sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Crise Financeira

O verdadeiro cataclismo financeiro, que, em primeira mão, afectou grande parte das principais instituições americanas especializadas na alta finança, levanta as mais sérias dúvidas sobre os fundamentos do sistema financeiro, na sua forma actual, assim como, nos instrumentos de controlo, federais e governamentais, supostos garantir um funcionamento exemplar.

Assim, face à assustadora sucessão de falências verificada em autênticos impérios financeiros, sejam eles bancos ou seguradoras, importa reflectirmos sobre alguns pontos que parecem essenciais na compreensão dos acontecimentos, de maneira a permitir que o cidadão anónimo, também possa tirar as suas próprias conclusões :
(1) Tornou-se imprescindível para as autoridades americanas encontrarem e divulgarem publicamente as origens exactas e geradoras desta derrocada institucional, de proporções ainda desconhecidas.
(2) Informarem as populações em geral, sobre as consequências a curto, médio e longo prazo para a economia mundial, no seu conjunto, (empresas e particulares).
(3) Decidirem quais as medidas, inteligentes e duradoiras que, com caracter de urgência, deverão ser tomadas para, de um lado, tentar minimizar o mais possível o desastroso efeito dominó verificado em diversos sectores da economia americana assim como além fronteiras e por outro, criar as condições sólidas, que, garantidamente, impedirão que, no interesse geral, tais aberrações venham a repetir-se no futuro.
(4) Utilizarem todos os meios possíveis para conseguir o apuramento das responsabilidades, consequente julgamento e punição dos verdadeiros culpados, independentemente dos nomes e lugares que desempenharam na hierarquia destes impérios e instituições.
(5) Reunir o maior número de especialistas à escala mundial, para, juntos, aplicarem uma terapia, para sarar uma doença que não se limita exclusivamente à economia americana.

Curiosamente, mais uma vez, as raízes dessa gravíssima crise são americanas, como já foi o caso na bolsa de Wall Steet, Nova Iorque em 1929 e têm por origem, um país que, porventura, ocupa o primeiro lugar na economia do mundo (por enquanto), pois a China e Índia estão progredindo a passos de gigante, como também, num país que se arroga o direito de querer ser o patrão e o polícia do mundo, sem que nenhum outro consiga, nem controlá-lo, nem intimidá-lo, até hoje.

Parece evidente que a primeira causa deste cataclismo se encontra nas próprias bases do actual sistema, dito capitalista.

Sabendo que a criação, edificação, administração e controlo do referido sistema é de origem humana, importa perguntarmo-nos se o Homem terá criado essa engenharia financeira a pensar no posterior proveito próprio, ou se, por falhas do mesmo sistema, o Homem arquitectou sabiamente planos, para tirar proveito das suas falhas. (caso não sejam as duas).

Além das “falhas técnicas” que, agora, tardiamente, estão a ser investigadas pelo FBI, houve erros graves quanto ao persistente aumento das taxas de juros, que tornavam insustentável a amortização dos créditos concedidos, sem falar da ausência de critérios sérios, que permitiram conceder créditos a clientes que não ofereciam as indispensáveis garantias, por insuficiência de solvabilidade. (subprime). É claro, que a própria (FED) Reserva Federal americana, tal como as autoridades governamentais daquele país, também têm a sua enorme quota parte de responsabilidade, nas premissas da actual crise, ou melhor, deste cataclismo financeiro. Por cá, a Euribor atinge recordes de altura, ainda nunca vistos e ninguém faz nada !

Em qualquer dos casos, no coração deste sistema financeiro, existem instituições e práticas (bolsas e acções), que foram criadas a pensar exclusivamente no estranho fenómeno da especulação, capaz num curto espaço de tempo, de propiciar ganhos ou perdas de proporções incomensuráveis, sem todavia interferir de forma alguma com qualquer criação de riqueza (PIB), suposta beneficiar a sociedade em geral !

Como explicar, que pelo simples jogo de bastidores, a cargo de meros especuladores, determinadas empresas, acções ou produtos (ex: petróleo), possam vir a valorizar ou desvalorizar drasticamente no espaços de horas, sem que as referidas empresas ou produtos, tenham sofrido alterações capazes de justificar essas variações que se cifram rapidamente em milhões ?

Como explicar, que pelo jogo “sujo”, exclusivamente ditado pela ganância incontrolada e desmedida de alguns, seja possível prejudicar milhares ou milhões de pessoas, na suas qualidades de: clientes, reformados, aforradores, proprietários imobiliários, etc, etc, ao ponto de perderem parte ou tudo daquilo que tinham confiado a este sistema financeiro e para ao qual trabalharam uma vida inteira? De facto, como, tão poucos, podem arruinar tantos outros, em tão pouco tempo?

Que faltará ainda acontecer de grave, de mais grave, de dramático, de assombroso, para que, Homens dignos desse nome, venham mudar de vez as regras que sustentam aquele ultrapassado e moribundo sistema ?

Quem defende e quem irá compensar as numerosas e inocentes vítimas destes falsos financeiros, criminosos sem escrúpulos, que só ouvem os seus baixos impulsos, tremenda e limitadamente egoístas ??

Como será possível, que a existência de fraudes em tão grande escala e à luz do dia, tenham transformado as bases que sempre sustentaram estes impérios financeiros, em incríveis pés de barro que os fizeram ruir, num piscar de olhos ?

Porque razão, a história da humanidade demonstra que são sempre e eternamente as maiorias, a serem vítimas de minorias ?

A palavra final : Antes deste cataclismo, eram alguns a enriquecer por excesso de ganância e de ambições pessoais. Uma vez a bolha rebentada, são milhões a pagar a factura. Só faltava agora que os corruptos do sistema fizessem vencer a impunidade !

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Os sonhos e os pesadelos da União Europeia,

O NÃO da Irlanda ao referendo sobre o recém elaborado Tratado de Lisboa, suscita três reacções distintas, conforme a posição e a natureza de quem estiver a analisar este resultado.

1). Para alguns, nomeadamente, os que votaram pela negativa, a reacção é compreensivelmente de alegria, por terem alcançado a desejada vitória, que curiosamente, poucos saberão explicar pormenorizadamente !

2). Para os que colocaram uma cruz no SIM, no boletim de voto, fica a tristeza e a decepção de uma derrota, com sabor amargo, por terem plena consciência de que a Irlanda acabara de afogar as esperanças reunidas dos outros vinte e seis países, que, naturalmente, quiseram acreditar no sonho europeu.

3). Para os muitos milhares de cidadãos irlandeses, (a maioria deles), que optaram, “democraticamente”, por abster-se, deixando aos outros o cuidado e a responsabilidade de tentar viabilizar o que sobra de uma UE mais adoentada do que nunca, não se trata, agora, de lamentar a tristeza ou exteriorizar qualquer alegria inerente ao resultado, mas sim, com o passar do tempo, de sentir, (oxalá), um sentimento de vergonha, por terem tido a má fé e a cobardia de não dar o justo valor às verdadeiras raízes do sucesso económico de uma Irlanda, rica e confortável, que, sem os numerosos apoios dessa mesma União Europeia, permaneceria certamente na lista dos mais pobres e menos desenvolvidos da UE.

Que conclusões podemos e devemos tirar dessa consulta e deste resultado ?

- A primeira de todas, é que a Comissão europeia, suas instituições, e seu parlamento, não souberam tirar os importantes ensinamentos do histórico NÃO da Holanda e da França em 2005, na precedente consulta popular.

- A segunda, é que Portugal, o seu Primeiro Ministro e o seu governo, também não quiseram ou não souberam prever o futuro, que se encontrava comprometido desde 2005, na sequência da rejeição do primeiro Tratado.

- A terceira, é que, à boa maneira lusitana, depois do Tratado ter sido assinado pelos países convidados e participantes, numa festa tão grandiosa como dispendiosa, que teve lugar em Lisboa, no Mosteiro dos Jerónimos, com a presença dos omnipresentes médias audiovisuais de toda a Europa e do resto do mundo, lançaram-se ruidosamente os foguetes antes da festa, apesar do presidente francês, Nicolas Sarkosy, ter conseguido um acordo de última hora com os irmãos polacos que partilhavam então as rédeas do poder em Varsóvia.

- A quarta, despender grandes somas de dinheiro dos contribuintes, tendo em vista o planeamento de um cada vez mais hipotético futuro da UE, baseando-se simplesmente na conhecida capacidade dos políticos e na dos cidadãos eleitores, que nem sequer leram ou alcançaram os verdadeiros objectivos contidos no referido Tratado, prova que houve uma real ingenuidade na crença de que se podia transformar o sonho em realidade, pela simples vontade de alguns.

Continuar a partir de agora, ou, melhor, a partir da estaca zero, depois deste NÃO irlandês, com o teimoso objectivo de querer construir o que aparentemente não quer ser construído, pelo menos, nem com essa política de alargamento, nem com os actuais responsáveis políticos, será extremamente difícil, sem previamente tirar as importantes lições do passado e do presente da Europa e do mundo.

Parafraseando Winston Churchil, que afirmava que “A guerra era um assunto demasiado sério para ser confiado aos militares”, pode-se dizer, agora, depois de um terceiro país rejeitar a ideia desse Tratado (remodelado), que a política é igualmente um assunto demasiado sério e complexo, para ser confiado às populações, que por muito bem sucedidas que estejam na vida, não possuem nem a formação, nem o discernimento necessários, para se pronunciar sobre questões, que, nem os próprios políticos entendem e dominam inequivocamente.
As consequências, imediatas e futuras, desse resultado, são, em primeiro lugar, um sério revés na credibilidade da UE, perante o resto da Europa e o resto do mundo, numa altura particularmente sensível, na medida em que o poder mudou disfarçadamente de mãos no coração da poderosa e enigmática Rússia, nos USA, a casa Branca irá igualmente mudar de inquilino em Janeiro de 2009, a China persiste em querer dar lições ao mundo, sem infelizmente ser capaz de ouvir as opiniões desse mesmo mundo, a África encontra-se cada vez mais doente e esfomeada, continuando a saque, por uma dúzia de ricos e poderosos ditadores que, nem a ONU incomoda, o Irão já afirmou repetidamente que não tenciona desistir do seu sonho nuclear, os Balcãs, por muito que se diga ou que se deixe crer, ainda representam uma hipótese de destabilização que poderá alastrar-se a outras zonas do continente, o Paquistão muçulmano e nuclear, assemelha-se cada vez mais a um barril de pólvora, o inexpugnável Bem Laden, continua a monte, apesar dos poderosos e sofisticados meios americanos e não só, as forças da coligação, (bonita imagem), ao longo dos anos, continuam a afogar-se nos enlameados Afeganistão e Iraque, e o conhecido Médio Oriente, continua incansavelmente fiel a si mesmo, etc, etc...
Por isso, e em especial por tudo isso, a responsabilidade da Europa e do seu projecto de União, é cada vez maior, perante as ameaças a médio e longo prazo, que surgem vindas de todas as direcções, de todos os continentes, sem falar dos assombrosos perigos que representam os avanços incontestáveis de um Islão radical e a caminho de uma maior radicalização.

Que ninguém tenha dúvidas, de que o futuro do mundo e do nosso planeta, tem as suas maiores raízes nessa Europa pacificada e por enquanto, equilibrada. Desperdiçar o papel da Europa no mundo, deixando os seus detractores livres de agirem, é uma forma de atentado em prejuízo da humanidade, cujo futuro e bem-estar, é incomensuravelmente mais importante do que as eternas clivagens políticas, há muito e ainda ridiculamente reduzidas, entre uma demagógica esquerda e uma direita envelhecida e ultrapassada.






quinta-feira, 12 de junho de 2008

Portugal no seu melhor,

Como todos sabemos, ao longo das últimas três décadas, Portugal tem sido governado por políticos cuja esmagadora maioria, enquanto demostrava ser exímia a falar e a prometer, provava simultaneamente ser profundamente incompetente na gestão dos diversos sectores do país, nomeadamente, aqueles ligados aos aspectos de ordem económica e consequentemente, também incapazes de defender os legítimos interesses dos cidadãos que, com o seu trabalho e as suas crescentes e omnipresentes contribuições, têm sustentado os responsáveis por essa autêntica e desastrosa política de miséria, que nos envergonha a todos.
Prova dessa incapacidade, é que Portugal, apesar da “pesada herança recebida da União Europeia”, constituída por inúmeros bilhões de euros, graciosamente dados em subsídios e outras ajudas, por tudo e por nada, nunca esteve tão empobrecido e endividado, com uma produtividade tão baixa, com tanto desemprego e empregos tão precários, com tanto crédito mal parado, com tantos cheques sem cobertura, com tão pouco investimento estrangeiro, com tanta insegurança, com tanta fome, com tanta impunidade e onde o custo de vida é estranhamente superior ao da vizinha Espanha, outrora tão pobre como nós, enquanto os salários nacionais são vergonhosamente os piores da Europa.
Os únicos que parecem estar alheios a essa profunda crise de valores e de dinheiros, serão certamente os que souberam tirar proveio do chamado clientelismo político, ou seja, os que, graças a uma corrupção galopante, enriqueceram os corruptos, em cada vez maior número e os seus próprios bolsos, seguramente guardados e ou registados em off shore, de onde, nem o Estado, dito de direito, nem a sua “exemplar” Justiça, seriam bem vindos para averiguações, caso houvesse real vontade política para tal.
Curiosamente, a totalidade dos inquilinos das prisões, têm todos um ponto em comum : são todos pobres ! A principal razão que os levou para trás das grades, é certamente a inveja de ver que, enquanto uma minoria de privilegiados têm tudo e mais alguma coisa, esbanjam sem pudor a sua indecente fortuna de origem duvidosa, os outros, os que efectivamente trabalham e produzem algo, ficam reduzidos a uma posição de insignificância, onde já é moda entrar em guerra com seus semelhantes, nem que seja para disputar e apanhar as porcas migalhas que, inadvertida ou prudentemente, os ditos privilegiados deixaram cair.
Das duas uma, ou existem prisões altamente secretas para esconder ricos, poderosos e outros privilegiados, ou então, ninguém dessa gente chegou de facto a ser condenado pela “Justiça”, sendo sistematicamente ilibados dos crimes imputados, ou ainda, são felizes beneficiários das apropriadas e bem vindas prescrições, “legalmente” previstas na lei.
Enquanto tudo isso acontece, o país continua eficazmente a caminho de um ponto de empobrecimento sem retorno, encontrando-se compreensivelmente em último lugar do ranking dos vinte e sete países membros da UE.
Para ajudar à festa, os produtores de petróleo e demais especuladores sem vergonha, em comum acordo, resolveram encher ainda mais os bolsos, (que já estavam cheios), fazendo disparar o preço desta matéria prima para níveis totalmente insustentáveis para uma economia considerada normal, quanto mais para uma economia já tão debilitada, como é o caso da nossa, (e a dos políticos, também) !!!
Como se tanta desgraça junta não chegasse, os senhores camionistas, usurpando direitos e infringindo a lei, resolveram olhar para os interesses exclusivos da sua classe, bloqueando estradas de Norte a Sul do país, tornando assim reféns mais de dez milhões de portugueses, já altamente prejudicados pelo Estado e seus fieis servidores, aliás, reis e donos deste cantinho à beira-mar plantado.
É pena que estes senhores camionistas, certamente prejudicados também pelos altos preços do gasóleo, não tenham querido ver que não eram os únicos a ser vítimas da loucura dos preços, tendo em conta que os outros contribuintes, individuais ou colectivos, também suportam, à sua escala, os referidos aumentos.
Com que direito uma corporação inteira impõe a sua lei, a lei da selva, à restante população ? Será isso democracia ?
Em vez de bloquear o povo que, além de ser seu cliente, não tem culpa nenhuma do que está a acontecer, os senhores camionistas, também parte integrante desse mesmo povo, deveriam antes, bloquear as instâncias e serviços do Estado, tais como : as forças da ordem, os militares, os deputados, os ministérios e seus ministros, as finanças, as refinarias da Galp e assim sucessivamente. Dessa forma, as negociações chegariam a um consenso em poucas horas.
Entretanto, as prateleiras da distribuição vão ficando vazias ou desfalcadas, o que, além de aumentar a fome, não vai resolver nada, pelo contrário. Na melhor das hipóteses, vamos assistir a uma guerra entre a parte refém da população e os senhores camionistas, também novos reis e donos disto. E depois, o que veremos e sofreremos ainda, enquanto o governo da nação afirma não poder fazer nada em favor dos camionistas, por falta de margem de manobra !!!
O culpado disso, chama-se equilíbrio fiscal e é mais importante que o bem estar do povo !!!
Alguém, neste governo sempre arrogante e prepotente, tentou calcular os custos financeiros para o Estado das numerosas consequências da presente situação ? Será que um gesto de compreensão em favor dos senhores camionistas não sairia mais barata à nação inteira ?
Felizmente, nem tudo está mal. Encontrou-se uma nota de optimismo. Enquanto o país, sua população e seus agentes económicos já não conseguem sustentar os luxos do Estado, nem a sua própria e humilde sobrevivência, seja por excesso de inconsciência, seja por excesso de lucidez perante essa agonia nacional, assistimos, impávidos e serenos, a uma verdadeira loucura colectiva que se arrogou o direito de ajudar os senhores camionistas a bloquear o país, suspendendo qualquer actividade profissional, para prosternar-se perante o futebol e seu campeonato de qualquer coisa, outro rei e dono disto.
Haja paciência !! Haja moralidade !! Haja pudor e inteligência !! Sem essas imprescindíveis virtudes, onde iremos parar ??
É incomensuravelmente triste, para não dizer lamentável, que um país, outrora tão glorioso e bem sucedido, já não seja capaz de inspirar-se do seu honroso passado, para se conhecer melhor a si próprio, de forma a aprender e ser capaz de construir e garantir um futuro minimamente honroso para as gerações vindouras. O último a sair que feche a porta !!!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O Homem, o Petróleo e o Capitalismo,

Os meios de comunicação social têm chamado a atenção do grande público sobre o facto de os ricos serem cada vez mais ricos e o pobres cada vez mais pobres e também cada vez mais numerosos.

Os recentes acontecimentos, relativos aos sucessivos aumentos do preço do barril de petróleo, demonstram, por um lado, a triste veracidade dessa notícia e por outro, revelam uma tendência para um substancial agravamento da situação. No entanto, na sequência dos referidos aumentos, surgiram situações perfeitamente anómalas, que ainda não foram explicadas por parte de quem tem obrigação moral e política de vir a terreiro prestar contas aos contribuintes.
Face a esse silêncio e para tentar clarificar a problemática desses aumentos, importa lembrar os principais factores que, à escala internacional, influenciam directamente a fixação dos preços de venda dos combustíveis ao consumidor.

- Em primeiro lugar, sabendo que foram descobertas novas e importantíssimas reservas de petróleo na África e na América Latina, afasta-se cada vez mais o espectro do próximo esgotamento das respectivas reservas. Esse factor positivo, deveria provocar a redução dos preços e não o contrário. Convém aliás reparar que graças às novas reservas encontradas ao longo dos últimos trinta anos e graças também aos novos métodos de pesquisa, de perfuração, de captação e de tratamento, o hipotético fim do petróleo beneficia de um permanente adiamento, apesar do seu consumo ter aumentado exponencialmente, durante esse mesmo período de tempo.
- Em segundo lugar, os preços de referência do barril, nas bolsas de Nova Iorque e de Londres, expressos em Dólares americanos representam normalmente mais um argumento que justificaria uma descida dos preços aos consumidores, tendo em conta que o petróleo é negociado e pago em Dólares US, que, por sua vez, viram a sua paridade com o Euro baixar sensivelmente desde o início do ano em curso.
- Em terceiro lugar, a redução do elevado grau de dependência para com o petróleo, graças ao desenvolvimento tecnológico de energias alternativas, ( Bio combustíveis, energia eólica, etc, etc ), utilizadas com sucesso na industria automóvel, assim como na distribuição energética para uso domestico e público, deveria igualmente reflectir-se numa nova redução do preço base dessa matéria prima.
- Em quarto e último lugar, as principais zonas geográficas onde existem os conhecidos conflitos armados, (Iraque, Afeganistão, Médio Oriente), registaram uma certa diminuição de intensidade e consequentemente de vítimas, o que também deveria contribuir para tranquilizar os investidores e outros especuladores e ser mais um importante factor de descida de preços.

Como os argumentos acima indicados não podem servir de bode expiatório para tentar justificar os referidos aumentos do preço de base do barril, os relatórios das bolsas de Nova Iorque e Londres, desesperadamente à procura de outras explicações, indicam que as razões da falta de estabilização dos preços e consequente subidas, têm as suas origens na ligeira deterioração da situação económica americana, provocada pelas chamadas Subprime, ou bolha imobiliária, que rebentou por culpa exclusiva dos bancos, à procura de lucros fáceis. Sendo os referidos bancos geralmente accionistas das empresas petrolíferas, ganham agora, de um lado, lucros gigantescos, que compensam evidentemente o que não conseguiram ganhar no imobiliário, do outro lado.

Na verdade, o que determina os recentes e sucessivos aumentos, não é nada mais do que uma concertada política de forte especulação, destinada a proporcionar agigantados lucros para alguns, lucros esses pura e simplesmente sustentados pelos milhões de milhões de consumidores contribuintes, que, por não se encontrarem devidamente organizados, suportam estes repetidos aumentos, à custa de muitos sacrifícios.

É de lamentar que a maioria dos políticos, em vez de defender eficazmente os soberanos interesses das populações e dos agentes económicos que juntos, sustentam o Estado e seus muitos funcionários, preferem sorrateiramente esfregar as mãos de contentes pela entrada repentina destes encaixes de receitas extraordinárias, que, certamente, irão alimentar parcialmente os invisíveis circuitos paralelos da alargada corrupção, aliás, denunciada em boa hora pelo João Cravinho, antes dele ser habilmente afastado para a Inglaterra pelo seu próprio partido.

Procedendo dessa forma, importa termos consciência de que os políticos de segunda categoria, ajudados por várias espécies de especuladores sem vergonha, estão insidiosa e perigosamente, a abalar as bases do actual sistema sócio económico, dito capitalista, que, reconhecidamente, longe de ser o sistema perfeito, tinha e ainda tem comprovadamente a virtude de ser o único que tem funcionado até agora, com mais ou menos eficácia.

Uma das provas irrefutáveis da má fé dos governantes, reside no facto que, enquanto o Estado persegue os contribuintes individuais e colectivos, por tudo e por nada, esse mesmo Estado, arroga-se um direito, aliás inconstitucional, de tributar impostos sobre outros impostos, como é o caso do IVA sobre os ISP (impostos sobre produtos petrolíferos), ou ainda, no caso do IVA sobre o IA (imposto automóvel). É caso para perguntar: Quem vigia e condena o Estado quando ele se encontra fora da lei ?
Para se sustentar a si próprio e sustentar os milhares de lugares de conveniência, o Estado continua a preferir o caminho fácil da tributação de impostos, em vez de impor e manter uma sábia contenção da despesa pública, da qual fazem parte vencimentos e regalias principescas atribuídos a um elevado número de altos funcionários.

Caso não prevaleça rapidamente o bom senso, o mundo poderá assistir a uma revolta generalizada das populações desesperadamente empobrecidas por culpa de uma minoria de privilegiados. Alguém está a brincar com o fogo, e, como diz o povo, quem brinca com o fogo acaba sempre por se queimar !!

As pessoas não podem continuar a ser espezinhadas em toda a impunidade por uma cambada de incompetentes, ainda por cima obcecados pelo poder e pelo enriquecimento pessoal.

A quando um levantamento a sério para por ordem nessa infeliz e escandalosa desordem ? Mas afinal, por onde anda o tão apregoado orgulho nacional ?

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Simplex versus Incapacitex,

Numa altura em que o governo PS se orgulha do seu “Simplex”, assim como da sua “inquestionável eficácia” em todos os horizontes, importa dar a conhecer um dos muitos aspectos desta infeliz sociedade, cuja realidade crua e nua, fica longe, bem longe, das mil e uma maravilhas arrogantemente reivindicadas pelo seu responsável máximo.
Era uma vez, uma empresa animada de boas intenções...
Vamos aos factos : esta empresa, animada de boas intenções e desejosa de vender saúde, decidiu comercializar, legalmente, uma linha de Purificadores de Ar, cuja tecnologia é provavelmente a mais avançada do mundo.
Apesar dos aparelhos exibirem as Normas CE, comprovadas numa Declaração de Conformidade, o responsável da empresa, prudente e avisado, fiz questão de contactar a DGS e a ASAE, para se certificar da legalidade da operação.
Enquanto na Direcção Geral da Saúde, lhe foi dito que : “Não se podia comercializar os Purificadores de Ar, sem prévia homologação”, a resposta da ASAE surpreendeu ainda mais: “A nossa função não é informar, mas sim fiscalizar”!
Entretanto, procedeu-se a alguns contactos, junto de potenciais clientes para analisar as suas reacções. Um deles, comerciante, perguntou ao vendedor pela homologação do aparelho. Insatisfeito com a exibição das Normas e respectiva Declaração de Conformidade, o cliente optou por ligar a um dos seus amigos, (inspector da ASAE) que foi peremptório na sua opinião : “Não compre nada disso porque não está homologado”. Quando se lhe perguntou ao abrigo de que Dec. Lei ou norma, o inspector fazia tal afirmação, o silêncio foi a única resposta ! !
Entretanto, firmemente decidida a aclarar o bom fundamento de tal atitude, a empresa resolveu dar seguimento aos seus contactos junto de entidades oficiais e algumas não oficiais, perguntando-lhes : É legal comercializar em Portugal Purificadores de Ar obedecendo às Normas CE, já vendidos e utilizados em outros países da UE” ? Lista dos organismos contactados, além da DGS e da ASAE : Representação da UE em Lisboa / Comissão de Higiene e Segurança / Instituto Nacional da Propriedade Industrial / Direcção Geral das Actividades Económicas / Direcção Geral de Energia e Geologia / Instituto do Ambiente / Agência para a Energia / Comissão Coordenadora para o Desenvolvimento Regional / Instituto Português de Qualidade / Instituto Português de Acreditação / Universidade Técnica de Lisboa / Universidade Católica / Instituto Superior Técnico / Ordem dos Engenheiros / Adene / Ministério da Economia e da Inovação / Direcção Geral das Empresas / Ministério da Saúde / Direcção Geral das Instalações e Equipamentos da Saúde.
Importa referir que a maioria destes contactos, foram feito no seguimento dos conselhos dados por cada um destes organismos, sob o pretexto de que : “Nada sabiam informar relativamente a essa questão”, ou, então que : “Este assunto não é da nossa competência, é melhor o Sr. contactar ...”
Resultado, não podendo viver do ar, mesmo daquele garantido pelos Purificadores de Ar, a equipa de venda, contratada e formada para o efeito, não resistiu a três longas semanas recheadas de intensa confusão, indecisões e despesas infrutíferas e resolver abandonar antecipadamente o projecto !
Logo a seguir, ainda convicta da viabilidade das suas boas intenções, a empresa, aconselhada por uma pessoa amiga, contactou o Instituto de Soldadura e Qualidade, (ISQ), que entre outras qualificações técnicas, controla também a qualidade do ar. Depois de um engenheiro deste organismo ter verificado os aparelhos e a respectiva documentação, o mesmo garantiu categoricamente a plena legalidade do projecto, legalidade essa, que ficará oficializada por um Certificado, entretanto requisitado pela empresa ao próprio ISQ, para que não haja mais dúvidas.
Entretanto, considerando tratar-se de aparelhos cujos benefícios revertem em favor da saúde da população e consequentemente em favor das finanças públicas, que com mais saúde gastam muito menos, foi questionado o departamento da Concepção do IVA com a finalidade de atribuir aos referidos aparelhos uma taxa de IVA bonificada. A resposta foi curta e simples : “Tal não é possível por falta de enquadramento” !!
É caso para perguntarmos se o Estado não estará minimamente interessado em melhorar a saúde das populações !!
Que conclusões podem ser retiradas desta caricata aventura ? Que país é este, onde ninguém, (pago para saber), sabe responder com precisão e inteligência, preferindo sacudir a água do capote ? Onde está o orgulho pessoal e profissional desta gente ? Como melhorar o já complicado presente e construir o futuro risonho com tanta leviandade e irresponsabilidade ? Será que foi com tais atitudes e comportamentos que se ergueu o sempre falado orgulho nacional ?
Coitado do pobre Luís Vaz de Camões que deve dar saltos e sobressaltos nos seu túmulo dos Jerónimos !
Visto por outro angulo, mas afinal, onde está o retorno dos inúmeros investimentos feitos à custa dos incessantes e multi-milionários subsídios vindo da UE, desde a sua adesão ao clube dos ricos em 1986 ? Quem de direito, explica e justifica tanta incompetência junta ? Será que parte desse muito dinheiro caiu “milagrosamente” em mãos alheias ?
Algo de profundamente errado se encontra alojado no ensino em geral, na formação profissional, na chefia desta gente, por não saber explicar, gerir e controlar, etc...
De uma certa forma, tal realidade nua e crua, por muito que custe aceitar e acreditar, equivale a ser um verdadeiro insulto para os cidadãos que “sofrem” de honestidade e de respeitabilidade para com as regras estabelecidas e que sustentam com seus impostos os referidos organismos.
Apetece mesmo...

terça-feira, 22 de abril de 2008

A vida, este milagre da mãe natureza,

A vida, tal qual a conhecemos, pode naturalmente ser interpretada de formas diferentes e que variam, consoante ouvimos as explicações de um antropólogo, um químico, um religioso, um militar, uma cidadão comum, um poeta, ou ainda um criminoso.
Cada um tem, de acordo com a sua ascendência, cultura, crença e fé, ou modo de vida, uma opinião formada sobre as origens desta vida, as razões e os porquê da sua existência e finalidade na Terra, assim como no Cosmos.
Todavia a maioria, senão mesmo a unanimidade dos que estiverem interessados em analisar tão empolgante tema, deverão estar de acordo, quando se diz que a vida aparece envolta em mistérios e complexidade, aos olhos de quem se esforça para entendê-la, como poderá parecer simples e fácil, na óptica de quem se limita apenas e tão só a alinhar os dias que vive, uns atrás dos outros.
No entanto, haverá certamente para ambos, um sentimento comum de deslumbramento perante a própria existência da vida, o que ela proporciona ao Homem, de bom, de útil, como de enigmático, mas cujo encanto ajuda a ultrapassar os referidos conceitos de complexidade e de simplicidade.
Por ter sido abençoada pelo seu carácter, tão único como insubstituível, essa vida que recebemos e vivemos, merece justificadamente, da parte de todos, além de uma natural admiração e um incondicional respeito, a firme obrigação e o dever de ser embelezada, quanto mais melhor, para que a mesma, por sua vez, venha embelezar o Homem e torná-lo realmente feliz.
A vida, este milagre da mãe natureza, tem nas suas múltiplas e por vezes estranhas formas de representação, um ponto comum que une equitativamente todas elas. Independentemente da sua natureza e da sua finalidade, cada uma tem, sem excepções, um nascimento, um desenvolvimento e um fim. Uma indesmentível justiça que coloca todas as espécies vivas num terreno de perfeita igualdade, para a satisfação de uns e o compreensível desagrado ou indiferença de outros.
O que separa as visões individuais de uns e interpretações diversas de outros, relativamente a essa noção de justiça, resume-se afinal a uma mera questão de filosofia e de sensibilidade pessoal de cada um.
Esta verdade, não se reduz à limitada individualidade do SER e dos seus caprichos, ela é a própria essência do carácter intrínseco da vida, na sua dimensão universal.
Se tivermos consciência da verdadeira insignificância da Terra e do Homem, quando confrontados com a incomensurável e desconhecida dimensão do Cosmos, dificilmente conseguimos entender a permanente postura de arrogância e de agressividade a que o Homem tem recurso, para melhor se afirmar perante si, como também e sobretudo perante os outros.
A espécie humana, sendo apenas mais uma forma de vida, no meio de tantos milhões de outras espécies, deveria ter abnegação e percepção suficientes, que lhe permitissem reconhecer e aceitar essa sua autêntica insignificância, para poder colocar-se finalmente no seu exacto e devido lugar, ao lado das outras espécies, numa posição de justificada igualdade e irmandade, em vez de se confinar a uma permanente e lamentável atitude de cobarde superioridade, de onde extraí um poder absolutista de vida e de morte sobre elas, incluindo sobre a o seu semelhante, exemplar da mesmíssima espécie.
Curiosamente, na extensa diversidade das formas de vida criadas pela mãe natureza, algumas delas extraem, da inelutável morte de outras espécies, o indispensável sustento que lhes garante a continuação da sua própria vida.
Até prova em contrário, parece que a espécie humana não se encontra inserida nessa estranha programação natural. Podemos todavia fazer votos, enquanto se mantém inalterada essa programação, para que, o próprio Homem, este SER permanentemente atarefado em tudo reformular, nunca consiga alterar a presente situação de equilíbrio.
Por outro lado, embora pareça uma incongruência, dificilmente se pode falar da vida, sem falar da morte, mesmo compreendendo e aceitando o medo natural que a morte inspira ao comum dos mortais ! Medo, principalmente por duas razões :
A primeira, devido ao facto que a morte significa inelutavelmente, o fim, derradeiro e definitivo da vida, salvo provas irrefutáveis em contrário.
A segunda, porque, apesar da promessa teológica da imortalidade da alma dos crentes, o Homem, este animal inteligente que se orgulha de saber, entender e dominar tudo, ou quase, desconhece por inteiro, se por detrás dessa morte, existirá, ou não, uma certa forma de continuação da existência da entidade humana.
Podemos até admitir que, os que já faleceram e que aqui saudamos carinhosamente, soubessem responder a tão animada e legítima especulação, com factos e argumentos. O problema, é que tanto quanto se sabe, uma vez aberta a porta da mansão da morte e fechada essa mesma porta logo após a nossa passagem para o além, não se conhecem provas circunstanciais de um potencial ou hipotético regresso ao mundos dos vivos ! A vida é assim mesmo !
O peso consequente de tal consideração, tem que ter pelo menos uma arrebatadora virtude, a de incitar e convencer o Homem, a cuidar conveniente e qualitativamente da sua postura de SER, enquanto albergar e desfrutar da vida e dos seus incontornáveis prazeres, que a mãe natureza generosamente lhe deu.
A vida, por muito extraordinária e encantadora que seja, é, e sempre será, uma dadiva temporária, o infinitamente mais precioso presente que o Homem poderia sonhar receber. Por isso, e só por isso, a vida merece ser vivida, encaminhada e acarinhada com muito amor e com muito respeito, de todos. Eis um humilde apelo.
Saibamos estar orgulhosamente à altura desta oferta, única, em Honra da natureza e em Honra da própria vida, também única e passageira...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O Homem, esse animal de contrastes e de extremos !!!

Mais de quatro centenas de milhares de anos após o aparecimento do Homem no planeta Terra e do seu já velho convívio de dois mil anos com os fenómenos religiosos, a civilização humana encontra-se, hoje mais do que nunca, marcada por sucessivas mudanças, que alteram significativamente o mundo e a sociedade, de uma forma tão acentuada como perigosa, em virtude do Homem não ter sido minimamente capaz, até agora, de se domesticar e disciplinar convenientemente a si próprio, neste já longo intervalo de tempo.
De facto, mais nenhuma outra espécie terrestre, viva ou já extinta, terá provocado tantas alterações visíveis à face do planeta, como sempre fez e continua a fazer a espécie humana.
Aliás, além da própria fisionomia da Terra, que o Homem se encarregou de moldar, à medida das suas crescentes necessidades e das suas desvairadas ambições, esse mesmo Homem, sempre se arrogou o direito absoluto de se comportar como sendo o único dono de todas as outras formas de vida, que domina a seu bel-prazer, tais como a flora e a fauna, que sempre foram e irão continuar a ser, de um ponto a outro de um planeta, aliás, já adoentado, as martirizadas vítimas da sua omnipresente intervenção.
Por outras palavras, mesmo que amanhã se extinguisse a espécie humana, o planeta Terra nunca poderia esconder as marcas da passagem do Homem, em todos os continentes, ilhas, mares e oceanos.
Contudo, o Homem não se limita a desfigurar o planeta azul e prejudicar as outras espécies vivas, também desenvolve muita força, imaginação, paralelamente a uma estranha forma de sado-masoquismo, para lesar gravemente os seus próprios interesses e os dos seus semelhantes.
De facto, a atitude cada vez mais conflituosa e destruidora do Homem, já não se contenta em ser dominadora, com o intuito de garantir a sobrevivência da sua espécie, ele age, quase permanentemente, de maneira a apaziguar os seus desmedidos apetites de ganância e de egoísmo exacerbados, dando asas a uma estupidez mórbida que infelizmente, parece não ter limites.
Aliás, como sabemos, essa dita humanidade já conseguiu a “proeza” de tornar inumanos, vários dos aspectos particulares que a caracterizam. Existem, de facto, muitos profetas da desgraça que só sabem aniquilar, matar, destruir tudo e todos para tentar impor à sociedade em geral, as suas ideias, lamentavelmente tão loucas como mortíferas.
Se colocarmos nos dois pratos da balança, o bom de um lado e o mal no outro, verificamos, com uma imensa tristeza, que os adeptos do “quanto pior, melhor”, ultrapassam nitidamente em números e peso, os que ainda, teimosamente, persistem em ser bons e divulgam generosamente esse bem à sua volta, sem pedir nada em troca.
Tendo o comum dos mortais plena consciência de que a sua permanência na Terra não ultrapassa o curtíssimo tempo de uma vida humana, o comodismo, a avidez e a agressividade do Homem parecem ser hoje, e cada vez mais, os meios ideais para justificar todos e quaisquer comportamentos, preferencialmente, os que consistem em servir-se apressadamente em proveito próprio, ignorando, profunda e lamentavelmente que estão rodeados de outras pessoas, que também tem igual legitimidade em desejar o mesmo. O altruísmo já teve melhores dias e já não falta muito para que essa palavra e essa forma de se relacionar com os outros, tenham por derradeiro lugar, as páginas do dicionário e dos livros de História, respectivamente.
O caricato da questão, é que, enquanto o Homem se convence que esse tipo de atitudes é o único, ou pelo menos o meio mais eficaz para alcançar os seus objectivos de gozo e de pseudo felicidade individual, ele acaba, fatalmente, por colher de volta, uma série infinita de dissabores, que só servem para prejudicá-lo física, económica e intelectualmente !
Afinal, será que a estupidez conseguiu suplantar definitivamente a inteligência ?
É infinitamente triste verificar, que a evolução cada vez mais acelerada da sociedade humana, está metamorfoseando um planeta, outrora lindo e acolhedor, num verdadeiro campo de batalhas, onde os muitos defeitos e vícios do Homem, transformados em verdadeiras e infalíveis armas, poderão vir a ferir de morte a humanidade inteira e encaminhá-la em direcção a um autêntico inferno de onde ninguém regressa, caso não se verifique uma garantida mudança de rumo, num futuro a médio ou curto prazo.
Curiosamente, e algumas pessoas têm plena consciência disso, essa situação poderia mudar significativamente sem que sejam necessários grandes dispêndios de energia e de dinheiro.
Bastaria que o Homem, esse animal de contrastes e de extremos, comprovadamente capaz de ser tão positivo como negativo, quando quer, fizesse prova evidente de boa vontade e se decidisse finalmente a fazer um uso subtil da sua própria inteligência, conjugando a mesma com as suas extraordinária capacidades de adaptação, colocando-as ao serviço do bem e não do lado do mal. Só isso, seria o suficiente para transformar o actual clima de permanentes tensões, agressões físicas e verbais entre pessoas, raças, culturas e religiões, num autêntico paraíso terrestre, onde brilharia, enfim, merecidamente, a alegria de viver e uma incomensurável felicidade, graças à sobreposição das extraordinárias virtudes humanas sobre os conhecidos e malfadados defeitos e fraquezas do indivíduo. Importa e urge substituir a actual cultura da violência por uma cultura de paz e de divulgação dos valores morais; a saúde e a sobrevivência da humanidade irão depender dessa mudança de rumo.
Da mesma forma que são necessários mexer muitos menos músculos para fazer um sorriso rir do que para fazer uma cara feia, também é infinitamente mais simples e muito mais empolgante respeitar, saber apreciar, amar e acarinhar o nosso semelhante, do que odiá-lo e combatê-lo repetidamente, até a exaustão, num combate desprovido de qualquer lógica e com a agravante de nem sequer ter um fim à vista.
Porque será que, todos nós, salvo raras excepções, deixamos e pactuamos com esta espiral infernal de insegurança permanente, de violência e de morte, que só conduzem a humanidade inteira para o abismo que ninguém, no seu juiz normal, pode verdadeiramente querer ? A felicidade genuína e benfeitora, aliada ao maravilhoso prazer de viver em paz, com respeito e em plena harmonia connosco e com o nosso semelhante, é parecida como um estado de desafogo financeiro e seu consequente bem estar individual e social. Uma vez que o experimentamos, dominamos e extraímos dele todo o proveito possível, torna-se impensável fazer conscientemente um regresso ao passado, aceitar tacitamente voltar ao tempo onde a falta de dinheiro era sinónimo de uma indisfarçável angústia e de sofrimentos diversos.
Como já disse aqui, nesta tribuna livre de opiniões, aberta a todos os homens de boa vontade e não só, numa anterior mensagem: Viva o Bom, o Bonito e o Belo, Honra lhes seja feita, sabendo que está ao nosso alcance acarinhar os anjos, as sereias e outras divindades vindas do paraíso, deixando definitivamente o diabo e seus maléficos diabretes, consumirem-se lenta e seguramente nas insondáveis profundezas da fornalha do inferno.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Mensagem para a juventude

Como todos sabemos, na vida do ser humano, a juventude não é nada mais do que uma simples fase transitória, que começa no final da chamada meninice e termina quando se atinge a maioridade civil, sinónimo de responsabilidades acrescidas, perante a lei e perante os homens. De uma certa forma, a adolescência será, no contexto da vida do indivíduo, uma das fases mais importantes, senão mesmo, a mais importante de todas, pelo facto de proporcionar ao jovem as premissas de uma desejável autonomia, abrindo-lhe progressivamente as apetecíveis portas de um mundo novo, pronto para ser descoberto, com um compreensível apetite e uma saudável curiosidade.
Existem, felizmente por esse mundo fora, mil e uma maravilhas à espera de serem encontradas e experimentadas, pela simples razão de que são estimulantes e enriquecedoras para o ser humano.
Embora a pesquisa do prazer, a sua descoberta e os seus efeitos sejam tão naturais como aliciantes para qualquer um, importa fundamentalmente que o jovem, esse aprendiz da vida, tenha absoluta consciência de que, atrás do encanto, possam esconder-se determinadas armadilhas. Estas, normalmente, são o produto da mente tortuosa de gente perversa, que as coloca voluntariamente no caminho do jovem, de forma a poder atingir os seus baixos propósitos, usando para o efeito diversos meios atractivos e enganadores, tais como, o dinheiro fácil e a promessa de novas e fabulosas sensações. Um dos piores problemas, reside no facto de que, depois de provar alguns desses novos prazeres, tais como as drogas e o álcool, o jovem não tem forças suficientes para se limitar a uma simples prova.
As muitas centenas de milhares de jovens que aceitaram fazer tais experiências e que, seguidamente, se tornaram dependentes seja do álcool, seja das drogas, quando não dos dois simultaneamente, não pretendiam nada mais do que limitar-se a obedecer com o objectivo de se sentirem iguais aos outros, serem aceites pelo grupo e nele permanecerem, com sentimento de orgulho e de satisfação.
Lamentável e infinitamente triste será dizer, que todos aqueles que não resistiram aos efeitos destruidores de tais prazeres envenenados, já não se encontram no mundo dos vivos para poderem contar as suas desgraçadas experiências, aos muitos ingénuos que persistem, ainda hoje, em considerar-se mais espertos do que ou outros.
Se, a esse conhecido e doloroso panorama, se juntar o risco do jovem ter relações sexuais não protegidas, com pessoas portadores de doenças sexualmente transmissíveis (DST), chega-se à conclusão de que a juventude actual brinca perigosamente com a única vida que tem.
Os que, por mera sorte, conseguirem passar através das apertadas malhas desta engrenagem infernal, devem ter plena consciência de que, enfraquecidos ou não com essas malfadadas experiências, eles serão os adultos de amanhã, aqueles mesmos a quem incumbirá a pesada responsabilidade de dirigir os destinos de um mundo cada vez mais perturbado e fatalmente perturbador.
Curiosamente, sempre que surge uma nova geração de jovens, aquela que vem a seguir, fica confrontada com novas modas, novas possibilidades e também com novas armadilhas. A adaptação a essa transição afigura-se cada vez mais difícil, tendo em conta que as profundas mudanças verificadas ultimamente na sociedade, não facilitam a indispensável aproximação entre os diversos membros da família, nomeadamente, pais e filhos, que têm, hoje em dia, agendas e preocupações pouco ou nada compatíveis. A chegada das chamadas novas tecnologias e a sua forte penetração nos novos hábitos de vida, reforça e agrava uma situação de verdadeira dependência, entre elas e os seus cada vez mais jovens utilizadores. Entre os telemóveis, jogos electrónicos, Internet e seu You Tube, os leitores de música e outros acessórios da última geração, os pais, em nome de uma pseudo felicidade dos seus filhos, compram-lhes tudo o que o dinheiro pode comprar e ficam orgulhosos de proporcionar a esses mesmos filhos, um estatuto de igualdade ou de superioridade, perante uma massa anónima de outros adolescentes, também obcecados pela posse e uso destes imprescindíveis acessórios. Hoje, e com uma tendência crescente, os tais acessórios, conjuntamente com a imagem do jovem, transmitem a ideia que valorizam significativamente mais o indivíduo, do que as suas reais capacidades intelectuais e os seus valores morais !!
A forma e a velocidade com a qual o nosso mundo vai evoluindo, obriga a que a preparação do jovem, a qualidade do ensino, assim como a sua perfeita capacidade de assimilação, se aproximem o mais possível do grau de excelência. Desse resultado, irá depender a qualidade e serenidade das gerações vindouras, incluindo a dos jovens de hoje que serão os adultos de amanhã. Tendo isso em consideração, importa muito particularmente ao jovem abrir a sua mente com a maior das atenções aquando da transmissão dessa infinita riqueza da civilização humana que é a cultura geral, autêntica dádiva de uma multiplicidade de gerações, que transformaram as suas experiências de vida, sacrifícios e sofrimentos, num valioso e insubstituível capital ao serviço de todos, a denominada sabedoria.
Por tudo isso, este capital de saberes, transmitido em grande parte pela família e pelo ensino, assume, para o jovem, uma importância capital, na medida em que, numa sociedade, como já o dissemos, em acelerada evolução, cada vez mais exigente e mais competitiva, os que não tiverem, nem ambição, nem força de vontade, nem o perfeito domínio de uma cultura altamente especializada, ficarão destinados, amanhã, quando adultos, a ocupar os lugares de segunda escolha, longe, muito longe do sonho inicial que alimentava a esperança de uma vida confortável e feliz.
Agora e desde sempre, a esmagadora maioria dos jovens têm, entre eles, um ponto em comum. Por terem apreendido muito em pouco tempo, convencem-se de que já sabem tudo e, consequentemente, dominam os mais velhos (os cotas) e portanto, também dominam o mundo, que, aliás, só pode, naturalmente, estar aos seus pés. Em abono da verdade, tal teoria nunca trouxe bons resultados, pelo contrário. Humildade e realismo serão certamente as melhores armas para lutar eficazmente contra os orgulhos exacerbados.
O mais importante para o aprendiz da vida, é saber que, por natureza, a esmagadora maioria das coisas que facultam prazer têm sempre o reverso da medalha e que é possível incrementar esse mesmo prazer, se se souber eliminar o risco que lhe é inerente. Esse domínio, passa por saber ouvir e analisar atentamente e nunca recear questionar os mais crescidos, quanto aos seus conhecimentos sobre a perigosidade destes riscos e aprender com eles a melhor forma de combater eficazmente os mesmos. Convém não esquecer, que por muito aliciante que seja o prazer, há males que, podendo ser-lhes inerentes, deixam no ser humano, marcas graves e indeléveis, aquelas mesmas que são unanimemente visíveis em todos os infelizes e todos os falhados.
Contudo, o jovem tem que saber e ter plena consciência, que essa referida fase da juventude tem características únicas na vida do ser humano. Eliminando as excepções que, como sempre, confirmam a regra, o corpo e a mente do jovem possuem todas as condições para tirar proveito das diversificadas faculdades humanas e aproximar-se dos limites que a natureza impõe. Enquanto a parte física do corpo se desenvolve numa harmonia quase perfeita, obedecendo a todas as solicitações e à beleza do ser, exulte, iluminando e irradiando uma prolongada frescura, a mente, por sua vez, brilha de uma alegria comunicativa perante a descoberta de um novo e cativante mundo. Importa que o jovem se aperceba da transitoriedade dessa fase da vida e saiba que o Homem não está equipado com nenhuma marcha atrás. Cada dia que passa pertence à história do passado individual e o futuro, enquanto existe, enfrenta-se com a consciência de que se caminha em direcção às inevitáveis batalhas contra a adversidade da vida. O conhecimento e domínio dessa realidade, permite e proporciona ao jovem uma vida mais intensa e mais feliz. De nada serviria, uma vez terminada essa fase transitória, vir a sentir remorsos por ter deixado escapar oportunidades inerentes à juventude.
No texto : “O adeus de um génio”, atribuído ao grande Gabriel Garcia Marquez, onde fica patente uma invulgar sensibilidade humana e poética, a bela lição de vida diz, entre outros, o seguinte :

“ Se não o fizeres hoje, o amanhã será igual a ontem. E se não o fizeres nunca, também não importa. O verdadeiro momento, é o agora “

Essa forma de pensar e de escrever, tem por objectivo realçar a importância do agora, do momento e porque não, também, de uma determinada fase, como será o caso da juventude de que falamos. Essa juventude, é de facto tão essencial, que tem obrigatoriamente que ser vivida com a intensidade própria, com alegria e com a devida prudência, mas também, com inteligência, muita inteligência, porque é seguramente a fase que irá condicionar toda uma vida de adulto, transportando para as fases seguintes, as normais consequências de todos os vícios e virtudes adquiridas nesses anos dourados.
Da mesma maneira que compete aos adultos entenderem as necessidades próprias da juventude, e saber coabitar pacificamente com os sinais de superficialidade, frivolidade, leviandade e irreverência que caracterizam os jovens em geral, também compete a esses mesmos jovens, seguir as orientações vindas dos mais velhos, tirar proveito da experiência adquirida, sentir e demonstrar o indispensável respeito para com os adultos, sem nunca esquecer que antes de serem adultos, todos eles também foram crianças e adolescentes, pesa embora com menos gadgets electrónicos do que hoje, mas com as mesmíssimas obrigações e deveres a que está sujeito qualquer cidadão do mundo.

Quando o jovem de hoje, pela sua vez, se transformar num adulto, casado, pai de filhos e profissionalmente activo, ele lembrar-se-á, com ternura e emoção, de como era bom e fácil ser-se jovem, frívolo e irreverente, comparado com a responsabilidade inerente ao adulto desejoso de amar os seus, protegê-los e fazê-los felizes, enquanto vê, impotente, desfilar os anos à velocidade da luz, sem nada poder fazer para alterar a única e inelutável verdade da vida, a lenta aproximação de um fim, última e derradeira fase que a natureza nos impõe, antes de darmos o grande salto para o desconhecido, de onde não há retorno possível.

Entre o momento da nossa chegada a esse mundo e o da nossa despedida, temos e sempre teremos uma só e única vida.
Está nas vossas mãos escolher viver essa vida em boa inteligência, paz e harmonia consigo mesmo, com os outros e com o mundo, ou, se preferirem, deixarem-se simplesmente viver até que algo aconteça ou então, optarem voluntariamente por uma atitude de confronto para com as regras estabelecidas e de indisciplina perante pais, educadores e superiores hierárquicos, correndo o risco de chocar tudo e todos, despertando sentimentos negativos, podendo guiar o próprio e os outros pelos caminhos do ódio, sempre geradores de desafios, de combates, de guerras e de morte prematuras.

Antes de tomar as atitudes e as decisões que impliquem a sua responsabilidade e a da sociedade onde se insere, além de ouvir a voz da sua “consciência pessoal”, obrigue-se sempre e sistematicamente a ouvir também a voz da razão, a da sabedoria e porque não pedir conselhos junto de quem sabe e em quem confia.

Assim, poderá partilhar e diminuir as suas dificuldades e orgulhar-se legitimamente dos seus sucessos.

Sempre que tiver algum tempo, tente aproximar-se atentamente dos provérbios populares, eles são, além do resultado de séculos de observações, uma fonte inesgotável de verdadeiros tesouros de sabedoria, essência do Homem e da sua civilização milenar. Eis alguns exemplos :

“Dá sempre sete voltas na boca com a tua língua, antes de falar”

“Pequeno um dia será grande”

“Quando não souberes algo, pergunta aos jovens, eles, sabem sempre tudo”

“Mais tarde, quando fores crescido, tem cuidado com o teu dinheiro, cuidado com o que fazes e cuidado com o que dizes, porque se não tiveres o cuidado suficiente, corres o risco de gastar o que não tens, de fazer o que não podes e de dizer o que não deves”

“Não há mais surdo do que aquele que não quer ouvir”

“O pote, por ir muitas vezes à fonte, acaba sempre por partir-se”

“ Os insultos são a razão daqueles que não a têm”

OOOOOOOOOOOOOOO Boa sorte e boa viagem na rota do tempo OOOOOOOOOOOOOOO

segunda-feira, 31 de março de 2008

Sexo, instrumento ambivalente e incontornável,

Uma vez estabilizados os efeitos em cadeia provocados pelo remoto e estrondoso big bang, encontraram-se então reunidas as estonteantes condições que iriam dar lugar à nascença do universo, composto por uma infinita quantidade de estrelas e de planetas; uma delas, a Terra, nossa única e querida Terra, é simultaneamente berço, lar e última morada, para uma incomensurável quantidade de vidas, representadas sob as mais diversificadas formas, estejam elas na leveza do ar, na sua imensa e variada superfície, ou ainda, nas insondáveis profundezas aquáticas dos seus numerosos mares e lagos.
No meio desta extraordinária diversidade de vidas, destacamos, em particular, a espécie humana, pelo facto de estar excepcionalmente dotada de intrínsecas capacidades, que tornaram possível uma autêntica e inigualável metamorfose, quando se sabe, que, ao longo de um lento e complexo processo evolutivo, viajamos de uma condição inicial de simples macaco, peludo e selvagem, para a nossa actual condição de ser, dito humano, com poucas semelhanças, tanto físicas como intelectuais, comparativamente aos nossos longínquos antepassados.
Esta excepcional mutação, também deu origem a uma outra particularidade que diferencia diametralmente a nossa espécie de qualquer outra, diferença essa, intimamente ligada ao sexo da mesma; sendo a sexualidade, uma filosofia própria e uma forma individual de viver o sexo que a natureza nos deu, com intensidade e finalidades variáveis, consoante raça, religião, berço, idade, vontade, ousadia, gostos e outras aspectos particulares. Se, como é o caso da esmagadora maioria das outras espécies animais, existem na raça humana dois sexos distintos, machos e fêmeas, diferentes e complementares, também sabemos que, além do natural instinto de procriação, guardião da salvaguarda de qualquer espécie, essa mesma raça, usa e abusa desse mesmo sexo, na incessante e imaginativa procura de um leque alargado de emoções, sensações e vibrações, tanto físicas como psíquicas, que, como sabemos, quanto mais intensas e mais prolongadas, melhor !
Assim sendo, não será de admirar que, independentemente da eventual tendência sexual pessoal, com a qual nascemos, seja ela genética, hereditária e/ou congénita, ou, seja ainda, por capricho da natureza, uma complicação acrescida para os hermafroditas, aqueles que vêm ao mundo com uma indefinição de sexo; enquanto uns assumem plenamente essa mesma tendência, outros, em função de necessidades específicas, ou devido a outras formas de se relacionar com o sexo, ligadas a uma abordagem intelectual própria, resolvem partir em busca de variantes, para encontrar um determinado prazer, ou, ainda, para satisfazer curiosidades, seguindo modas que têm sempre os seus disciplinados e incondicionais seguidores.
Vamos tentar sobrevoar as diferentes e variadas maneiras de abordar e viver, ou não, uma sexualidade humana, tendo em conta uma alargada diversidade de inclinações, impulsos, preferências, ou outras motivações e justificações. Aliás, na mundialmente conhecida “bíblia” do sexo, o Kama Sutra, expõem-se, com uma grande riqueza de pormenores, sejam eles escritos ou ilustrados, as variadas e imaginativas posições que a nossa espécie pode praticar e desfrutar, dentro dos limites impostos pela própria natureza humana. Convém no entanto salientar, que tamanha ousadia de demonstração explícita, só se justifica pelo facto de a sua redacção ser anterior aos actuais contextos espirituais e religiosos, claramente defensores de um puritanismo exacerbado, que serve os interesses de uma certa teologia e espiritualidade, mas não necessariamente os anseios e necessidades da condição humana.
- Em primeiro lugar, encontramos a heterossexualidade, certamente a mais corrente, que reúne ambos os sexo, o masculino e o feminino e que dá, além do incomparável prazer, lugar à continuidade da espécie. Lamenta-se no entanto, que determinados machos, incapazes de conquistar o sexo oposto pelos métodos ditos tradicionais, optem doentiamente por forçar e violentar as suas vítimas, que, infelizmente, sofrem posteriormente de dramáticos traumatismos que podem durar uma vida inteira.
- A seguir, temos a homossexualidade, que se caracteriza pela união de pessoas pertencentes ao mesmo sexo, dois homens juntos, ou duas mulheres juntas. Muito curiosamente, os adeptas convictos dessa orientação sexual, raramente regressam à heterossexualidade !
- Inspirado nas duas precedentes categorias, também há os apreciadores de sexo em grupo, seja este reduzido a três pessoas, em que duas são forçosamente do mesmo sexo, (ménage à trois), ou então, as chamadas orgias, com mais elementos, limitadas ou não em número de participantes, nas quais encontramos normalmente a presença e intervenção de ambos os sexos.
- Depois, temos os invulgares travestis, maioritariamente homens, que, por não se sentiram bem na pele do sexo em que nasceram, vestem-se de mulheres, com todos os apetrechos necessários, procurando parceiros, homens, também.
- De seguida, teremos os transexuais que optaram por passar pela mesa de operação, condição sine qua non, para mudar radical e definitivamente de sexo. Exemplo, homens que tiram os genitais, recebem uma vagina, deixam crescer o peito e eliminam uma pilosidade tornada inconveniente.
- Não podemos esquecer aqueles, que, por razões de ordem diversa, escolhem a categoria do sado-masoquismo, onde, enquanto uns procuram e sentem um determinados prazer em infligir ao parceiro um sofrimento físico e intelectual, tais como as chicotadas e as humilhações, respectivamente, outros partem à procura do prazer oposto, o do sofrimento corporal e mental pessoal.
- Uma outra forma de procurar prazeres, aliás proibidos pela sociedade, consiste na hedionda e repugnante pedofilia, através da qual, certos adultos portadores de ignóbeis desvios, têm e concretizam os seus impulsos animalescos com crianças indefesas que nunca mais poderão viver uma vida normal depois de tais abusos, nomeadamente quando repetidos até à exaustão.
- Há uma outra categoria, diferente das precedentes, que, seja por motivos de idade ou de vontade própria, ainda não acedeu aos prazeres do sexo. Estamos a falar dos jovens cujo corpo e mente ainda não revelaram o indispensável atractivo pela sexualidade, ou embora, já tenham despertado sobre o assunto em causa, ainda não tiverem o ou a parceira que permite uma primeira experiência.
- Diferente do já enunciado, existe uma situação diametralmente oposta, na medida em que implica uma total (ou parcial) abstinência relativamente ao sexo e à inerente sexualidade, causada por motivos de ordem religiosa, nomeadamente aqueles ligados a determinadas religiões, tal como a católica, que, como toda a gente sabe, tem uma visão muito particular sobre tudo o que diz respeito ao sexo e à sexualidade.
- Outros, motivados pela procura de outras formas de prazer, são adeptos do enonismo, e consequentemente, preferem os prazeres ditos solitários da masturbação. Essa forma de sexualidade, pode limitar-se ao uso de “acessórios manuais”, ou estender-se ao recurso a acessórios independentes, chamados por exemplo de sex toys, ou seja, brinquedos sexuais, tais como vibradores, entre outros utensílios deixados ao critério da imaginação humana.

- Embora pouco praticada em terras ocidentais, anotamos o amor e sexo tântrico, onde as vibrações espirituais e esotéricas beneficiam em primeiro lugar a mente do praticante, para, posteriormente, alastrarem à restante parte corporal.
- Antes de abordar a última categoria dessa listagem, encontramos os idosos que, devido às próprias leis da natureza, já não sentem o apelo de uma sexualidade tornada obsoleta, ou, então, embora animados dessa vontade, não conseguem atingir tais objectivos, por infelizmente, já não terem à disposição, o(a) indispensável parceiro(a).
- Também há uma outra variante, pouco conhecida e igualmente pouco falada, que designa por necrófilos, os que, por aberração da natureza, procuram ter relações sexuais com cadáveres humanos.
- Finalmente, para encerrar esta já extensa enumeração, na qual encontramos certamente as principais e mais conhecidas formas de se relacionar com a sexualidade, iremos abordar o surpreendente fenómeno da chamada zoofilia, que, como o nome indica, consiste em ter relações sexuais com animais, sejam eles domésticos ou selvagens. Escusado será dizer que, e assim o esperemos, só quem anseia tal forma de “prazeres” pode considerar tal relação como “normal” e “compreensível”!! Quando se sabe a alargada variedade e intensidade de prazeres que o corpo humano pode proporcionar, uma busca orientada na direcção dos animais, poderá significar existirem no indivíduo participante tendências patogénicas desviantes.

Como se pode ver, existem uma infinidade de caminhos que levam o ser humano até aos prazeres da mente e do corpo.
Mesmo se, alguns destes caminhos, certamente mais tortuosos que os tradicionais e por razões complexas, atraem lamentavelmente indivíduos perversos, classificados como tarados sexuais, mistura de seres humanos, por fora, e de animais selvagens por dentro e que, nas suas incessantes buscas de fortes e indescritíveis sensações, extraídas de um egoísta e doentio orgasmo, não hesitam em utilizar todos os meios ao seu alcance para atingir os seus fins, que a sociedade, no seu conjunto, reprova veementemente.
Uma coisa é certa, o prazer obtido na intimidade de uma situação de parceria, ou não, é bom e faz bem, tão bom e tão agradável, que dificilmente, um ser humano “normal”, admitiria aceitar viver privado dessas maravilhosas sensações que, em abono da verdade, o corpo e suas zonas erógenas sentem e exprimem claramente melhor e com mais intensidade, do que quando se tenta explicar o que se sente, pelo uso de meras palavras, escritas ou ditas !!
Embora haja relativamente ao sexo, múltiplas formas e maneiras de o encarar, dificilmente se poderá negar a sua omnipresença ao longo de todo o percurso civilizacional, até aos dias de hoje.
Mesmo admitindo que tal omnipresença seja inconveniente para certas religiões, quem poderá contestar que o sexo, sofre e beneficia, simultaneamente, de uma posição cada vez mais egocêntrica no seio da sociedade.
É ele que alimenta a mais velha profissão do mundo, fomentando entre outros, um importante tráfego de carne humana. Por ele, as pessoas apaixonam-se e casam-se e é graças a ele que se assegura a preservação da espécie humana. Por ele, alguns são capazes de mentir e de se tornarem infiéis, enquanto outros, muito lamentavelmente, não hesitam mesmo em matar por ele e em nome dele.
Não obstante essa diversidade de tendências e antes dos parceiros chegarem, de uma forma unanimemente consentida, a uma relação física e sexual, cada um assiste, atento e vigilante, ao famoso, brilhante e indissociável jogo da sedução, onde, por um lado, o macho, conquistador nato, recorrendo para o efeito a uma ancestral e avisada ciência, com o intuito de exibir charme, inteligência, humor e virilidade, encontra do outro lado, a fêmea, sedutora por excelência, fazendo uso e abuso dos seus atributos, tais como: subtileza, beleza, astúcia e feminilidade, que dará, se assim o entender, o seu consentimento para que a sedução iniciada, atinja, singelamente, o ambicionado desfecho, para plena satisfação e prazer de ambos.

Apesar de tudo o acima mencionado e sejam quais forem as virtudes e os malefícios inerentes ao sexo, o simples facto deste representar ainda e sobretudo nos nossos dias, uma das maiores fontes de movimentações de dinheiro em todo o mundo, ao lado do comércio das armas e do tráfego de drogas, faz dele, paralelamente ao seu já referido egocentrismo, um instrumento afinal tão ambivalente, como incontornável, para a tristeza de uns e regozijo de outros.

Porque não atribuir a este badalado instrumento, um merecido prémio, que seria o de campeão da hipocrisia, na medida em que todos nós gostamos de nos “aconchegar” com ele, com a maior frequência possível, mas sempre que o introduzimos nas nossas conversas, usamos a máscara do cidadão pudico e exemplar, para não chocar sensibilidades alheias e ficarmos bem vistos !

Última palavra: quando o ser humano consegue, feliz e habilmente juntar o sexo, na sua qualidade de instrumento físico, ao maravilhoso Amor, por sua vez, indispensável componente sentimental, abrem-se então, para ambos os parceiros, as portas do desfiladeiro sagrado que conduz ao desejado e reconfortante nirvana, expoente máximo e extremo de uma relação humana que se quer tão salutar como tonificante e prolongada no tempo.


quinta-feira, 27 de março de 2008

O bom, o bonito e o belo,

Como todos os dias, uma vez levantado, saio do quarto e dirijo-me calmamente até à janela da sala, para acolher a luz do dia, dizer bom dia à nova jornada que para mim se inicia, espreito o céu para descobrir o tempo que irá fazer e olho de seguida para os espaços verdes circundantes, ruas, passeios e prédios, tentando sabiamente adivinhar a temperatura do ar, pela forma das pessoas se vestirem e andarem.

Sem saber exactamente porquê, tranquiliza-me o facto de estar a observar o movimento dos carros e das pessoas, cada uma delas, com um objectivo individual previamente definido, deslocando-se aparentemente de uma maneira quase mecânica, de um ponto de partida para outro, com destino já anteriormente decidido.

Quiçá, se nas profundezas insondáveis do meu subconsciente, o simples facto de olhar para a vida em movimento, e impregnar-me dessa agradável realidade, não terá como finalidade, apaziguar a minha alma e serenar a minha mente, eventualmente atormentadas pela incontrolável presença nocturna de sonhos porventura obscuros, aliás, certamente povoados daqueles fantasmas que desaparecem com a mesma facilidade com que chegaram !

Pois é, enquanto conseguimos influir na nossa agenda e no conteúdo dos nossos dias, com relativo sucesso, nunca seremos capazes de escolher e tão pouco dominar, o misterioso labirinto por onde passeia aleatoriamente a nossa actividade cerebral que enche o nosso sono profundo, entre o deitar e o acordar. Contra essa extraordinária e misteriosa força, contida no dédalo dos nossos sonhos, pouco ou nada se pode fazer, senão, aceitá-los pacificamente e aguardar que o dia venha revezar a noite.

É verdade que, quando, pela manhã, volta a fechar-se a caixinha mágica, guardiã destes nossos sonhos e reencontrada a nossa consciência, retomamos então progressivamente o ritmo da nosso vida diurna e consequentemente a razão de ser da nossa própria existência, dependentes dos nossos hábitos, deveres e obrigações diversos, tal como das nossas alegrias e das nossas tristezas.

Por isso, pela manhã, uma vez recarregados de novas energias, o corpo e a mente renascem em simultâneo, alimentados pela vivificante esperança de levar a bom porto os projectos que ambicionamos, os quais são reconhecidamente essenciais à nossa realização pessoal e profissional.

Como sempre, ou quase, encontraremos atravessados no nosso caminho alguns obstáculos, uns mais agrestes que outros, supostos dificultar o nosso percurso, mas que, uma vez eficazmente contornados, ajudam-nos a sentir e apreciar o prazer dessa nossa luta e, por fim, saborear merecidamente cada vitória nossa, contra uma adversidade omnipresente, na nossa vida actual.
Saudemos esse natural desafio e saibamos enfrentá-lo com honra e dignidade, porque, caso conseguíssemos combater na ausência de qualquer perigo, correríamos o desprezível risco de estarmos a triunfar sem nenhuma glória.

Que seria então de nós, uma vez despidos do nosso orgulho e da nossa vaidade ?

Como alimentar o nosso ego, nutrir legitimamente novas ambições e acreditar firmemente que as alcançaremos, amparados pela nossa fé, se deixamos irresponsavelmente a mediocridade e a irreverência sobreporem-se à ética e à seriedade ?

Os que, no entanto, resolvem escolher tais sinuosos caminhos, estarão certamente a vilipendiarem-se a eles mesmos, o que não deixa augurar nada de bom, para um futuro próximo, em termos de convivialidade e de parcerias, entre indivíduos animados de intenções antagónicas !

É importante acreditarmos pessoalmente e saber convencer os que nos rodeiam, que a vida humana possui todos as condições necessárias para vir a ser realmente bela e maravilhosa e consequentemente agradar-nos verdadeiramente, se formos capazes de aprender a exigir muito mais de nós próprios, do que limitarmo-nos a exigir que a vida nos dê o que dela queremos.

Sabendo que o sonho faz parte da vida, importa orientar e usar as nossas energias na procura do bom, do bonito e do belo que a vida tem para nos dar, independentemente do facto que ela seja, ou não, uma dádiva dos deuses, ou, simplesmente, um dos misteriosos milagres da mãe natureza.

Compete a cada um de nós acreditar firmemente, que a honra, a dignidade e o respeito, valem seguramente muito mais do que a insignificância e o desprezo, justamente merecidos por aqueles que procuram construir uma espécie de felicidade egoísta, à custa dos que continuam a acreditar, com naturalidade, nas generosas virtudes humanas.

Convém não nos esquecermos, de que a vida humana tem um ponto em comum com o Amor, do qual podemos tirar um precioso ensinamento.

Somos infinitamente mais felizes pela paixão que damos, do que por aquela que recebemos.

Basta acreditar nesse ensinamento, querê-lo íntima e activamente e pô-lo em prática, para qua a vida faça nascer, em favor daqueles que sempre viveram com o coração amargurado, uma luz cheia de esperança, aquela que ilumina caras e corações.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Os noivos, o fisco e as multas,

O ditado antigo que afirmava : “A cada dia, as suas penas”, está cada vez mais vivo e actual !

Portugal, graças ao seu invulgar governo, chefiado por um também invulgar primeiro ministro, José Socrates, fica, a cada dia que passa, cada vez mais longe da Europa, pelos motivos mais caricatos e surpreendentes.

Há dias, o país foi informado pela comunicação social, que o governo português tinha resolvido proibir terminantemente a colocação de piercings na língua.
Independentemente das opiniões individuais, (que gozam ainda de uma certa liberdade), que determinam se estamos indiferentes, contra ou a favor do uso de tais práticas e de tais acessórios corporais, tal atitude legislativa, pode e deve ser interpretada, como sendo, da parte do Estado, uma intromissão grave e no mínimo abusiva, no contexto muito particular da privacidade das pessoas. Afinal, para os muitos adeptos apreciadores destas excentricidades, qual a diferença entre ter um, ou vários piercings, na língua, nos mamilos, no umbigo, nas orelhas, no nariz, nos genitais e em outros demais sítios habituados a receber esses “ornamentos”, senão uma simples apetência e preferência, meramente pessoal ? Ou seja, para já, a proibição governamental limita-se à língua, amanhã veremos !

Depois deste divertido episódio, o governo persiste em demonstrar que possui verdadeiramente uma invulgar preocupação para com os cidadãos contribuintes, através de uma nova e surpreendente iniciativa legislativa. Desta vez, e com a história dos piercings ainda muita fresca na memória colectiva, publicou-se uma nova lei, embora de âmbito dito fiscal, que denuncia um novo e inaceitável abuso do Estado, quanto à sua intromissão na esfera claramente privada da vida das pessoas. O que diz esta surpreendente lei ? Que todos os recém casados, tenham eles contraído matrimónio perante Deus e/ou perante os homens, ficam obrigados a revelar todos os custos inerentes à cerimónia, tal como o tradicional e normalmente oneroso copo de água, assim como as despesas directamente ligadas ao casamento, como por exemplo: o vestido da noiva, o fato do noivo e outras, etc, etc...
O objectivo, abertamente declarado pelo governo, é simplesmente a criação de uma inovadora e rigorosa fiscalização dos recibos, ligados às principais e tradicionais despesas originadas pelo matrimónio. Todos sabemos que para haver um recibo, tem que existir uma factura e quando há factura, também há IVA, destinado às finanças. Por outras palavras, o fisco descobriu que ficava a ver passar navios no que diz respeito ao IVA destas importantes despesas de ordem pessoal, já que, por se tratarem de gastos relativos à vida privada das pessoas, nem todos os comerciantes estariam a emitir as respectivas facturas, que os clientes nem sequer exigem. Pois claro!

Apesar do aspecto francamente caricato de mais esta iniciativa governamental, deixamos certamente de achar graça à mesma, quando, aprofundando a leitura da lei, se informa os recém casados que, caso não preencham o questionário fornecido pelas finanças, onde deverão constar os nomes dos comerciantes que forneceram produtos e serviços destinados ao casamento, assim como respectivas facturas e recibos, ficam sujeitos ao pagamento de uma coima até 2.500 euros, por serem coniventes com o princípio da fuga ao fisco.

Moral da história.

O Estado está cada vez mais empenhado em arrecadar dinheiro através da recolha de impostos, multas, juros de mora, coimas, assim como através de qualquer outra forma, que seja surpreendente e imaginativa. O principal é receber dinheiro, cada vez mais dinheiro. Só é pena não se verificar uma redistribuição justa e coerente desse mesmo dinheiro !

Mas como em tudo na vida, o que importa é fazer as coisas bem e correctamente. Ora, obrigar os recém casados
a divulgar pormenores da sua privacidade e ameaçando-os de multas pesadas, caso não contribuam com as iniciativas governamentais, além de ser tão condenável como incorrecto, também equivale a transformar as pessoas em autênticos delatores, obrigando assim as mesmas a substituírem-se ao papel do Estado e à sua administração pública a quem compete realmente e em exclusivo, o trabalho de fiscalização. O simples facto do Estado “delegar” arbitrariamente essa competência, inclusive com recurso a ameaças, demonstra a incapacidade da sua administração pública em desempenhar uma missão que só a ela pertence.
Numa outra linguagem, também se pode chamar essa forma de governar e de gerir os assuntos públicos, de abuso de poder. Como diziam os romanos, “A César, o que é de César.”

Tal atitude, além de ser claramente amoral e discriminatória, também peca por ser profundamente indigna de uma nação de se assume como sendo um Estado de Direito: “Façam aquilo que vos digo e não aquilo que eu faço”.

Para concluir, o que assusta, de uma certa forma, é que quando estamos na presença de um Estado que não hesita em proceder dessa maneira para alcançar os seus objectivos, podemos preparar-nos para sermos vítimas de outros abusos, de outros exageros e de outros pontapés na moral e na dignidade, cujo exemplo, deveria vir de cima, como será infeliz e lamentavelmente o caso agora, com este novo episódio.

Jovem aluna agride professora em plena aula,

A agressão prolongada de uma aluna portuguesa à sua professora, em meados de Março de 2008, perante os restantes alunos da turma, é certamente, por si só, uma notícia extremamente positiva, apesar da imensa tristeza e incompreensão que a mesma suscita !

Positiva, porque graças aos telemóveis com câmara ao alcance de todos, ficou bem patente o baixo nível de educação da juventude de hoje, assim como a facilidade com a qual se pode deliberadamente atentar contra a privacidade a que todos têm direito, incluindo a daquela professora e finalmente, ficou demonstrada a estonteante facilidade com a qual se pode publicar imagens privadas, sem nenhuma espécie de controlo, nesta indiscreta janela aberta sobre o mundo que é a Internet, com a ajuda do seu procurado e acessível site You Tube.

Positiva, porque permite colocar várias e importantes perguntas, tais como : o que pensaram dessa agressão os restantes alunos da referida aula ? Porque razão não intervieram eficaz e rapidamente ? Porque permitiram, deliberadamente, que fossem filmadas as imagens dessa longa agressão e que as mesmas fossem publicadas no You Tube (e com que intuito) ? O que pensaram os pais da jovem agressora, perante tamanha incongruência que vitimou a professora a quem confiaram a própria filha ? Como desejariam aqueles pais, que reagissem a professora, a direcção da escola e o próprio Ministério da Educação ? A reacção destes pais seria diferente, caso fosse uma outra aluna a agredir de igual forma a mesma professora ? Será que a agressora sofrerá algum castigo exemplar ? Será que os restantes alunos da aula que, cobardemente não intervieram em defesa da professora, merecem igualmente alguma punição exemplar ? Qual a explicação da jovem agressora para o seu inadmissível comportamento ?

Positiva, porque as autoridades competentes têm desde já plena legitimidade para tomar, urgente e inteligentemente, todas as medidas que se impõem para evitar que tão lamentável cena se repita com a mesma facilidade.

Positiva, porque esta invulgar e gravíssima agressão, contem simplesmente muitos ensinamentos que urge e importa tirar, especialmente porque vivemos numa sociedade que tem vindo a banalizar e assimilar assustadoramente uma violência gratuita e desrespeitosa, o que, como se sabe, há poucos anos atrás ainda, era severa e exemplarmente repreendido e castigado, quando acontecia.

Positiva, porque tal acontecimento é suposto ajudar-nos, individual e colectivamente, a diferenciar o correcto do incorrecto, o aceitável do inaceitável, assim como, ver e determinar com sabedoria e rigor, o que queremos para o nosso mundo de amanhã e sobretudo o que não queremos mais, nem para o mundo, nem para nós.

Positiva, porque permite ganhar uma maior sensibilidade acerca dos erros e omissões diversos que foram sendo cometidos em nome do progresso e da permissividade e cujas consequências se irão agravando cada vez mais, se nada ou pouco for feito para promover o bem e o justo, em vez de encorajar o que está mal e divertir-se com a infelicidade das vítimas.

Positiva, porque, assim se espera, que alunos, pais de alunos, professores, direcção escolar, autoridades diversas e população em conjunto, deveriam aceitar, com a maior brevidade possível, a marcação de um debate nacional sobre o actual sistema educativo, simultaneamente a cargo de todos os interessados acima referenciados e analisar exaustivamente as actuais consequências de tantos anos de passividade e de tolerância concedidos, aos jovens em particular, em nome de uma sacrossanta liberdade e de uma evolução que é tão necessária como incontornável, mas também, que se tornou consequentemente incontrolável, ou a caminho disso.

Positiva, porque certamente, caso tão leviana e hedionda agressão não tivesse acontecido, nas condições que todos conhecemos, ninguém estaria a relatar estes factos, correndo-se o risco de, amanhã, podermos eventualmente assistir a algo ainda muito pior e de consequências ainda mais graves.

Positiva, porque face ao choque que provocaram essas inesperadas imagens, cada um de nós tem a obrigação e o dever moral de parar e pensar relativamente ao que somos, saber até onde podemos ir nas mudanças a implantar e finalmente, sermos humildemente capazes de decidir, com inteligência e sentido de responsabilidade sobre o que realmente queremos, para nós, para os nossos filhos e netos.

Positiva, porque devemos ter a sensibilidade e coragem para nos apercebermos que, além da frieza e da perigosidade contidas no mal que repentinamente surge à nossa frente, também existe o lado bom, que devemos procurar e encontrar, o tal que, nas profundezas da nossa mente, nos obriga a repensar a visão que temos relativamente ao nosso futuro, futuro esse, aliás, que só conseguiremos construir, se soubermos olhar, reflectido e humildemente, sobre o nosso passado e o nosso presente.

O lado bom da vida não custa nada. O que custa, bastante, é não sermos capazes de eliminar o mal que nós próprios criamos e que deixamos cegamente desenvolver, até atingir os limites do razoável.

terça-feira, 25 de março de 2008

Esperança e realidade,

Abril, que brevemente se irá novamente festejar, foi para todo um povo, sinónimo de esperança para uma vida em liberdade numa sociedade mais justa e onde a qualidade de vida passaria de uma simples miragem para uma desejada e merecida realidade. Em 1986, doze anos depois da festa dos cravos e graças à entrada de Portugal na U.E, voltou a nascer uma nova esperança no coração deste povo. Passados estes longos trinta e quatro anos sobre o despertar dessas redobradas e não menos legítimas esperanças, importa ter a coragem de lançar um olhar sobre o caminho percorrido desde então.
Para isso e da mesma forma que a RTP soube promover a eleição do “maior português de sempre,” abrindo assim um importante debate à escala nacional, essa mesma RTP, poderia proporcionar com a mesma eficácia e visibilidade, uma recolha generalizada de opiniões dos portugueses, relativamente ao despertar, vida e morte anunciada das esperanças atrás mencionadas.

Não é por alguns sectores da sociedade terem de facto progredido, graças à ajuda dos milhões de milhões de Euros recebidos de Bruxelas, que se deve precipitadamente concluir, que os louros desse mesmo progresso, são da exclusiva responsabilidade dos sucessivos e numerosos governos que já passaram por São Bento. Convém sobretudo não nos esquecermos, que, em contrapartida, nos outros restantes sectores da sociedade portuguesa, muito pouco se tem conseguido de positivo, face às incomensuráveis e mais do que justificadas expectativas, criadas aliás com toda a legitimidade. É caso para a colectividade perguntar: onde estão afinal hoje, os genuínos e verdadeiros motivos para que possamos sentir um profundo orgulho da “obra realizada” em benefício dos portugueses, desde 1974? Além de uma incontestável maior liberdade de pensamento e de movimento e outras conhecidas conquistas decretadas a partir dessa data, Abril proporcionou igualmente a abertura de uma janela sobre a Europa e o mundo, que permitiu descobrir quão diferente podia ser o grau de desenvolvimento, entre a sociedade portuguesa da altura, comparativamente com as suas congéneres europeias, entre outras.

Com o passar do tempo e tendo em conta a introdução das numerosas mudanças operadas na sociedade civil, torna-se imprescindível tirar proveito dessa ainda recente liberdade de expressão, deixando exprimir-se as pessoas do povo, os portugueses anónimos, sobre o balanço colectivo e individual de trinta e quatro anos de Democracia. Se considerarmos que, entretanto, o mundo entrou precipitadamente numa nova era, a da globalização, sem que a economia nacional estivesse minimamente preparada para tal embate, não seria de admirar que muito gente tivesse a coragem de pensar e dizer que, afinal, as ditas conquistas da revolução dos cravos, saíram muito caras, talvez mesmo demasiado caras ao contribuinte anónimo.
Quem nos garante hoje, que na sequência dessa globalização claramente imposta, já que ela não foi desejada, e considerando o estado de saúde da nossa real economia, assim como o das finanças públicas, não possamos vir a assistir nos próximos tempos, a um retrocesso generalizado que poderá prejudicar ainda mais a nossa já debilitada situação económica?

É nomeadamente a pensar nessa possibilidade, talvez mesmo inelutável, que não podemos nem devemos deixar-nos ludibriar pelos habituais discursos triunfalistas, autoritários e arrogantes dos governantes, que aparentemente, nunca colocaram como prioridade absoluta, o imprescindível aumento de qualidade do nível de vida e de felicidade da população.

Seja pela participação dos senhores e donos da política, ou dos muitos comentadores que abundam na nossa praça, é surpreendente que, após tanto anos de debates televisivos, tantas mesas redondas e quadradas, tantas análises, tão sábias como exaustivas, tanta pertinência, tanta sabedoria, tanta certeza e tanto poder de dissuasão, ninguém tenha sido capaz de ouvir convenientemente estes magos das ciências exactas e abstractas, de forma a fazer reverter estas sábias lições em beneficio de Portugal e da sua sacrificada população !!

Ninguém pode contestar o facto de que, esta nação, outrora gloriosa, sofre de um mal profundo, que consiste invariavelmente em sobrepor o discurso aos actos. Enquanto se inflaciona as palavras e as belas intenções, os actos nunca chegam a vias de facto. Por causa de tudo isso, o país vive com os pernas enlameadas até os joelhos, no cada vez mais profundo pântano das inúmeras e eternas promessas não cumpridas.
Paradoxalmente, sempre que a sociedade entra numa nova campanha eleitoral, verificamos que existe teimosamente uma grande quantidade de irredutíveis, incondicionalmente defensores de uma determinada cor política, que gritam até que a voz lhes doa, em favor dos candidatos afectos a essa mesma cor. Curiosamente, uma vez os candidatos transformados em eleitos, os mesmos irredutíveis continuam incansavelmente a gritar, mas desta vez, para ostentar desespero e descontentamento, por não receber e beneficiar o fruto das promessas ruidosamente divulgadas durante a campanha. Uma coisa é certa, a situação dos portugueses tem-se agravado substancial e inexoravelmente e não é de admirar que a esmagadora maioria da população se vá desligando pouco a pouco da política nacional, das suas instituições e dos seus governantes, julgados responsáveis directos dos actuais males da sociedade. No dia em que já não houver mais buracos no cinto para poder aperta-lo, soará finalmente a hora de aperto para o conjunto dos vendedores de banha de cobra, que gozaram de uma total e vergonhosa impunidade durante demasiado tempo, enquanto os “paus mandados” sofriam e se sacrificavam para proveito de uma classe de dirigentes sem escrúpulos, ávidos de boas coisas e de uma boa vida.
Talvez o maior erro dos governantes tenha sido acreditar que a lendária passividade da população seria eterna, porque a cobardia e o medo sobrepor-se-iam à coragem e à ousadia, ambas indispensáveis para o povo poder interferir directamente no seu próprio futuro.

Oxalá este povo saiba reclamar eficaz e inteligentemente os seus legítimos direitos, de uma forma segura e duradoira, sem todavia cair na tentação de procurar vingar-se junto dos responsáveis pelo seu insuportável e injusto sofrimento.

Tibete usurpado e amordaçado,

A indisfarçável timidez com que a comunicação social relata os acontecimentos que estão a transformar o Tibete num autêntico campo de batalha, parece estar em perfeita sintonia com a atitude oficial da maioria dos governos dos países ocidentais. Ninguém diz nada de sério e determinado, nem a ONU, nem a UE, nem os EUA, nem a Rússia...
As razões que justificam esse escamoteado silêncio, prendem-se com a recente e crescente dependência económica que grande parte do mundo tem para com a República Popular de China, em vias de passar, da maior fábrica do mundo para a “única” fábrica do mundo !!
Se é verdade que o maior país comunista do planeta, moldado pelo seu então “Timoneiro”, Mao Tse Tung, viveu apavorado, estagnado e fechado sobre si próprio durante meio século, também é verdade que a China de hoje, com a reformulação ideológica parcial, operada por Deng Xiao Ping, deu origem a um inovador paradoxo, na medida em que se orgulha de reivindicar o que realmente passou a ser, ou seja: Um país, dois sistemas. Comunismo mordaz versus capitalismo selvagem !!
Vejamos: de um lado, permanece o sistema do partido comunista único, autoritário e intransigente com os seus objectivos e onde a filosofia dos direitos humano é palavra morta. Por outro lado, paralelamente a uma conservadora e feroz ideologia política exemplarmente comunista, a China implantou uma nova forma de capitalismo, verdadeiramente selvagem, onde tudo vale e tudo é permitido para alcançar os fins pretendidos: passar a ser uma super potência em todos os aspectos. População, (já é ), poder financeiro, (já tem), poder militar (já tem), supremacia fabril, (a caminho) e influência política e económica, (já tem incontestavelmente). Uma questão se coloca com toda a legitimidade: uma vez verificada a supremacia total, (talvez daqui a uns cinquenta ou setenta anos !), o que poderá fazer o resto do mundo para proteger os seus interesses e respectiva soberania? Enquanto tal não acontece, a China continua a ser materialmente incontornável para centenas de milhares de empresas espalhadas pelo mundo, que lhe confiam a sua produção, e essa tendência reforça-se de ano para ano. Face ao seu extraordinário crescimento e consequente enriquecimento, tão exponencial como rápido, a China também necessita, por sua vez, de alta tecnologia e de produtos que ela não produz e de serviços de que não dispõe. Para satisfazer essa incomensurável necessidade a todos os níveis, um importante número de países desenvolvidos, “fazem fila à porta” para propor, negociar, vender, facturar e finalmente receber milhões, milhões e mais milhões.
O actual e desmedido sucesso da China, explica-se com uma desconcertante simplicidade. O conjunto das economias capitalistas, ocupadas a alimentar e manter uma onda sem precedentes de consumismo interno desenfreado, necessitou e continua a necessitar de reduzir os custos o mais possível, de forma a poder aumentar substancialmente as suas margens comerciais, facilitando e promovendo assim, ainda mais, esse mesmo consumismo também selvagem. É graças, ou por causa dessa estratégia, que qualquer consumidor ocidental, tem e possui hoje, uma quantidade nitidamente superior de bens, com o mesmo dinheiro, em comparação com o que tinha há alguns anos atrás. Assistimos hoje ao milagre da mão de obra chinesa, barata, mas também amedrontada e disciplinada pelo poder político. Amanhã, veremos quais as consequências !
Perante este invulgar panorama, nenhum país, seja ele fornecedor, comprador ou os dois simultaneamente, se pode dar ao “luxo” de contrariar a toda poderosa China, por medo de vir a sofrer represálias, como aliás, já aconteceu.
A forma encontrada para salvaguardar a honra e os interesses diversos, consiste em recorrer a uma hipocrisia de Estado, numa tentativa desesperada de agradar à poderosa China, sem todavia criar problemas internos com a parte das populações nacionais que não entendem e não aceitam a brutal ocupação militar, comercial e financeira do Tibete pela China. Na verdade, essa nação, outrora soberana e independente, que alberga, conjuntamente com o Nepal, o tecto do mundo, o majestoso Himalaia, não passa hoje, de uma simples província da China, mais uma, no meio de tantas outras, que juntas formam o maior país do nosso planeta. Só lhe falta, depois da retrocessão de Hong Kong e Macau, engolir militarmente a Ilha Formosa e sua capital Taiwan, para completar as suas vorazes, eternas e insatisfeitas ambições geográficas. Se ainda não lhe chega ser já o maior país do mundo, onde quererá então parar ? O que será que isso anuncia ? Nada de bom certamente !!
Quando se sabe, ainda por cima, que no subsolo tibetano, se encontram importantes reservas de petróleo, nem valerá a pena acreditar que a poderosa China, maior consumidor de combustíveis fosseis, vá devolver ao Tibete a sua independência e a sua soberania. Quem ousaria fazer-lhe frente ? O mesmo acontece com a ocupada e massacrada Tchechenia, invulgarmente rica em petróleo, também ! A Rússia de Putin e de Medvedev, não irá decerto desistir destes enormes proveitos financeiros.
Por tudo isto e relativamente às próximas olimpíadas de Pequim, as autoridades chinesas podem dormir descansadas, porque ninguém terá a coragem de decretar qualquer boicote sério aos jogos. A vingança da China seria seguramente dolorosa para os “prevaricadores”. O Ocidente já marcou a sua posição oficial, anunciando que os atletas não podem de forma alguma serem reféns da política. Onde estavam esses mesmos corajosos políticos, quando russos e americanos boicotaram reciprocamente os jogos olímpicos de então nos respectivos países ?
Entretanto a China continua fiel a ela mesma. Afirma que não há repressão militar contra os “rebeldes criminosos”, que morreram apenas umas dez pessoas, que não há blindados nas ruas de Lhassa, o que aliás, é finalmente hoje totalmente contrariado pelo testemunho vivo de turistas que regressam de um território a ferro e fogo. Como se tudo isso não bastasse, os chineses dão-se mesmo o luxo de tratar o Dalaí Lama, chefe espiritual de todos os tibetanos, de “miserável cão raivoso” e voltaram a proferir ameaças contra ele, contra a sua integridade física. Aos olhos da China e em nome de uma prepotência que estranhamente ninguém contesta, passam a ser criminosos, perseguidos e castigados, todos os tibetanos que “ousam” reclamar o regresso a uma independência, usurpada em 1949. Como reagiria a China comunista em caso de invasão de parte do seu território por uma potência estrangeira ? Já conhecemos todos nós a única resposta a essa interrogação.
Agora que os comunistas chineses, incluindo autoridades civis e militares, assim como parte da população, descobriram o poder mágico do dinheiro, as delicias do consumismo do então abominável capitalismo e uma desmultiplicada força, inerente a uma efectiva e crescente posição de supremacia mundial, ninguém consegue fazer parar essa escalada, nem a China, nem os chineses, que lenta e seguramente, já se encontram instalados em todos os países do mundo, através de importantes comunidades que vivem em circuito quase fechado, à margem dos usos e costumes locais. Qual será a verdadeira razão dessa emigração planetária? Uma estranha pergunta subsiste todavia, para a qual não existe oficialmente uma resposta satisfatória: mas afinal, se nunca ninguém vê nenhum chinês velho no Ocidente, por onde é que eles andam, o que será que fazem com eles? O mal do Ocidente é deixar que tudo isto aconteça, lenta, calma, segura e inexoravelmente. Quando este Ocidente se lembrar, um dia, que é imperioso reagir, antes que seja tarde, nessa altura, já será obviamente tarde demais. A única esperança que poderemos alimentar, é que, um dia, a população chinesa ganhe coragem para rejeitar definitivamente o sistema que a oprime e consiga instalar nesse país, uma democracia inteligente e eficaz, da qual deverão ser previamente expurgados os repetidos e graves erros, habitualmente cometidos com inexplicável e imperdoável impunidade, nas democracias ocidentais

terça-feira, 18 de março de 2008

Amadorismo e mediocridade,

Como sabemos, o ano de 1986, permanecerá, tanto para a História de Portugal, como para a sua memória colectiva, uma data extremamente importante, por ter sido aquela em que, conjuntamente com a vizinha Espanha, se celebrou a adesão de ambos os países à então denominada Comunidade Económica Europeia (CEE). Passados vinte e dois longos anos após essa especial efeméride, convém analisar o caminho percorrido, examinar objectivamente a actual realidade nacional e definir com rigor e realismo, qual o Portugal que desejamos deixar aos nossos descendentes.
Tão importante questão, não pode, por motivos óbvios, ser tratada exaustiva e eficazmente no limitado espaço de um mero artigo de opinião. Merece e necessita ser aprofundado num alargado debate nacional, com a presença de intervenientes dignamente representativos de todas as forças vivas da nação.
Enquanto tal reunião de ideias e de saberes não se realizar, será plenamente legítimo e oportuno, tomar nota de algumas observações e criticas, derivadas das aparentes fraquezas e outras particularidades que, juntas, permitem entender algumas das características da actual sociedade portuguesa.
A principal base de suporte para uma nação poder conquistar elevados padrões de eficácia e riqueza e fazer com que ambas permaneçam e se fortaleçam com o passar do tempo, reside ostensivamente na também elevada qualidade do seu ensino tradicional e técnico, desde o chamado básico, até o mais elevado grau de transmissão do saber, em perfeita sintonia com uma comprovada capacidade de pesquisa e de criatividade, como partes indissociáveis de uma cultura académica, reconhecidamente ambiciosa.
A não existência de tais critérios, infalivelmente geradores de rigor e de exigência, numa sociedade alegadamente desenvolvida, pode ajudar a entender qual a verdadeira distancia que realmente separa a excelência da mediocridade.
Como diz a sabedoria popular, “Quem quer os fins, quer os meios”. Por outras palavras, sem uma política de educação, séria e sustentada, nenhum país e sua respectiva sociedade civil, terão capacidade para puderem atingir um grau de desenvolvimento acima do satisfatório. Importa, no caso português, saber tirar as lições do erros ocorridos no passado, assumir humildemente as lacunas e imperfeições do actual sistema e definir, sem mais demoras, quais os objectivos ambiciosos e realistas considerados imprescindíveis para construir, com sucesso, um novo e promissor futuro colectivo.
Talvez que o estudo aprofundado de outras sociedades, comprovadamente desenvolvidas, em países onde existe uma multiplicidade de exemplos de sucesso, possa ser um excelente laboratório de ideias, para se tirar ensinamentos adaptáveis à nossa realidade nacional. Num mundo globalizado, onde convivem pacificamente diversas formas de organizações, é natural e saudável que nos inspiremos do melhor que se produz além fronteiras e consequentemente, desenvolvamos estratégias capazes de adaptarem esse “melhor” a uma realidade nacional necessitada de melhoramentos significativos. Inventar e inovar, nem sempre compensa.
Quando somos confrontados com um conjunto de dados que provam e comprovam a gritante falta de competitividade da uma economia, aparece sempre, na análise subsequente como sendo a única, senão a principal causa dessa realidade, um falta excessiva de especialização laboral, o que provoca inevitável e infelizmente, uma proliferação de empregados desprovidos de competências profissionais, embora cada vez mais indispensáveis numa economia que caminha a passos acelerados para uma globalização generalizada. A consequência directa, será a incontornável propagação de um amadorismo arrasador, que dificulta ou impossibilita a prestação de um serviço em condições minimamente satisfatórias para o cliente.
Independentemente da evidência, segundo a qual, a qualificação profissional será sempre o melhor garante na conquista de uma elevada qualidade de serviço, também existe uma outra evidência de que raramente se fala ou se ensina, directamente ligada ao cliente consumidor, na medida em que o mesmo deve ter permanentemente presente no seu comportamento de cliente comprador, uma inflexível cultura de exigência, no que diz respeito à qualidade do serviço encomendado e prestado.
Apesar de se verificar a existências de muitos domínios onde o excesso de amadorismo excele em Portugal, um dos melhores terrenos onde se pode verificar tal lamentável e prejudicial excesso, será seguramente o sector do comercio, onde abundam milhares de empregados pertencentes a um círculo vicioso, na medida em que, por um lado, uma larga faixa de entidades patronais esfrega as mãos de contente, sempre que consegue poupar dinheiro nos encargos do seu pessoal. Por outro lado, o respectivo pessoal trabalha desinteressadamente, sem convicções e sem qualidade, de costas viradas para os interesses do cliente, em virtude de se sentir explorado no campo financeiro e consequentemente resignado a trocar horas de uma presença física, contra o embolsar de uns trocos no final do mês.

Em alguns casos, nomeadamente na hotelaria e similares, é infelizmente flagrante a anormal quantidade de empregadores e empregados que não possuem a formação minimamente necessária à elaboração das diversas tarefas inerentes à profissão, o que explica a existência regular de problemas ligados à falta de higiene, em prejuízo da saúde do consumidor. Aliás, a conhecida, mas também controversa ASAE, tem fiscalizado e autuado ultimamente várias empresas do ramo alimentar, que possuíam nos seus armazéns, toneladas de produtos em avançado estado de descomposição, aparentemente prontos a serem despachados para seus clientes retalhistas.
É de lamentar que, além do amadorismo excessivo, a ganância exacerbada, de alguns, seja verdadeiramente mais importante, do que a procura de uma orgulhosa seriedade profissional, assim como do incondicional respeito pelo cliente, ambos indispensáveis para a prestação de um serviço que se quer e se exige qualitativo e ao qual o consumidor tem plena e legitimamente direito.
Para finalizar, convém lembrar e realçar que uma das palavras chaves, para vencer honrada e eficazmente as barreiras da adversidade que fomenta geralmente uma indesejável mediocridade, dificilmente poderá ser outra que a certamente emblemática, mas seguramente invejável EXCELÊNCIA.

Não custa experimentar procurá-la e alcançá-la, o que custa e atormenta , é nunca lá chegar.