quinta-feira, 27 de março de 2008

O bom, o bonito e o belo,

Como todos os dias, uma vez levantado, saio do quarto e dirijo-me calmamente até à janela da sala, para acolher a luz do dia, dizer bom dia à nova jornada que para mim se inicia, espreito o céu para descobrir o tempo que irá fazer e olho de seguida para os espaços verdes circundantes, ruas, passeios e prédios, tentando sabiamente adivinhar a temperatura do ar, pela forma das pessoas se vestirem e andarem.

Sem saber exactamente porquê, tranquiliza-me o facto de estar a observar o movimento dos carros e das pessoas, cada uma delas, com um objectivo individual previamente definido, deslocando-se aparentemente de uma maneira quase mecânica, de um ponto de partida para outro, com destino já anteriormente decidido.

Quiçá, se nas profundezas insondáveis do meu subconsciente, o simples facto de olhar para a vida em movimento, e impregnar-me dessa agradável realidade, não terá como finalidade, apaziguar a minha alma e serenar a minha mente, eventualmente atormentadas pela incontrolável presença nocturna de sonhos porventura obscuros, aliás, certamente povoados daqueles fantasmas que desaparecem com a mesma facilidade com que chegaram !

Pois é, enquanto conseguimos influir na nossa agenda e no conteúdo dos nossos dias, com relativo sucesso, nunca seremos capazes de escolher e tão pouco dominar, o misterioso labirinto por onde passeia aleatoriamente a nossa actividade cerebral que enche o nosso sono profundo, entre o deitar e o acordar. Contra essa extraordinária e misteriosa força, contida no dédalo dos nossos sonhos, pouco ou nada se pode fazer, senão, aceitá-los pacificamente e aguardar que o dia venha revezar a noite.

É verdade que, quando, pela manhã, volta a fechar-se a caixinha mágica, guardiã destes nossos sonhos e reencontrada a nossa consciência, retomamos então progressivamente o ritmo da nosso vida diurna e consequentemente a razão de ser da nossa própria existência, dependentes dos nossos hábitos, deveres e obrigações diversos, tal como das nossas alegrias e das nossas tristezas.

Por isso, pela manhã, uma vez recarregados de novas energias, o corpo e a mente renascem em simultâneo, alimentados pela vivificante esperança de levar a bom porto os projectos que ambicionamos, os quais são reconhecidamente essenciais à nossa realização pessoal e profissional.

Como sempre, ou quase, encontraremos atravessados no nosso caminho alguns obstáculos, uns mais agrestes que outros, supostos dificultar o nosso percurso, mas que, uma vez eficazmente contornados, ajudam-nos a sentir e apreciar o prazer dessa nossa luta e, por fim, saborear merecidamente cada vitória nossa, contra uma adversidade omnipresente, na nossa vida actual.
Saudemos esse natural desafio e saibamos enfrentá-lo com honra e dignidade, porque, caso conseguíssemos combater na ausência de qualquer perigo, correríamos o desprezível risco de estarmos a triunfar sem nenhuma glória.

Que seria então de nós, uma vez despidos do nosso orgulho e da nossa vaidade ?

Como alimentar o nosso ego, nutrir legitimamente novas ambições e acreditar firmemente que as alcançaremos, amparados pela nossa fé, se deixamos irresponsavelmente a mediocridade e a irreverência sobreporem-se à ética e à seriedade ?

Os que, no entanto, resolvem escolher tais sinuosos caminhos, estarão certamente a vilipendiarem-se a eles mesmos, o que não deixa augurar nada de bom, para um futuro próximo, em termos de convivialidade e de parcerias, entre indivíduos animados de intenções antagónicas !

É importante acreditarmos pessoalmente e saber convencer os que nos rodeiam, que a vida humana possui todos as condições necessárias para vir a ser realmente bela e maravilhosa e consequentemente agradar-nos verdadeiramente, se formos capazes de aprender a exigir muito mais de nós próprios, do que limitarmo-nos a exigir que a vida nos dê o que dela queremos.

Sabendo que o sonho faz parte da vida, importa orientar e usar as nossas energias na procura do bom, do bonito e do belo que a vida tem para nos dar, independentemente do facto que ela seja, ou não, uma dádiva dos deuses, ou, simplesmente, um dos misteriosos milagres da mãe natureza.

Compete a cada um de nós acreditar firmemente, que a honra, a dignidade e o respeito, valem seguramente muito mais do que a insignificância e o desprezo, justamente merecidos por aqueles que procuram construir uma espécie de felicidade egoísta, à custa dos que continuam a acreditar, com naturalidade, nas generosas virtudes humanas.

Convém não nos esquecermos, de que a vida humana tem um ponto em comum com o Amor, do qual podemos tirar um precioso ensinamento.

Somos infinitamente mais felizes pela paixão que damos, do que por aquela que recebemos.

Basta acreditar nesse ensinamento, querê-lo íntima e activamente e pô-lo em prática, para qua a vida faça nascer, em favor daqueles que sempre viveram com o coração amargurado, uma luz cheia de esperança, aquela que ilumina caras e corações.

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