segunda-feira, 31 de março de 2008

Sexo, instrumento ambivalente e incontornável,

Uma vez estabilizados os efeitos em cadeia provocados pelo remoto e estrondoso big bang, encontraram-se então reunidas as estonteantes condições que iriam dar lugar à nascença do universo, composto por uma infinita quantidade de estrelas e de planetas; uma delas, a Terra, nossa única e querida Terra, é simultaneamente berço, lar e última morada, para uma incomensurável quantidade de vidas, representadas sob as mais diversificadas formas, estejam elas na leveza do ar, na sua imensa e variada superfície, ou ainda, nas insondáveis profundezas aquáticas dos seus numerosos mares e lagos.
No meio desta extraordinária diversidade de vidas, destacamos, em particular, a espécie humana, pelo facto de estar excepcionalmente dotada de intrínsecas capacidades, que tornaram possível uma autêntica e inigualável metamorfose, quando se sabe, que, ao longo de um lento e complexo processo evolutivo, viajamos de uma condição inicial de simples macaco, peludo e selvagem, para a nossa actual condição de ser, dito humano, com poucas semelhanças, tanto físicas como intelectuais, comparativamente aos nossos longínquos antepassados.
Esta excepcional mutação, também deu origem a uma outra particularidade que diferencia diametralmente a nossa espécie de qualquer outra, diferença essa, intimamente ligada ao sexo da mesma; sendo a sexualidade, uma filosofia própria e uma forma individual de viver o sexo que a natureza nos deu, com intensidade e finalidades variáveis, consoante raça, religião, berço, idade, vontade, ousadia, gostos e outras aspectos particulares. Se, como é o caso da esmagadora maioria das outras espécies animais, existem na raça humana dois sexos distintos, machos e fêmeas, diferentes e complementares, também sabemos que, além do natural instinto de procriação, guardião da salvaguarda de qualquer espécie, essa mesma raça, usa e abusa desse mesmo sexo, na incessante e imaginativa procura de um leque alargado de emoções, sensações e vibrações, tanto físicas como psíquicas, que, como sabemos, quanto mais intensas e mais prolongadas, melhor !
Assim sendo, não será de admirar que, independentemente da eventual tendência sexual pessoal, com a qual nascemos, seja ela genética, hereditária e/ou congénita, ou, seja ainda, por capricho da natureza, uma complicação acrescida para os hermafroditas, aqueles que vêm ao mundo com uma indefinição de sexo; enquanto uns assumem plenamente essa mesma tendência, outros, em função de necessidades específicas, ou devido a outras formas de se relacionar com o sexo, ligadas a uma abordagem intelectual própria, resolvem partir em busca de variantes, para encontrar um determinado prazer, ou, ainda, para satisfazer curiosidades, seguindo modas que têm sempre os seus disciplinados e incondicionais seguidores.
Vamos tentar sobrevoar as diferentes e variadas maneiras de abordar e viver, ou não, uma sexualidade humana, tendo em conta uma alargada diversidade de inclinações, impulsos, preferências, ou outras motivações e justificações. Aliás, na mundialmente conhecida “bíblia” do sexo, o Kama Sutra, expõem-se, com uma grande riqueza de pormenores, sejam eles escritos ou ilustrados, as variadas e imaginativas posições que a nossa espécie pode praticar e desfrutar, dentro dos limites impostos pela própria natureza humana. Convém no entanto salientar, que tamanha ousadia de demonstração explícita, só se justifica pelo facto de a sua redacção ser anterior aos actuais contextos espirituais e religiosos, claramente defensores de um puritanismo exacerbado, que serve os interesses de uma certa teologia e espiritualidade, mas não necessariamente os anseios e necessidades da condição humana.
- Em primeiro lugar, encontramos a heterossexualidade, certamente a mais corrente, que reúne ambos os sexo, o masculino e o feminino e que dá, além do incomparável prazer, lugar à continuidade da espécie. Lamenta-se no entanto, que determinados machos, incapazes de conquistar o sexo oposto pelos métodos ditos tradicionais, optem doentiamente por forçar e violentar as suas vítimas, que, infelizmente, sofrem posteriormente de dramáticos traumatismos que podem durar uma vida inteira.
- A seguir, temos a homossexualidade, que se caracteriza pela união de pessoas pertencentes ao mesmo sexo, dois homens juntos, ou duas mulheres juntas. Muito curiosamente, os adeptas convictos dessa orientação sexual, raramente regressam à heterossexualidade !
- Inspirado nas duas precedentes categorias, também há os apreciadores de sexo em grupo, seja este reduzido a três pessoas, em que duas são forçosamente do mesmo sexo, (ménage à trois), ou então, as chamadas orgias, com mais elementos, limitadas ou não em número de participantes, nas quais encontramos normalmente a presença e intervenção de ambos os sexos.
- Depois, temos os invulgares travestis, maioritariamente homens, que, por não se sentiram bem na pele do sexo em que nasceram, vestem-se de mulheres, com todos os apetrechos necessários, procurando parceiros, homens, também.
- De seguida, teremos os transexuais que optaram por passar pela mesa de operação, condição sine qua non, para mudar radical e definitivamente de sexo. Exemplo, homens que tiram os genitais, recebem uma vagina, deixam crescer o peito e eliminam uma pilosidade tornada inconveniente.
- Não podemos esquecer aqueles, que, por razões de ordem diversa, escolhem a categoria do sado-masoquismo, onde, enquanto uns procuram e sentem um determinados prazer em infligir ao parceiro um sofrimento físico e intelectual, tais como as chicotadas e as humilhações, respectivamente, outros partem à procura do prazer oposto, o do sofrimento corporal e mental pessoal.
- Uma outra forma de procurar prazeres, aliás proibidos pela sociedade, consiste na hedionda e repugnante pedofilia, através da qual, certos adultos portadores de ignóbeis desvios, têm e concretizam os seus impulsos animalescos com crianças indefesas que nunca mais poderão viver uma vida normal depois de tais abusos, nomeadamente quando repetidos até à exaustão.
- Há uma outra categoria, diferente das precedentes, que, seja por motivos de idade ou de vontade própria, ainda não acedeu aos prazeres do sexo. Estamos a falar dos jovens cujo corpo e mente ainda não revelaram o indispensável atractivo pela sexualidade, ou embora, já tenham despertado sobre o assunto em causa, ainda não tiverem o ou a parceira que permite uma primeira experiência.
- Diferente do já enunciado, existe uma situação diametralmente oposta, na medida em que implica uma total (ou parcial) abstinência relativamente ao sexo e à inerente sexualidade, causada por motivos de ordem religiosa, nomeadamente aqueles ligados a determinadas religiões, tal como a católica, que, como toda a gente sabe, tem uma visão muito particular sobre tudo o que diz respeito ao sexo e à sexualidade.
- Outros, motivados pela procura de outras formas de prazer, são adeptos do enonismo, e consequentemente, preferem os prazeres ditos solitários da masturbação. Essa forma de sexualidade, pode limitar-se ao uso de “acessórios manuais”, ou estender-se ao recurso a acessórios independentes, chamados por exemplo de sex toys, ou seja, brinquedos sexuais, tais como vibradores, entre outros utensílios deixados ao critério da imaginação humana.

- Embora pouco praticada em terras ocidentais, anotamos o amor e sexo tântrico, onde as vibrações espirituais e esotéricas beneficiam em primeiro lugar a mente do praticante, para, posteriormente, alastrarem à restante parte corporal.
- Antes de abordar a última categoria dessa listagem, encontramos os idosos que, devido às próprias leis da natureza, já não sentem o apelo de uma sexualidade tornada obsoleta, ou, então, embora animados dessa vontade, não conseguem atingir tais objectivos, por infelizmente, já não terem à disposição, o(a) indispensável parceiro(a).
- Também há uma outra variante, pouco conhecida e igualmente pouco falada, que designa por necrófilos, os que, por aberração da natureza, procuram ter relações sexuais com cadáveres humanos.
- Finalmente, para encerrar esta já extensa enumeração, na qual encontramos certamente as principais e mais conhecidas formas de se relacionar com a sexualidade, iremos abordar o surpreendente fenómeno da chamada zoofilia, que, como o nome indica, consiste em ter relações sexuais com animais, sejam eles domésticos ou selvagens. Escusado será dizer que, e assim o esperemos, só quem anseia tal forma de “prazeres” pode considerar tal relação como “normal” e “compreensível”!! Quando se sabe a alargada variedade e intensidade de prazeres que o corpo humano pode proporcionar, uma busca orientada na direcção dos animais, poderá significar existirem no indivíduo participante tendências patogénicas desviantes.

Como se pode ver, existem uma infinidade de caminhos que levam o ser humano até aos prazeres da mente e do corpo.
Mesmo se, alguns destes caminhos, certamente mais tortuosos que os tradicionais e por razões complexas, atraem lamentavelmente indivíduos perversos, classificados como tarados sexuais, mistura de seres humanos, por fora, e de animais selvagens por dentro e que, nas suas incessantes buscas de fortes e indescritíveis sensações, extraídas de um egoísta e doentio orgasmo, não hesitam em utilizar todos os meios ao seu alcance para atingir os seus fins, que a sociedade, no seu conjunto, reprova veementemente.
Uma coisa é certa, o prazer obtido na intimidade de uma situação de parceria, ou não, é bom e faz bem, tão bom e tão agradável, que dificilmente, um ser humano “normal”, admitiria aceitar viver privado dessas maravilhosas sensações que, em abono da verdade, o corpo e suas zonas erógenas sentem e exprimem claramente melhor e com mais intensidade, do que quando se tenta explicar o que se sente, pelo uso de meras palavras, escritas ou ditas !!
Embora haja relativamente ao sexo, múltiplas formas e maneiras de o encarar, dificilmente se poderá negar a sua omnipresença ao longo de todo o percurso civilizacional, até aos dias de hoje.
Mesmo admitindo que tal omnipresença seja inconveniente para certas religiões, quem poderá contestar que o sexo, sofre e beneficia, simultaneamente, de uma posição cada vez mais egocêntrica no seio da sociedade.
É ele que alimenta a mais velha profissão do mundo, fomentando entre outros, um importante tráfego de carne humana. Por ele, as pessoas apaixonam-se e casam-se e é graças a ele que se assegura a preservação da espécie humana. Por ele, alguns são capazes de mentir e de se tornarem infiéis, enquanto outros, muito lamentavelmente, não hesitam mesmo em matar por ele e em nome dele.
Não obstante essa diversidade de tendências e antes dos parceiros chegarem, de uma forma unanimemente consentida, a uma relação física e sexual, cada um assiste, atento e vigilante, ao famoso, brilhante e indissociável jogo da sedução, onde, por um lado, o macho, conquistador nato, recorrendo para o efeito a uma ancestral e avisada ciência, com o intuito de exibir charme, inteligência, humor e virilidade, encontra do outro lado, a fêmea, sedutora por excelência, fazendo uso e abuso dos seus atributos, tais como: subtileza, beleza, astúcia e feminilidade, que dará, se assim o entender, o seu consentimento para que a sedução iniciada, atinja, singelamente, o ambicionado desfecho, para plena satisfação e prazer de ambos.

Apesar de tudo o acima mencionado e sejam quais forem as virtudes e os malefícios inerentes ao sexo, o simples facto deste representar ainda e sobretudo nos nossos dias, uma das maiores fontes de movimentações de dinheiro em todo o mundo, ao lado do comércio das armas e do tráfego de drogas, faz dele, paralelamente ao seu já referido egocentrismo, um instrumento afinal tão ambivalente, como incontornável, para a tristeza de uns e regozijo de outros.

Porque não atribuir a este badalado instrumento, um merecido prémio, que seria o de campeão da hipocrisia, na medida em que todos nós gostamos de nos “aconchegar” com ele, com a maior frequência possível, mas sempre que o introduzimos nas nossas conversas, usamos a máscara do cidadão pudico e exemplar, para não chocar sensibilidades alheias e ficarmos bem vistos !

Última palavra: quando o ser humano consegue, feliz e habilmente juntar o sexo, na sua qualidade de instrumento físico, ao maravilhoso Amor, por sua vez, indispensável componente sentimental, abrem-se então, para ambos os parceiros, as portas do desfiladeiro sagrado que conduz ao desejado e reconfortante nirvana, expoente máximo e extremo de uma relação humana que se quer tão salutar como tonificante e prolongada no tempo.


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