente degradação do ambiente, a corrida desenfreada aos recursos naturais não renováveis, a sinistralidade nas estradas, a proliferação desordenada de armas de fácil aquisição, os fenómenos alarmantes da crescente corrupção, a começar pela do Estado, a impunidade generalizada dos corruptos e corruptores, o gritante enriquecimento dos ricos e poderosos, inversamente proporcional ao empobrecimento das populações, os problemas ligados à imigração clandestina, a diminuição das liberdades individuais, uma democracia periclitante, o assustador e inexorável avanço do fanatismo religioso islâmico e respectivo terrorismo, etc, etc.
É claro que, numerosas e diversas são as razões que estão na base desse indiscutível e preocupante agravamento da actual situação. Todavia, encontraremos uma, que, por si só, terá a capacidade de explicar e dar a entender as principais causas desse descalabro generalizado. Uma, que não é uma consequência directa dos sinais acima indicados, uma que não tem necessariamente a sua verdadeira raiz num dos males que tanto afectam esta nossa sociedade. Uma, que vem das próprias entranhas do indivíduo, na sequência da diminuição, quando não da eliminação pura e simples, de determinados critérios e de parâmetros, que, há muito, deixaram de ser ensinados pelos pais e educadores. Uma, que deixou de ser considerada como sendo indispensável para se ser “alguém”. Uma, que não se transacciona, portanto, que não se compra e também não se vende.
Este quase misteriosa razão, é, no entanto, tão óbvia como demasiadamente predominante na explicação do declínio generalizado dos aspectos qualitativos que fizeram e garantiram, outrora, uma forma diferente de se viver em sociedade. Uma forma diferente dos humanos se relacionarem entre si. Uma forma igualmente diferente das pessoas encararem o verdadeiro e imprescindível amor-próprio e o indispensável orgulho individual.
Para falar verdade, trata-se tão simplesmente de uma razão à qual, num passado ainda recente, se atribuía uma importância capital. A transmissão da mesma e o seu ensino, eram, sem nenhuma espécie de comparação com os dias de hoje, vital e sistemática, alem de obrigatória. Estamos a referir-nos aos sacrossantos VALORES MORAIS, ou, aliás, à sua cada vez mais indisfarçável ausência, que deixaram há muito de ocupar o lugar de primeira escolha no comportamento particular das pessoas, aquele que realçava eficazmente a diferença entre a noção de excelência e a da mediocridade do indivíduo.
É tão indiscutível como lamentável, que a eliminação gradual destes “valores morais”, represente simultaneamente o inevitável surgimento de características potencialmente perigosas, tanto para o indivíduo, como consequentemente para a sociedade na sua vertente colectiva, tais como: o egoísmo, a cobiça, o individualismo e a desmedida avidez de dinheiro, que juntas levam à desvalorização da vida humana e valorização da miséria.
Sem o domínio absoluto e o recurso constante aos verdadeiros “valores morais”, não pode haver respeito, nem para nós próprios, nem tão pouco para os outros. Sem respeito, não há regras e sem regras, prevalece a lei da selva, a do salva-se quem puder. Daqui até a anarquia, só há um passo. Um passo que diferencia a inteligência da bestialidade, da estupidez, da grossaria e da parvoíce. Um passo que apenas separa a paz da guerra. Um passo que determina a vida ou a morte. Um passo que pode significar o princípio do fim, em vez do renovar da esperança de que tanto necessitamos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo plenamente com o texto, é pena que pouca gente tenha consciência disso. Até à próxima. Luisa Fresta