sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O mundo ao contrário,

Uma das piores coisas que normalmente acabam por prejudicar o ser humano, é sem dúvida a sua capacidade natural de habituar-se pacatamente às mais diversas situações, mormente aquelas que lhe são desfavoráveis.
Como é sabido de todos, um país é constitucionalmente separado em duas partes distintas: De um lado, existe o Estado, soberano, composto e dirigido por profissionais da política, (organizados em poderosos partidos), cuja meritória função inicial, consistia em estar dedicada e orgulhosamente ao serviço da Nação e dos seus habitantes; do outro lado, existe uma população que representa simultaneamente posições diferentes, tais como, as dos cidadãos, eleitores e contribuintes, que, graças ao fruto do seu trabalho, sustentam obrigatoriamente a pesada máquina do Estado e os seus muitos servidores, pagando durante uma vida inteira os numerosos impostos criados para o efeito. Com o dinheiro remanescente (graças a Deus!), a população conquistou merecidamente o direito de se sustentar a si própria.
Com o passar do tempo, a maioria dos numerosos supostos servidores do Estado, apreendeu a jogar pelo seguro, acautelando preferencialmente os seus interesses pessoais, garantindo também favores a amigos, colegas e conhecidos, quando não a familiares, mas, verdade seja dita, sempre com grande e infalível eficácia. O actual escândalo do parlamento europeu será uma minúscula gota de água num oceano de abusos diversos.
A população, por sua vez, foi perdendo o seu estatuto de súbdito, (elemento primordial) ou, a verdadeira razão de ser de uma Nação, submetendo-se gradualmente, e em desespero de causa, à força e ao poder do Estado, à sua tentacular, omnipresente e prepotente máquina administrativa, fiscalizadora, policial e judicial. Eterno combate do pote de barro contra o bote de ferro, com vencedor anunciado !!
Conclusão, devido ao fortalecimento progressivo do Estado e seus respectivos “donos” perante uma assumida passividade da população, que julga não ter por onde escolher, as posições iniciais inverteram-se e, paradoxalmente, existe hoje o forte sentimento de que a Nação é composta por uns milhões de cidadãos, eleitores e contribuintes, verdadeiramente encurralados, num só e único papel, o de colocar-se disciplinadamente ao serviço e às ordens dos novos “donos” do Estado. Enfim, um mundo ao contrário.
Assim, temos actualmente um Estado que desfruta de poderes bastantes que, juntos, lhe permitem ser simultaneamente autoritário, arrogante, intocável e prepotente, o que torna impossível a aplicação do princípio de equidade entre o Estado e o cidadão e consequentemente, reduz assim drasticamente ou elimina mesmo, a existência de uma verdadeira justiça em favor das populações, os “fracos” por definição. Como é possível hoje ter a ingenuidade de crer que os poderosos partidos, (que só sabem guerrear-se e insultar-se entre si), representam (desinteressadamente) os interesses da população? Como é que esses mesmos partidos persistem, ao fim de tantos anos, em convencer-se de que para ganhar votos, o único caminho é o da critica acesa e do “bota abaixo” dos seus adversários políticos, em vez de inteligentemente, apresentarem propostas e soluções concretas de que o país carece vergonhosamente? Há quem afirme que caminhamos para uma nova ditadura! Existem indubitavelmente, com este governo, sinais altamente preocupantes que apontam nesse sentido.
Face a esse triste panorama, será legítimo perguntar, porquê, e em nome de quê, o Estado se arroga o direito exclusivo de fiscalizar as empresas privadas, quando se sabe que o contrário é praticamente impossível da parte do cidadão anónimo. Quem pode verificar o destino real de todos os milhões de milhões gastos pelo sector público e quais as sanções aplicadas em caso de malversações ? Quem decide o valor dos ordenados escandalosamente elevados, fora os carros de luxo e as chorudas regalias, dos dignatários do Estado? Que responsabilidade civil e penal é, de facto, atribuída a qualquer servidor do Estado, ministro ou outro, quando, por causa de decisões erradas, os prejuízos se cifram em milhões que o desgraçado do contribuinte deverá, sem escolha, suportar e custear ? Qual o político que não ocupa simultaneamente diversos “cargos” em instituições, empresas, bancos e fundações, com interesses diversos em cada uma deles ? Porque razão não existem penalidades contra o Estado e em benefício do cidadão contribuinte ou empresas privadas (juros, multas, coimas), quando o Estado não honra seus compromissos, como é o caso no sentido oposto ? Todos sabemos que o Estado tem, legalmente, privilégios de vários ordens, quando as mesmas são totalmente inacessíveis a pessoas particulares ou colectivas! Já reparam que o Estado tem sempre e invariavelmente a última palavra em caso de controvérsia entre público e privado ? O que pretende realmente a extrema complexidade e ambiguidade da fraseologia usada na redacção das leis, senão o facto de dificultar ou impedir a sua compreensão, de quem não tem formação jurídica ? Afinal, quem policia a polícia e quem tem poder e meios para fiscalizar o próprio Estado ? Sem uma verdadeira equidade de meios e de tratamento, o simples cidadão trava contra o Estado um combate ilegal, viciado à partida !
Se existisse mesmo qualquer reciprocidade ao nível da responsabilização individual, público versus Estado, haveria obviamente responsáveis do Estado condenados por incúria, malversações, incapacidade, erros graves, etc, etc !!! Quem duvida que o enriquecimento rápido dos novos “donos” é inversamente proporcional ao empobrecimento crescente da população ? Porque é que a impunidade beneficia alguns, (sempre os mesmos) e nunca, ou muito raramente, se aplica a outros ?
Tal comportamento denuncia, da parte do Estado, a apropriação da máxima do conhecido Imperador francês Napoleão Bonaparte : “Façam aquilo que vos digo e não aquilo que eu faço”.
Também podemos dizer, de uma outra forma, que o Estado tem as suas razões que o próprio cidadão eleitor contribuinte, não tem !!!

Na sequência dessa curtíssima amostragem de legítimas perguntas e observações, quem pode afirmar e comprovar que o Estado será, sem margem para dúvidas, uma intitulada “pessoa de bem” ?

A quem cabe a responsabilidade e culpa dessa lamentável situação? Tão simplesmente aos cidadãos eleitores contribuintes adormecidos que somos, porque nada ou muito pouco fazemos para exigir mudanças profundas, supostas ajudarem a repor as coisas no seu devido lugar.
Criticar e levantar a voz timidamente não será suficiente para influenciar o nosso destino colectivo. Quem detém firmemente o poder nas suas mãos, e que está pronto a tudo para o conservar, sabe, coma diz a sabedoria popular, que “ Cão que ladra não morde”.
Este crescente sofrimento das populações, em consequência das mais diversas razões que todos conhecemos, aliado a uma mais do que assumida passividade que nasce do carácter desigual deste combate entre o pote de ferro e o pote de barro, assemelha-se a uma determinada patologia denominada: masoquismo intelectual.
Doa a quem doer.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Quem não está bem, muda-se,

- Quem se lembra da quantidade e nomes dos partidos e coligações políticos que viram a luz do dia neste cantinho à beira-mar plantado, agora apelidado de West Coast da Europa, entre 1974 e 2008?
- Quem se lembra dos nomes dos respectivos dirigentes e outros responsáveis destas organizações, alem das numerosas indispensáveis e caricatas figuras que lhes deram voz ao longo do tempo ? Pois é, como diz a sabedoria popular, o povo tem a memória curta. Uma coisa é certa, foram muitos, mesmo muitos os que por ai passaram e os que por lá andam ainda incansavelmente.
- Quem se lembra de todas as belas, maravilhosas, cativantes, corajosas e omnipresentes promessas que os mesmos senhores dirigiram aos cidadãos, eleitores e contribuintes durante as incessantes e sempre iguais campanhas eleitorais e fora delas ?
- Quem se lembra de como estava, há trinta e quatro anos atrás, o estado da Nação portuguesa e de quantas eram as suas reservas monetárias, incluindo a “famosa” pesada herança de “apenas” 958 toneladas de ouro, acumuladas pelo antigo ditador e seu abominável regime ? Considerando o estado verdadeiramente decrépito do actual Estado da Nação, quem não sabe e não sofre diariamente na pele, das lamentáveis consequências da preciosa e permanente ajuda que, desinteressadamente,(claro), deram todos os partidos políticos, coligações políticas, dirigentes políticos, responsáveis políticos e outras indispensáveis e caricatas figuras políticas neste intervalo ?
Quem se lembra e sabe enumerar “todas” as promessas que acabaram “acidentalmente” por ser cumpridas desde então ?
- Quem sabe o exorbitante montante de dinheiro, em Escudos e agora em Euros, que a generosa U.E aceitou dar, (a fundo perdido) à Nação Portuguesa, com o objectivo de a mesma recuperar o indesmentível atraso que a separava do resto da Europa ? Como toda a gente sabe, o referido atraso nunca foi vencido nem recuperado e dentro de pouco tempo, fechará definitivamente a torneira europeia dos fundos estruturais e preciosas ajudas comunitárias. E depois, já imaginaram!!! Se é difícil agora, tentam antecipar-se a um futuro sem ajudas !!!
- Quem se recorda de como estava, social e economicamente o país vizinho, quando o outro ditador ibérico desapareceu da cena política e quem não sabe do gigantesca caminho, rumo ao desenvolvimento sustentado, que o mesmo vizinho soube dar num igual espaço de tempo ? Alguém tem dúvidas das diferenças abismais que separam hoje as nossas duas Nações e suas respectivas economias, sabendo que a Espanha de hoje se orgulha de ter a maior taxa de crescimento de toda a U.E (3.8 %, o dobro da nossa)?
- Quem não sabe que hoje e cada vez mais, os ricos deste cantinho, são, (infelizmente para nós), cada vez mais ricos e que os pobres do mesmo cantinho, são (felizmente para eles) cada vez e escandalosamente mais pobres ?
- Quem não sabe que, enquanto se pagam vencimentos principescos e se oferecem regalias e reformas de luxo a determinados responsáveis políticos com cargos públicos e que a população, perigosamente endividada, se vê obrigada a contar os cêntimos de Euros, os cinco maiores bancos deste cantinho lucraram em 2007 a modesta soma de : 3.000.000.000 de Euros, alguma coisa de perfeitamente banal que, na moeda antiga, equivaleria a : 601. 146. 000. 000, 00 de Escudos (Ouro)!!! Se não me engano, lê se da seguinte forma: seiscentos e um mil cento e quarenta e seis milhões de Escudos !!!!
- Quem não está ainda convencido de que, os tais partidos políticos, coligações políticas, dirigentes políticos, responsáveis políticos e outras indispensáveis e caricatas figuras políticas têm as suas indesmentíveis e pesadas responsabilidades neste autêntico descalabro socioeconómico a que chegamos ?
- Quem ainda está convencido que, caso estes senhores e donos da política, sempre prontos a adormecer-nos com belas e bonitas palavras, permaneçam no poder deste país, a situação se irá agravar ainda substancialmente para cada um de nós ?
- Quem concordará com a seguinte ideia: Se está comprovado e assente, que esta política e estes senhores e donos da política não servem os reais interesses do país e da sua sacrificada população, nem hoje, nem amanhã, teremos então que encontrar soluções alternativas. Quais ? Por exemplo, substituir integralmente estes senhores bem falantes, por técnicos especializados nas diversas tarefas da gestão do Estado e das sua repartições, institutos e outros organismos. Nem será necessário inventar nada. Bastará proceder de forma idêntica ao sector privado, que também gere pessoas, valores materiais, propriedades e outros tantos bens e serviços. Da mesma forma que a lei (destes senhores) impõe nas grandes empresas a presença de sindicatos, delegados sindicais, comissões de várias ordens para controlar a actividade patronal, estruturas semelhantes poderiam ser instituídas para controlar os novos gestores.
- Quem acha que o sector privado ficaria indiscutivelmente mais bem gerido por estes senhores políticos do que com os actuais gestores privados ?
Entre o público e o privado, existe uma grande diferença: enquanto um país, sustentado pelos seus contribuintes, pode endividar-se e renegociar, no tempo, a sua dívida e continuar em movimento e de portas abertas, uma empresa privada, além de ter que prestar contas aos seus sócios e (quando há) accionistas, não tem esse privilégio e caso se encontra deficitária, os seus credores, Estado incluído, podem, pura e simplesmente, exigir a sua liquidação, provocando assim o seu encerramento, colocando assim no desemprego os respectivos funcionários.
- Quem poderá argumentar e provar que não se pode gerir um país com os mesmos métodos e critérios que se gere uma grande empresa ou um grande grupo económico privado ?
Claro que tal mudança levaria tempo e dinheiro, e também necessitaria de imaginação e sabedoria. Mas os resultados só poderiam reverter em benefício de todos nós e do país.
Agora, cada um sabe se mais vale persistir no actual caminho até morrermos exangue, ou arriscar uma mudança profunda que só pode melhorar significativamente o nosso quotidiano, o dos nossos filhos e netos.
Como diz uma certa publicidade: “Quem sabe sabe e quem sabe é o povo”. Aquele mesmo que se levanta cedo, perde horas de manhã e à noite na poluição do trânsito, trabalha durante quarenta anos seguidos para receber um salário que não lhe permite viver, nem com folga monetária, nem com dignidade, aquele mesmo que paga pesados e numerosos impostos directos e indirectos, para não falar dos juros de mora, multas, coimas e outras coisas do género, nomeadamente para sustentar ricamente os seus senhores e donos, confortavelmente instalados nas cadeiras do poder, normalmente situadas em palácios e palacetes estatais, ou seja, de todos nós.

- Quem prefere continuar hoje e amanhã a lamuriar-se e ficar imóvel perante esta gestão política, muito mais virada para proveitos partidários do que para os cidadãos, perderá o direito a queixar-se depois de amanhã, quando será a vez do país inteiro a ficar exangue, com todas as dramáticas consequências que se podem imaginar.



U.E, passado, presente e futuro,

Uma vez consumada em 1945 a derrota da Alemanha nazi de Adolfo Hitler e contabilizadas as pesadas consequências de uma guerra que durou seis longos anos e que foi indubitavelmente a pior de todos as guerras que alguma vez a humanidade conheceu, a Europa encontrava-se traumatizada pelas marcas indeléveis que eram visíveis materialmente em cada um dos países beligerantes, assim como nas suas sacrificadas populações. Se a rendição assinada pelos generais alemães, também era simultaneamente sinónimo de uma nova e desejada paz entre os referidos povos e nações, não se podia pura e simplesmente ignorar ou minimizar os horrores do prolongado e vergonhoso holocausto, que reduzira literalmente a cinzas, mais de seis milhões de pessoas. Paralelamente a essa injustificada e inqualificável carnificina, as tropas aliadas inglesas, americanas e canadianas, as tropas compostas por soldados europeus, os que abraçaram a causa da resistência e finalmente as sacrificadas populações europeias, também registaram nas sua fileiras, outros muitos milhões de mortos, de feridos e deixaram muitas crianças órfãs, com um futuro bem sombrio.
Era então imprescindível e urgente reconstruir todas as infra-estruturas industriais e sociais, reorganizar as sociedades civis e assegurar uma nova ordem pública, assim como reaprender a viver e conviver em paz. Face à própria natureza dessa guerra, que voltou a demonstrar quão perigoso e destruidor o Homem pode tornar-se numa luta desumana e cruel contra os seus semelhantes, com o único intuito de conseguir satisfazer as suas loucas ambições, os juizes do tribunal de Nurembergue, a quem coube a ingrata e difícil tarefa de julgar os 21 dignatários e chefes nazis capturados, número infelizmente não representativo dos muitos criminosos nazis, fizeram questão de acompanhar as suas sentenças, com uma histórica advertência destinada ao Homem europeu e consequentemente, ao mundo inteiro : “Temos necessariamente que saber perdoar o nosso inimigo de ontem, mas nunca, jamais, esquecer o que o mesmo foi capaz de fazer”. Pois, esquecer, seria uma forma de denegrir e insultar as muitas vítimas assim como a sua memória.
Passados uns anos, enquanto a Europa se encontrava empenhada na sua indispensável reconstrução e modernização, o francês Jean Monet, teve a ousadia e coragem de pensar que, para impedir que um dia, a malfadada História pudesse vir a repetir-se de uma forma tão ou mais dramática ainda, tornava-se imprescindível convidar os inimigos de ontem, a serem os parceiros para o amanhã, unindo forças e esforços para construir o princípio de uma comunidade que se queria justa, pacificadora, forte e próspera. Assim, depois de uma primeira aproximação entre a França do General de Gaulle e o chanceler alemão Konrad Adenauer, a proposta e respectivos convites de união foram dirigidos ao Luxemburgo, à Itália, à Bélgica e finalmente à Holanda. Com a França a encabeçar o movimento e o assentimento político dos seus cinco parceiros, nascia a então denominada Comunidade Económica Europeia (C.E.E). Ou seja a Europa dos seis, cuja sede administrativa foi estabelecida em Bruxelas, enquanto o seu parlamento se fixava em Estrasburgo, no Leste da França, junto à Alemanha, apenas separada da França pelo poderoso rio Reno. Os primeiros passos foram marcados por várias controvérsias e dificuldades aliás facilmente compreensíveis, mas não suficientemente fortes para impedir a continuação do sonho de Jean Monet e o alargamento de uma comunidade inicial de seis países, para doze, adaptando um novo nome, o de União Europeia (U.E).
Com o passar do tempo, sucederam-se os Presidentes da Comissão Europeia, seus comissários e seus respectivos deputados, ao nível das instituições, enquanto também mudavam Reis, Presidentes e Primeiros ministros, entre outras figuras importantes dos países membros.
Hoje, realizado ou mesmo ultrapassado o sonho inicial, essa mesma U.E reagrupa um total de vinte e sete países e continua-se a dialogar e negociar a admissão de futuros países, embora com a introdução de novas modalidades, tal como a de parceiro privilegiado, no lugar de país membro efectivo.
Enquanto mudam, sucedendo-se, os principais protagonistas desse grande “clube”, na própria visão da U.E também se vão registando alterações sensíveis sobre a ideia e desejo de cada um, relativamente a um novo e futuro alargamento do referido “clube”. Uma coisa é certa, para poder continuar justificadamente a ser, por um lado, uma verdadeira União de ideias e ideais, de interesses recíprocos, tão políticos, como económicos e sociais e, por outro lado, permanecer geograficamente europeia nas suas fronteiras terrestres, parece evidente que esse hipotético e/ou provável alargamento, deverá obrigatoriamente ter em conta os seus próprios limites finais. Caso contrário, mudará por completo, tanto o seu sentido inicial, como a sua actual e futura razão de ser. Na sua composição actual, com os seus vinte e sete membros, já estão patentes as sérias dificuldades quanto à obtenção de um consenso maioritário, quanto mais por unanimidade para questões importantes, ou vitais. O melhor exemplo, encontra-se na muito falada constituição europeia, recusada então pela França e pelos Países Baixos, antes do último alargamento (com os dez novos membros) e que, após a sua posterior “transformação” em Tratado de Lisboa, a sua indispensável ratificação ainda não é uma realidade concreta. Aliás, muito além desses evidentes e inquestionáveis problemas internos, inerentes à sua organização, existem cada vez mais dúvidas quanto ao bom fundamento de querer continuar a juntar, aos actuais quatrocentos milhões de cidadãos europeus, não contando com os numerosos emigrantes legais e ilegais, mais alguns milhões de pessoas, originárias de países cujas histórias, culturas, costumes, religiões e situação geográfica, são inegavelmente diferentes e talvez mesmo antagónicos, comparativamente aos dos já numerosos e actuais países membros. Quem pode hoje garantir, que o prosseguimento dessa política de alargamento (sem limites) não seria sinónimo de riscos agravados para o nosso amanhã colectivo ? Em tudo na vida, é fundamental salvaguardar o conjunto de elementos que, reunidos, constituem e asseguram no tempo, um equilíbrio vital e imprescindível, para continuarmos em sintonia, na procura de um real e duradoiro progresso económico e social, em segurança entre os povos e, ainda mais importante, em paz connosco e com os outros.
Antes de se pensar seriamente num eventual alargamento, importa mais do que nunca, assegurar uma autêntica governabilidade da actual U.E, tendo em atenção a necessária serenidade dos povos, actualmente posta em causa com uma actual e já por si só alargada diversidade. Não existe de facto, uma verdadeira harmonização dentro desta actual União, nem na dos primeiros seis, quanto mais nos seus efectivos vinte e sete. No que diz respeito à adesão da Turquia, cujas controversas e intermináveis negociações estão em curso há muito, talvez possamos perguntar: que misteriosos trunfos terão afinal os americanos, para “obrigar” a Europa a admitir a Turquia como membro efectivo ? A quem compete decidir essa e outras tão importantes questões? Será a alguns milhares de privilegiados, homens e mulheres, ditos políticos, que vão e vêm sem parar, conforme resultados eleitorais nacionais, que deverão decidir, ou então competirá verdadeiramente essa escolha às populações que ficam no lugar uma vida inteira ?
No meio de tudo isso, já que os senhores e donos da política tanto falam à boca cheia de Democracia, com que direito e legitimidade, política e democrática, podem eles substituir-se aos seus eleitores, cidadãos contribuintes, recusando simultaneamente dar-lhes a palavra e o voto para poderem decidir democraticamente o seu futuro, o dos seus filhos e dos seus netos ? Já que o povo financia integralmente tudo e mais alguma coisa, inclusive o sustento dos numerosos políticos, é justo e coerente, dar-lhe os elementos susceptíveis de o ajudar a pronunciar-se sobre todos os dados importantes que sistematicamente influenciam positiva ou negativamente o seu quotidiano. Não se pode e não se deve querer falar mais alto que o próprio povo. Quem falou em soberania popular ?
Numa altura onde assistimos ao encerramento diário de dezenas de fábricas nos mais importantes países da U.E, que tem por implicações imediatas: o aumento do desemprego, já superior a duas dezenas de milhões de pessoas, o inevitável aumento de encargos com os respectivos subsídios e a diminuição drástica ou perda efectiva do poder de compra destes ex-empregados, importa concentrar todas as atenções sobre a imprescindibilidade de manter as populações europeias ocupadas, serenas, seguras e coesas e para isso acontecer, importa urgentemente encontrar formas sólidas e concretas de contrariar eficazmente, as diversas consequências agravadas da recente globalização em geral e do imparável crescimento da China e Índia, em particular. Custa afinal verificar, que nem a Europa nem o mundo ocidental estavam de facto eficazmente preparados para suportar tantas mudanças num prazo de tempo tão curto.
O preço a pagar a médio e longo prazo por esses sucessivos e gravíssimos erros, poderá ser tão caro para o mundo ocidental, U.E incluída, que poderá eventualmente significar uma forte e incontrolável destabilização de ordem socio-económica, com consequências hoje totalmente imprevisíveis para os países europeus, entre outros, assim como para suas respectivas populações.
Antes que tal assustador cenário venha a acontecer, é vital e urgente, tomarmos consciência dessa eventualidade, antes que a mesma se transforme inexoravelmente numa inexpugnável e fatal realidade.
Como é possível e admissível que quem nos governa, sem nunca terem sidos capazes até a data, de pacificar o mundo, eliminar a fome e a pobreza que afecta centenas de milhões de seres humanos, erradicar o analfabetismo que só serve os ricos e poderosos e conter eficazmente todas as formas de terrorismo em geral e a criminalidade em particular, persista incoerente e perigosamente em querer encaminhar o mundo para destinos tão imprevisíveis como arriscados ?
Será que a mais do que escandalosa e totalmente desmedida acumulação de riquezas de alguns, justifica colocar no altar dos sacrifícios, com toda a impunidade, alguns biliões de cidadãos anónimos, só e tão só, para ricos e poderosos atingirem de uma forma vincadamente egoísta, objectivos meramente pessoais.
O dinheiro, esse mal necessário e cada vez mais, pior repartido, terá comprovadamente as suas razões que a própria razão desconhece, para a infelicidade de uma esmagadora maioria de cidadãos do mundo.

Oxalá, que em conjunto, a inteligência, a razão, a cultura, a sabedoria, e a experiência humana, lenta e progressivamente conquistadas a custo de inúmeros sacrifícios ao longo de tanto e tantos séculos da História colectiva da humanidade, venham sobrepor-se definitivamente aos múltiplos e escabrosos riscos que escondem fatalmente todas as fraquezas individuais dessa mesma humanidade.
O Homem é capaz de fazer muito melhor do que tem feito até agora, se considerarmos que o Homem, na sua generalidade, tem plena consciência da absoluta necessidade de melhorar substancialmente, tanto a sua própria pessoa como a sua frágil e actual pouco invejável condição.
O seu futuro e a sua sobrevivência estão realmente em causa.
Por ninguém ter legitimidade para duvidar disso, compete-lhe (ao Homem) e em exclusivo, ter isso permanentemente presente na sua consciência, saber conceber e arquitectar os planos capazes de o fazer alcançar uma sobrevivência feliz, exigindo impiedosamente dele mesmo, todos os meios igualmente capazes de o ajudar a conquistar, no tempo, os objectivos corajosamente fixados.
Já não há muito por onde escolher e cada dia que passa, é seguramente uma vitória para a adversidade.


sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

As antagónicas duas faces da Internet,

Nos anos cinquenta, quando nasceu a televisão, esta novidade tecnológica de então, foi apelidada de “Caixa de vidro que mudou o mundo”. O que, de facto, se veio a verificar.
Passado meio século depois deste invento que, realmente, mudou radicalmente a vida das populações, os técnicos americanos transformaram uma tecnologia de uso inicialmente militar, para uso civil, mais propriamente dito, para o grande público. Assim nascia a mundialmente conhecida Internet.

Como em tudo ou quase na vida, a Internet também terá os seus aspectos positivos e negativos.

Os positivos, enquadram-se naturalmente na divulgação sem fronteiras de vários tipos de informações, com sons e imagens ao serviço da cultura geral e especifica, uma nova forma planetária de comunicar sem limites e uma capacidade de pesquisa praticamente ilimitada, de tudo o que uma mente normal ou não, pode ou não imaginar.
Quanto aos aspectos ditos negativos, o pior de todos, reside no facto de que na sua forma actual, o conteúdo da Internet e o seu acesso ao alcance de todos, escapam literalmente ao controlo das autoridades, ao ponto de conter elementos extremamente perigosos para todos nós., adultos e crianças incluídas.

Grave, gravíssimo, seria deixar que os aspectos negativos levassem a melhor sobre os positivos !!

Como explicar e aceitar pacificamente, que numerosas empresas e pessoas particulares foram inadvertidamente vítimas dos conhecidos vírus, capazes de reduzir a menos do que nada, toda a memória e o trabalho acumulada durante longos períodos ? Quantas empresas tiveram que encerrar as suas portas na sequência de cobardes e imprevistos ataques, vindos destes invisíveis monstros informáticos ?

Como explicar e aceitar pacificamente, que este meio de comunicação seja um verdadeiro “paraíso” para tarados sexuais, tais como os muitos pedófilos que invadem a privacidade das crianças utilizadoras, com o objectivo de as molestarem fisicamente e trocam, numa quase impunidade entre si, filmes de violações de crianças indefesas e outras aberrações ?

Como explicar e aceitar pacificamente, que os aprendizes bombistas, encontram pormenorizadamente na Internet, o bê-á-bá completo, para construir bombas destinadas a matar seres humanos, sem que ninguém com poder para tal, reaja verdadeiramente ?

Como explicar e aceitar pacificamente que a própria Al-Qaeda utilize a Internet para comunicar, entre outros, com as suas famosas células dormentes, transmitindo-lhes assim as suas ordens, tendo em vista a realização de novos e mortíferos atentados terroristas ?

Como explicar e aceitar pacificamente, que todos estes aspectos, profundamente tão negativos como perigosos e de consequências tão imprevisíveis como incalculáveis, possam estar a circular “livremente”, por não existir capacidade técnica aparente e/ou vontade política conhecida e contaminar, consequentemente, mentes enfraquecidas e/ou desprevenidas, à escala planetária ?

Como explicar e aceitar pacificamente, que uma parte significativa da actual juventude, (os donos do mundo de amanhã), estejam a ser literalmente contaminados pelo conteúdo da Internet e parte deles chegam a reproduzir de uma forma igual ou agravada, as piores sequências alusivas à violência gratuita, entre outros males maiores que navegam na Web ?

Parte da resposta a essas legítimas e assustadoras interrogações, encontra-se no facto de que, paralelamente ao seu conteúdo negativo, a Internet é directamente responsável pela constituição e acumulação de fortunas colossais, das quais a Google não passa de um mero exemplo no meio de tantos outros. Ou seja, mais uma vez, verificamos que o novo Deus todo poderoso da actual sociedade, o Sacrossanto Dinheiro, permite fechar os olhos sobre determinados aspectos que afectam maioritariamente os pobres e os inocentes. Os ricos e poderosos, quanto a eles, servem-se hábil e judiciosamente desse mesmo dinheiro para se proteger. Na verdade, a maioria deles não está francamente interessada no destino dos pobres e anónimos.

Pela minha parte, incluo-me na categoria de pessoas que estão intimamente convictas, que existem necessariamente soluções para controlar eficazmente a Internet e os seus insondáveis e potenciais perigos. O problema, é que, enquanto os interesses instalados (Dinheiro e seu inseparável Poder) conseguirem falar mais alto do que o interesse individual e colectivo das pessoas anónimas, a Internet continuará a representar e ser, uma verdadeira bomba relógio para a sociedade civil.

Creio, contudo, que ninguém tem verdadeiramente a percepção exacta e rigorosa do incomensurável perigo da força contida nessa autentica bomba, nem dos seus efeitos tão devastadores, como catastróficos a curto e médio prazo.

Uma coisa é certa, quanto mais tarde se introduzirem as alterações necessárias ao seu controlo, mais perigosos e mortíferos serão os seus efeitos que, surpreendentemente, não foram sequer imaginados, aquando da sua criação, instalação e livre colocação da Internet, ao livre alcance de cada um de nós.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Religião e Sociedade,

Independentemente do contexto em que terá sido inserida a “surpreendente” frase do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo : “O ateísmo e a indiferença em relação a Deus constituem o maior drama da Humanidade,” o seu conteúdo revela, infelizmente, no entender de muito gente, uma visão demasiada estreita e limitativa da relação existente entre a religião e a sociedade.
Vejamos porquê:
Devido ao facto do Sr Cardeal ser uma figura pública, por um lado, e por outro, ser em Portugal o representante oficial da Igreja Católica romana, o mesmo tem, por obrigação, preparar atempada e cuidadosamente as suas intervenções públicas, assim como assumir plenamente todas as consequências que estas sua intervenções podem ter na mente das pessoas.
Na conhecida e amplamente divulgada visão oficial da Igreja, o lugar de Deus sempre foi, continua e continuará incansavelmente a ser, o próprio exemplo da absoluta predominância de Deus no próprio coração da sociedade humana, no que diz respeito à única orientação espiritual e doutrinária possível das suas populações.
Por outras palavras, aos olhos da Santa Igreja, os crentes praticantes são invariavelmente considerados os fiéis modelos do Cristianismo, os autênticos filhos de Deus, enquanto os outros, os não praticantes, os não crentes, os ateus e outros agnósticos, sempre representaram para ela e pelos vistos continuam ainda a representar uma categoria especial, a convencer e converter absolutamente ou, se necessário, a combater impiedosamente, como já foi aliás histórica e repetidamente o caso.
Olhando para a nossa sociedade, até um cego autista se apercebe dos numerosos e incomensuráveis dramas que a Humanidade enfrenta diariamente, tais como as guerras sangrentas entre nações e outros conflitos regionais armados, (como por exemplo, o Israelo-Árabe que dura há já sessenta anos), os reféns das numerosas ditaduras que persistem em fazer um braço de honra à Democracia, a fome que continua a matar no mundo milhões de pessoas por ano, a inconcebível miséria em que vivem outros tantos milhões, as doenças contagiosas (nomeadamente aquelas que poderiam ser evitadas com uso de preservativos, teimosamente proibidos pela Igreja e responsáveis por centenas de milhares de mortos), o aparentemente irreversível fundamentalismo islâmico e as suas muitas dezenas de milhares de inocentes vítimas, a criminalidade crescente à escala planetária, os problemas ambientais e a delapidação dos recursos naturais não renováveis que comprometam seriamente a vida das gerações futuras, o analfabetismo e a precariedade que condenam irremediavelmente milhões de crianças a uma vida indigna e sofredora, etc, etc. Como toda a gente sabe, esta lista é infindável, mas para não abusar da paciência do leitor e respeitar a limitação de espaço, ficaremos por aqui.
É claro, que depois de tomar consciência da extrema gravidade, tal como do incontestável realismo dos dramas humanos acima enunciados, só alguém de má fé, distraído, ou, pior ainda, alguém animado de objectivos duvidosos e não revelados, pode produzir tão levianamente uma afirmação como aquela citada pelo Cardeal Patriarca de Lisboa, quando comparada com os verdadeiros dramas da Humanidade, acima enumerados.
Se, de facto, a religião católica reivindica a autoria dos valores morais, tais como: o da bondade humana, da honestidade, da humildade, do espírito de entreajuda, da obediência, e da transparência e exige simultaneamente a continuidade do ensino obrigatório dos mesmos, essa mesma Igreja não pode deixar um seu representante, qualquer que ele seja, proferir este tipo de afirmação pública, aliás quase pecaminoso, sem correr o risco de chocar profundamente os muito milhões de sobreviventes, de familiares e amigos, que foram e continuam a ser as vítimas da enumeração dos verdadeiros e incontestáveis dramas de que sofre realmente a Humanidade.
Pensando melhor, pelo respeito incontestavelmente devido a todas essas vítimas, das quais o elevado número, nem sequer pode ser contabilizado, o Sr Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, deveria, em seu nome pessoal e em nome da Igreja Católica romana, pedir humildemente perdão pelas suas mais do que infelizes palavras. Por muito que lhe custe, Sr. Cardeal, a vida na terra não se limita, para a Humanidade inteira, apenas e tão só, à crença em Deus ou ao agnosticismo perante os fenómenos religiosos. Por muito importante que esta crença seja para alguns, ela nunca chegará a monopolizar as prioridades de toda essa Humanidade, na sua generalidade. A “indiferença em relação a Deus”, que o Sr. lamenta e classifica de “maior drama da Humanidade”, permanece um direito inalienável da liberdade de pensamento de qualquer ser humano.

Para concluir, caso a alta hierarquia da Igreja e seu respectivo representante não se dignarem reconhecer a infelicidade e a injustiça da referida afirmação e pedir oficialmente perdão, estaremos perante a demonstração inequívoca de uma profunda insensibilidade dessa mesma Igreja perante os profundos e verdadeiros dramas que afectam seriamente a Humanidade e tal atitude, deixará planar no ar, uma séria dúvida, quanto à autenticidade dos objectivos concretos perseguidos por ela, relativamente a essa mal tratada Humanidade.

Na ressaca da São Valentim

Festejado no mundo inteiro e na mesma data, o dia dos Namorados, será, sem dúvida, um belo e raro exemplo de Harmonia e Sintonia entre os diferentes povos deste nosso planeta.

Neste dia, ano após ano, os homens, cujo coração tem dono, partem religiosamente em busca de um presente para oferecer à sua Amada, em sinal do seu Amor. Com idêntica finalidade, encontramos, felizmente, hoje em dia, uma grande quantidade de mulheres que, querendo dar igual prova de Amor ao seu homem, dedicam o tempo necessário à procura da referida e amorosa lembrança para lhe oferecer.
Além da troca de presentinhos, uma parte significativa dos contemplados, prefere reservar uma mesa no restaurante, para garantir um jantar fora da casa, jantar esse que se quer o mais romântico possível.

Todo o simbolismo que sobressaí deste dia especial, demonstra claramente que ainda existe no coração dos intervenientes, Amor, Atenção e Dedicação para com a pessoa Amada. Esquecer essa data, seria certamente muito mal interpretado pela cara metade, podendo até criar uma crise séria no aspecto relacional do casal.

Curiosamente, embora por motivos religiosos, também existe na altura do Natal, uma tradicional troca de presentes, alargada essa, aos familiares, amigos e outras tantas pessoas queridas e estimadas, onde tradicionalmente também, além das ofertas materiais, são reciprocamente trocados desejos de Paz e de Amor.

A intensidade destes sentimentos calorosos, acompanhados de uma clara demonstração de boas intenções, vivida em ambas as datas por parte significativa da humanidade, comprova que o ser humano, na sua génese, ainda tem, quando quer e /ou quando manda a tradição, uma invulgar capacidade de fomentar e exteriorizar pensamentos e actos, tão bonitos como generosos em favor de outrem.

Se eu tivesse que lançar e dirigir um apelo genuíno aos homens de boa vontade, diria simplesmente o seguinte:

Saibamos, cada um de nós, com força, coragem, determinação e inteligência, fazer de todos os nossos dias, um dia de Natal e um dia dos Namorados, para reaprendermos a viver, juntos, em Paz e harmonia com os nossos semelhantes, da mesma forma que somos capazes de manifestar esse mesmo Amor e essa mesma Harmonia, com aqueles que verdadeiramente Amamos.

Ganharia a Humanidade inteira e consequentemente, ganharíamos cada um de nós. Todos nós.

Se pensarmos bem, é incomensuravelmente mais simples viver em Paz e Harmonia com os outros, do que escolher consciente e teimosamente viver, dando lugar a toda a espécie de sentimentos nefastos, que envenenam gravosamente a nossa vida quotidiana, ferindo, quando não matando inútil e gratuitamente os nossos irmãos.

Era giro e maravilhoso, fazer da bondade e do respeito pelo outro, uma nova forma de vida, uma nova moda, daquelas que pegam entusiasticamente em grande escala e embelezam simultaneamente as pessoas e os seus horizontes.

Que bom poder sonhar acordado !! Passar do sonho para a realidade, depende exclusivamente de nós, de cada um de nós.

Pela minha parte, não me importo de mandar para o diabo todos os pensamentos adversos; pois concedo a esse anti-Cristo a primazia de fazer deles, o melhor proveito possível.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sociedade e decadência

Creio que, se fosse consultado o sentimento da população, relativamente ao estado actual da sociedade civil e ao futuro sombrio que se adivinha, uma maioria esmagadora de pessoas responderia, certamente, que, num conjunto alargado de situações, se assiste inexoravelmente a uma deterioração qualitativa, tão nítida como generalizada, pela simples razão, que as próprias consequências da evolução desta nossa sociedade, afectam gravosa e indiscriminadamente, as pessoas que representam essa esmagadora maioria.
Nos principais sinais dessa evolução negativa, podemos nomeadamente realçar, numa ordem aleatória : o desemprego, a pobreza, a precariedade na saúde e a proliferação de doenças infecto contagiosas, a criminalidade leve e agravada, o dramático aumento da toxico-dependência e suas terríveis consequências sociais e financeiras, a multiplicação e a duração dos conflitos armados à escala planetária, o constante aumento do custo de vida e a inevitável perda do poder de compra, a subida descontrolada de todas as formas de poluição e consequente degradação do ambiente, a corrida desenfreada aos recursos naturais não renováveis, a sinistralidade nas estradas, a proliferação desordenada de armas de fácil aquisição, os fenómenos alarmantes da crescente corrupção, a começar pela do Estado, a impunidade generalizada dos corruptos e corruptores, o gritante enriquecimento dos ricos e poderosos, inversamente proporcional ao empobrecimento das populações, os problemas ligados à imigração clandestina, a diminuição das liberdades individuais, uma democracia periclitante, o assustador e inexorável avanço do fanatismo religioso islâmico e respectivo terrorismo, etc, etc.
É claro que, numerosas e diversas são as razões que estão na base desse indiscutível e preocupante agravamento da actual situação. Todavia, encontraremos uma, que, por si só, terá a capacidade de explicar e dar a entender as principais causas desse descalabro generalizado. Uma, que não é uma consequência directa dos sinais acima indicados, uma que não tem necessariamente a sua verdadeira raiz num dos males que tanto afectam esta nossa sociedade. Uma, que vem das próprias entranhas do indivíduo, na sequência da diminuição, quando não da eliminação pura e simples, de determinados critérios e de parâmetros, que, há muito, deixaram de ser ensinados pelos pais e educadores. Uma, que deixou de ser considerada como sendo indispensável para se ser “alguém”. Uma, que não se transacciona, portanto, que não se compra e também não se vende.
Este quase misteriosa razão, é, no entanto, tão óbvia como demasiadamente predominante na explicação do declínio generalizado dos aspectos qualitativos que fizeram e garantiram, outrora, uma forma diferente de se viver em sociedade. Uma forma diferente dos humanos se relacionarem entre si. Uma forma igualmente diferente das pessoas encararem o verdadeiro e imprescindível amor-próprio e o indispensável orgulho individual.
Para falar verdade, trata-se tão simplesmente de uma razão à qual, num passado ainda recente, se atribuía uma importância capital. A transmissão da mesma e o seu ensino, eram, sem nenhuma espécie de comparação com os dias de hoje, vital e sistemática, alem de obrigatória. Estamos a referir-nos aos sacrossantos VALORES MORAIS, ou, aliás, à sua cada vez mais indisfarçável ausência, que deixaram há muito de ocupar o lugar de primeira escolha no comportamento particular das pessoas, aquele que realçava eficazmente a diferença entre a noção de excelência e a da mediocridade do indivíduo.
É tão indiscutível como lamentável, que a eliminação gradual destes “valores morais”, represente simultaneamente o inevitável surgimento de características potencialmente perigosas, tanto para o indivíduo, como consequentemente para a sociedade na sua vertente colectiva, tais como: o egoísmo, a cobiça, o individualismo e a desmedida avidez de dinheiro, que juntas levam à desvalorização da vida humana e valorização da miséria.
Sem o domínio absoluto e o recurso constante aos verdadeiros “valores morais”, não pode haver respeito, nem para nós próprios, nem tão pouco para os outros. Sem respeito, não há regras e sem regras, prevalece a lei da selva, a do salva-se quem puder. Daqui até a anarquia, só há um passo. Um passo que diferencia a inteligência da bestialidade, da estupidez, da grossaria e da parvoíce. Um passo que apenas separa a paz da guerra. Um passo que determina a vida ou a morte. Um passo que pode significar o princípio do fim, em vez do renovar da esperança de que tanto necessitamos.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O nosso legado,

A sabedoria popular recomenda que, ao longo da sua vida, um homem deve conseguir três feitos importantes: plantar uma árvore, fazer um filho e escrever um livro.
Cada um destes feitos são supostos representar um legado para toda ou parte da sociedade. A árvore terá por efeito renovar e perpetuar todo o simbolismo da natureza em benefício dos outros. O filho, dará continuidade ao nome da família e em alguns casos, à obra deixada pelo pai. O livro, representará uma forma material de deixar e transmitir para quem necessite, uma determinada experiência de vida contendo ensinamentos preciosos para o seu leitor atento.
Todos sabemos que poucos são, de facto, os homens, que antes de voltarem para junto do criador, conseguem empreender e completar os três feitos em questão. Pele minha parte, e apesar de estar consciente da fraca adesão a essa tal sabedoria, defendo a ideia de que, além de toda a educação e do ensino tradicionais, a cargo e à responsabilidade dos pais e da escola, também deveria ensinar-se aos filhos, a necessidade de cada um imaginar, empreender e completar uma obra que reverteria em prol da humanidade e do seu bem estar; pois limitar a visão do ensino a uma preparação meramente pessoal, tendo em vista um ambicionado sucesso, também prioritariamente individual, equivale a alhear o indivíduo da necessidade de pensar e agir em comunhão com outros, numa ou várias acções concretas, destinadas a interagir eficazmente com a sociedade humana. Por não se verificar essa forma de solidarizar-se com o mundo anónimo que fervilha à nossa volta, sofremos de um individualismo tão exacerbado, que os outros se tornam concorrentes, ou mesmo adversários, quando não inimigos, literalmente. É frequente ouvir, da parte de quem se sente amargurado com a vida, que os outros são sempre responsáveis directos ou indirectos pelo seu insucesso.
Em vez de estarmos “com” as pessoas, somos formados e exercitados para estarmos “contra” elas. Se multiplicarmos por milhões tais raciocínios e tais comportamentos, começamos a entender melhor o porquê dos múltiplos conflitos que agridem, prejudicam e aniquilam as sociedades actuais. Se a essa infinitamente triste realidade, acrescentarmos a presença constante do dinheiro, a sua inegável força egocêntrica e o carácter profundamente negativo do poder absoluto desse mesmo dinheiro, teremos encontrado a explicação para a esmagadora parte dos males que contaminam e destroem inexoravelmente o coração das sociedades contemporâneas.
Como eu tive oportunidade de escrever no meu livro, “Os Implacáveis Inimigos do Homem e da Paz”, Dinheiro, Política, Religião, (a aguardar edição), cujo conteúdo gira à volta do Homem, da sua vida, dos seus amores e dos seus ódios, o actual caminho por onde anda a humanidade, está tão cheio de erros, de perigos e de inconsciência, que só pode levar essa mesma humanidade em direcção ao abismo, de onde, como se sabe, não há retrocesso possível.
Será que ninguém se apercebe dessa assustadora realidade e dos riscos sem apelo que todos corremos ? Caso hajam pessoas, ou grupos, que tenham consciência dessa situação, porque razão não empreendem nada de sério e eficaz, para impedir esse suicídio colectivo e, pior ainda, porque razão continuam essas pessoas a procriar inconscientemente, sabendo que estão oferecendo aos seus filhos e descendentes, um bilhete de ida simples para um inferno globalizado ?
Importa que cada um se convença de que, para os homens de boa vontade, nunca é tarde demais para que reconheçam os seus próprios erros, para juntar-se aos outros, arquitectar e por em prática, em boa inteligência com eles, soluções capazes de colocar a humanidade no bom caminho.
Uma das verdadeiras razões que explicam o estado calamitoso a que se chegou, reside no simples facto de que o Homem não passa de um simples mortal, consciente do carácter tão efémero como inelutável da sua passagem e que, afinal, nem valerá a pena preocupar-se em demasia com tudo isso porque, quem virá depois, terá que se desenrascar para tentar salvar a sua pele.
Por outras palavras, depois de mim, o dilúvio; na maior das indiferenças.