terça-feira, 18 de março de 2008

Amadorismo e mediocridade,

Como sabemos, o ano de 1986, permanecerá, tanto para a História de Portugal, como para a sua memória colectiva, uma data extremamente importante, por ter sido aquela em que, conjuntamente com a vizinha Espanha, se celebrou a adesão de ambos os países à então denominada Comunidade Económica Europeia (CEE). Passados vinte e dois longos anos após essa especial efeméride, convém analisar o caminho percorrido, examinar objectivamente a actual realidade nacional e definir com rigor e realismo, qual o Portugal que desejamos deixar aos nossos descendentes.
Tão importante questão, não pode, por motivos óbvios, ser tratada exaustiva e eficazmente no limitado espaço de um mero artigo de opinião. Merece e necessita ser aprofundado num alargado debate nacional, com a presença de intervenientes dignamente representativos de todas as forças vivas da nação.
Enquanto tal reunião de ideias e de saberes não se realizar, será plenamente legítimo e oportuno, tomar nota de algumas observações e criticas, derivadas das aparentes fraquezas e outras particularidades que, juntas, permitem entender algumas das características da actual sociedade portuguesa.
A principal base de suporte para uma nação poder conquistar elevados padrões de eficácia e riqueza e fazer com que ambas permaneçam e se fortaleçam com o passar do tempo, reside ostensivamente na também elevada qualidade do seu ensino tradicional e técnico, desde o chamado básico, até o mais elevado grau de transmissão do saber, em perfeita sintonia com uma comprovada capacidade de pesquisa e de criatividade, como partes indissociáveis de uma cultura académica, reconhecidamente ambiciosa.
A não existência de tais critérios, infalivelmente geradores de rigor e de exigência, numa sociedade alegadamente desenvolvida, pode ajudar a entender qual a verdadeira distancia que realmente separa a excelência da mediocridade.
Como diz a sabedoria popular, “Quem quer os fins, quer os meios”. Por outras palavras, sem uma política de educação, séria e sustentada, nenhum país e sua respectiva sociedade civil, terão capacidade para puderem atingir um grau de desenvolvimento acima do satisfatório. Importa, no caso português, saber tirar as lições do erros ocorridos no passado, assumir humildemente as lacunas e imperfeições do actual sistema e definir, sem mais demoras, quais os objectivos ambiciosos e realistas considerados imprescindíveis para construir, com sucesso, um novo e promissor futuro colectivo.
Talvez que o estudo aprofundado de outras sociedades, comprovadamente desenvolvidas, em países onde existe uma multiplicidade de exemplos de sucesso, possa ser um excelente laboratório de ideias, para se tirar ensinamentos adaptáveis à nossa realidade nacional. Num mundo globalizado, onde convivem pacificamente diversas formas de organizações, é natural e saudável que nos inspiremos do melhor que se produz além fronteiras e consequentemente, desenvolvamos estratégias capazes de adaptarem esse “melhor” a uma realidade nacional necessitada de melhoramentos significativos. Inventar e inovar, nem sempre compensa.
Quando somos confrontados com um conjunto de dados que provam e comprovam a gritante falta de competitividade da uma economia, aparece sempre, na análise subsequente como sendo a única, senão a principal causa dessa realidade, um falta excessiva de especialização laboral, o que provoca inevitável e infelizmente, uma proliferação de empregados desprovidos de competências profissionais, embora cada vez mais indispensáveis numa economia que caminha a passos acelerados para uma globalização generalizada. A consequência directa, será a incontornável propagação de um amadorismo arrasador, que dificulta ou impossibilita a prestação de um serviço em condições minimamente satisfatórias para o cliente.
Independentemente da evidência, segundo a qual, a qualificação profissional será sempre o melhor garante na conquista de uma elevada qualidade de serviço, também existe uma outra evidência de que raramente se fala ou se ensina, directamente ligada ao cliente consumidor, na medida em que o mesmo deve ter permanentemente presente no seu comportamento de cliente comprador, uma inflexível cultura de exigência, no que diz respeito à qualidade do serviço encomendado e prestado.
Apesar de se verificar a existências de muitos domínios onde o excesso de amadorismo excele em Portugal, um dos melhores terrenos onde se pode verificar tal lamentável e prejudicial excesso, será seguramente o sector do comercio, onde abundam milhares de empregados pertencentes a um círculo vicioso, na medida em que, por um lado, uma larga faixa de entidades patronais esfrega as mãos de contente, sempre que consegue poupar dinheiro nos encargos do seu pessoal. Por outro lado, o respectivo pessoal trabalha desinteressadamente, sem convicções e sem qualidade, de costas viradas para os interesses do cliente, em virtude de se sentir explorado no campo financeiro e consequentemente resignado a trocar horas de uma presença física, contra o embolsar de uns trocos no final do mês.

Em alguns casos, nomeadamente na hotelaria e similares, é infelizmente flagrante a anormal quantidade de empregadores e empregados que não possuem a formação minimamente necessária à elaboração das diversas tarefas inerentes à profissão, o que explica a existência regular de problemas ligados à falta de higiene, em prejuízo da saúde do consumidor. Aliás, a conhecida, mas também controversa ASAE, tem fiscalizado e autuado ultimamente várias empresas do ramo alimentar, que possuíam nos seus armazéns, toneladas de produtos em avançado estado de descomposição, aparentemente prontos a serem despachados para seus clientes retalhistas.
É de lamentar que, além do amadorismo excessivo, a ganância exacerbada, de alguns, seja verdadeiramente mais importante, do que a procura de uma orgulhosa seriedade profissional, assim como do incondicional respeito pelo cliente, ambos indispensáveis para a prestação de um serviço que se quer e se exige qualitativo e ao qual o consumidor tem plena e legitimamente direito.
Para finalizar, convém lembrar e realçar que uma das palavras chaves, para vencer honrada e eficazmente as barreiras da adversidade que fomenta geralmente uma indesejável mediocridade, dificilmente poderá ser outra que a certamente emblemática, mas seguramente invejável EXCELÊNCIA.

Não custa experimentar procurá-la e alcançá-la, o que custa e atormenta , é nunca lá chegar.

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