segunda-feira, 31 de março de 2008

Sexo, instrumento ambivalente e incontornável,

Uma vez estabilizados os efeitos em cadeia provocados pelo remoto e estrondoso big bang, encontraram-se então reunidas as estonteantes condições que iriam dar lugar à nascença do universo, composto por uma infinita quantidade de estrelas e de planetas; uma delas, a Terra, nossa única e querida Terra, é simultaneamente berço, lar e última morada, para uma incomensurável quantidade de vidas, representadas sob as mais diversificadas formas, estejam elas na leveza do ar, na sua imensa e variada superfície, ou ainda, nas insondáveis profundezas aquáticas dos seus numerosos mares e lagos.
No meio desta extraordinária diversidade de vidas, destacamos, em particular, a espécie humana, pelo facto de estar excepcionalmente dotada de intrínsecas capacidades, que tornaram possível uma autêntica e inigualável metamorfose, quando se sabe, que, ao longo de um lento e complexo processo evolutivo, viajamos de uma condição inicial de simples macaco, peludo e selvagem, para a nossa actual condição de ser, dito humano, com poucas semelhanças, tanto físicas como intelectuais, comparativamente aos nossos longínquos antepassados.
Esta excepcional mutação, também deu origem a uma outra particularidade que diferencia diametralmente a nossa espécie de qualquer outra, diferença essa, intimamente ligada ao sexo da mesma; sendo a sexualidade, uma filosofia própria e uma forma individual de viver o sexo que a natureza nos deu, com intensidade e finalidades variáveis, consoante raça, religião, berço, idade, vontade, ousadia, gostos e outras aspectos particulares. Se, como é o caso da esmagadora maioria das outras espécies animais, existem na raça humana dois sexos distintos, machos e fêmeas, diferentes e complementares, também sabemos que, além do natural instinto de procriação, guardião da salvaguarda de qualquer espécie, essa mesma raça, usa e abusa desse mesmo sexo, na incessante e imaginativa procura de um leque alargado de emoções, sensações e vibrações, tanto físicas como psíquicas, que, como sabemos, quanto mais intensas e mais prolongadas, melhor !
Assim sendo, não será de admirar que, independentemente da eventual tendência sexual pessoal, com a qual nascemos, seja ela genética, hereditária e/ou congénita, ou, seja ainda, por capricho da natureza, uma complicação acrescida para os hermafroditas, aqueles que vêm ao mundo com uma indefinição de sexo; enquanto uns assumem plenamente essa mesma tendência, outros, em função de necessidades específicas, ou devido a outras formas de se relacionar com o sexo, ligadas a uma abordagem intelectual própria, resolvem partir em busca de variantes, para encontrar um determinado prazer, ou, ainda, para satisfazer curiosidades, seguindo modas que têm sempre os seus disciplinados e incondicionais seguidores.
Vamos tentar sobrevoar as diferentes e variadas maneiras de abordar e viver, ou não, uma sexualidade humana, tendo em conta uma alargada diversidade de inclinações, impulsos, preferências, ou outras motivações e justificações. Aliás, na mundialmente conhecida “bíblia” do sexo, o Kama Sutra, expõem-se, com uma grande riqueza de pormenores, sejam eles escritos ou ilustrados, as variadas e imaginativas posições que a nossa espécie pode praticar e desfrutar, dentro dos limites impostos pela própria natureza humana. Convém no entanto salientar, que tamanha ousadia de demonstração explícita, só se justifica pelo facto de a sua redacção ser anterior aos actuais contextos espirituais e religiosos, claramente defensores de um puritanismo exacerbado, que serve os interesses de uma certa teologia e espiritualidade, mas não necessariamente os anseios e necessidades da condição humana.
- Em primeiro lugar, encontramos a heterossexualidade, certamente a mais corrente, que reúne ambos os sexo, o masculino e o feminino e que dá, além do incomparável prazer, lugar à continuidade da espécie. Lamenta-se no entanto, que determinados machos, incapazes de conquistar o sexo oposto pelos métodos ditos tradicionais, optem doentiamente por forçar e violentar as suas vítimas, que, infelizmente, sofrem posteriormente de dramáticos traumatismos que podem durar uma vida inteira.
- A seguir, temos a homossexualidade, que se caracteriza pela união de pessoas pertencentes ao mesmo sexo, dois homens juntos, ou duas mulheres juntas. Muito curiosamente, os adeptas convictos dessa orientação sexual, raramente regressam à heterossexualidade !
- Inspirado nas duas precedentes categorias, também há os apreciadores de sexo em grupo, seja este reduzido a três pessoas, em que duas são forçosamente do mesmo sexo, (ménage à trois), ou então, as chamadas orgias, com mais elementos, limitadas ou não em número de participantes, nas quais encontramos normalmente a presença e intervenção de ambos os sexos.
- Depois, temos os invulgares travestis, maioritariamente homens, que, por não se sentiram bem na pele do sexo em que nasceram, vestem-se de mulheres, com todos os apetrechos necessários, procurando parceiros, homens, também.
- De seguida, teremos os transexuais que optaram por passar pela mesa de operação, condição sine qua non, para mudar radical e definitivamente de sexo. Exemplo, homens que tiram os genitais, recebem uma vagina, deixam crescer o peito e eliminam uma pilosidade tornada inconveniente.
- Não podemos esquecer aqueles, que, por razões de ordem diversa, escolhem a categoria do sado-masoquismo, onde, enquanto uns procuram e sentem um determinados prazer em infligir ao parceiro um sofrimento físico e intelectual, tais como as chicotadas e as humilhações, respectivamente, outros partem à procura do prazer oposto, o do sofrimento corporal e mental pessoal.
- Uma outra forma de procurar prazeres, aliás proibidos pela sociedade, consiste na hedionda e repugnante pedofilia, através da qual, certos adultos portadores de ignóbeis desvios, têm e concretizam os seus impulsos animalescos com crianças indefesas que nunca mais poderão viver uma vida normal depois de tais abusos, nomeadamente quando repetidos até à exaustão.
- Há uma outra categoria, diferente das precedentes, que, seja por motivos de idade ou de vontade própria, ainda não acedeu aos prazeres do sexo. Estamos a falar dos jovens cujo corpo e mente ainda não revelaram o indispensável atractivo pela sexualidade, ou embora, já tenham despertado sobre o assunto em causa, ainda não tiverem o ou a parceira que permite uma primeira experiência.
- Diferente do já enunciado, existe uma situação diametralmente oposta, na medida em que implica uma total (ou parcial) abstinência relativamente ao sexo e à inerente sexualidade, causada por motivos de ordem religiosa, nomeadamente aqueles ligados a determinadas religiões, tal como a católica, que, como toda a gente sabe, tem uma visão muito particular sobre tudo o que diz respeito ao sexo e à sexualidade.
- Outros, motivados pela procura de outras formas de prazer, são adeptos do enonismo, e consequentemente, preferem os prazeres ditos solitários da masturbação. Essa forma de sexualidade, pode limitar-se ao uso de “acessórios manuais”, ou estender-se ao recurso a acessórios independentes, chamados por exemplo de sex toys, ou seja, brinquedos sexuais, tais como vibradores, entre outros utensílios deixados ao critério da imaginação humana.

- Embora pouco praticada em terras ocidentais, anotamos o amor e sexo tântrico, onde as vibrações espirituais e esotéricas beneficiam em primeiro lugar a mente do praticante, para, posteriormente, alastrarem à restante parte corporal.
- Antes de abordar a última categoria dessa listagem, encontramos os idosos que, devido às próprias leis da natureza, já não sentem o apelo de uma sexualidade tornada obsoleta, ou, então, embora animados dessa vontade, não conseguem atingir tais objectivos, por infelizmente, já não terem à disposição, o(a) indispensável parceiro(a).
- Também há uma outra variante, pouco conhecida e igualmente pouco falada, que designa por necrófilos, os que, por aberração da natureza, procuram ter relações sexuais com cadáveres humanos.
- Finalmente, para encerrar esta já extensa enumeração, na qual encontramos certamente as principais e mais conhecidas formas de se relacionar com a sexualidade, iremos abordar o surpreendente fenómeno da chamada zoofilia, que, como o nome indica, consiste em ter relações sexuais com animais, sejam eles domésticos ou selvagens. Escusado será dizer que, e assim o esperemos, só quem anseia tal forma de “prazeres” pode considerar tal relação como “normal” e “compreensível”!! Quando se sabe a alargada variedade e intensidade de prazeres que o corpo humano pode proporcionar, uma busca orientada na direcção dos animais, poderá significar existirem no indivíduo participante tendências patogénicas desviantes.

Como se pode ver, existem uma infinidade de caminhos que levam o ser humano até aos prazeres da mente e do corpo.
Mesmo se, alguns destes caminhos, certamente mais tortuosos que os tradicionais e por razões complexas, atraem lamentavelmente indivíduos perversos, classificados como tarados sexuais, mistura de seres humanos, por fora, e de animais selvagens por dentro e que, nas suas incessantes buscas de fortes e indescritíveis sensações, extraídas de um egoísta e doentio orgasmo, não hesitam em utilizar todos os meios ao seu alcance para atingir os seus fins, que a sociedade, no seu conjunto, reprova veementemente.
Uma coisa é certa, o prazer obtido na intimidade de uma situação de parceria, ou não, é bom e faz bem, tão bom e tão agradável, que dificilmente, um ser humano “normal”, admitiria aceitar viver privado dessas maravilhosas sensações que, em abono da verdade, o corpo e suas zonas erógenas sentem e exprimem claramente melhor e com mais intensidade, do que quando se tenta explicar o que se sente, pelo uso de meras palavras, escritas ou ditas !!
Embora haja relativamente ao sexo, múltiplas formas e maneiras de o encarar, dificilmente se poderá negar a sua omnipresença ao longo de todo o percurso civilizacional, até aos dias de hoje.
Mesmo admitindo que tal omnipresença seja inconveniente para certas religiões, quem poderá contestar que o sexo, sofre e beneficia, simultaneamente, de uma posição cada vez mais egocêntrica no seio da sociedade.
É ele que alimenta a mais velha profissão do mundo, fomentando entre outros, um importante tráfego de carne humana. Por ele, as pessoas apaixonam-se e casam-se e é graças a ele que se assegura a preservação da espécie humana. Por ele, alguns são capazes de mentir e de se tornarem infiéis, enquanto outros, muito lamentavelmente, não hesitam mesmo em matar por ele e em nome dele.
Não obstante essa diversidade de tendências e antes dos parceiros chegarem, de uma forma unanimemente consentida, a uma relação física e sexual, cada um assiste, atento e vigilante, ao famoso, brilhante e indissociável jogo da sedução, onde, por um lado, o macho, conquistador nato, recorrendo para o efeito a uma ancestral e avisada ciência, com o intuito de exibir charme, inteligência, humor e virilidade, encontra do outro lado, a fêmea, sedutora por excelência, fazendo uso e abuso dos seus atributos, tais como: subtileza, beleza, astúcia e feminilidade, que dará, se assim o entender, o seu consentimento para que a sedução iniciada, atinja, singelamente, o ambicionado desfecho, para plena satisfação e prazer de ambos.

Apesar de tudo o acima mencionado e sejam quais forem as virtudes e os malefícios inerentes ao sexo, o simples facto deste representar ainda e sobretudo nos nossos dias, uma das maiores fontes de movimentações de dinheiro em todo o mundo, ao lado do comércio das armas e do tráfego de drogas, faz dele, paralelamente ao seu já referido egocentrismo, um instrumento afinal tão ambivalente, como incontornável, para a tristeza de uns e regozijo de outros.

Porque não atribuir a este badalado instrumento, um merecido prémio, que seria o de campeão da hipocrisia, na medida em que todos nós gostamos de nos “aconchegar” com ele, com a maior frequência possível, mas sempre que o introduzimos nas nossas conversas, usamos a máscara do cidadão pudico e exemplar, para não chocar sensibilidades alheias e ficarmos bem vistos !

Última palavra: quando o ser humano consegue, feliz e habilmente juntar o sexo, na sua qualidade de instrumento físico, ao maravilhoso Amor, por sua vez, indispensável componente sentimental, abrem-se então, para ambos os parceiros, as portas do desfiladeiro sagrado que conduz ao desejado e reconfortante nirvana, expoente máximo e extremo de uma relação humana que se quer tão salutar como tonificante e prolongada no tempo.


quinta-feira, 27 de março de 2008

O bom, o bonito e o belo,

Como todos os dias, uma vez levantado, saio do quarto e dirijo-me calmamente até à janela da sala, para acolher a luz do dia, dizer bom dia à nova jornada que para mim se inicia, espreito o céu para descobrir o tempo que irá fazer e olho de seguida para os espaços verdes circundantes, ruas, passeios e prédios, tentando sabiamente adivinhar a temperatura do ar, pela forma das pessoas se vestirem e andarem.

Sem saber exactamente porquê, tranquiliza-me o facto de estar a observar o movimento dos carros e das pessoas, cada uma delas, com um objectivo individual previamente definido, deslocando-se aparentemente de uma maneira quase mecânica, de um ponto de partida para outro, com destino já anteriormente decidido.

Quiçá, se nas profundezas insondáveis do meu subconsciente, o simples facto de olhar para a vida em movimento, e impregnar-me dessa agradável realidade, não terá como finalidade, apaziguar a minha alma e serenar a minha mente, eventualmente atormentadas pela incontrolável presença nocturna de sonhos porventura obscuros, aliás, certamente povoados daqueles fantasmas que desaparecem com a mesma facilidade com que chegaram !

Pois é, enquanto conseguimos influir na nossa agenda e no conteúdo dos nossos dias, com relativo sucesso, nunca seremos capazes de escolher e tão pouco dominar, o misterioso labirinto por onde passeia aleatoriamente a nossa actividade cerebral que enche o nosso sono profundo, entre o deitar e o acordar. Contra essa extraordinária e misteriosa força, contida no dédalo dos nossos sonhos, pouco ou nada se pode fazer, senão, aceitá-los pacificamente e aguardar que o dia venha revezar a noite.

É verdade que, quando, pela manhã, volta a fechar-se a caixinha mágica, guardiã destes nossos sonhos e reencontrada a nossa consciência, retomamos então progressivamente o ritmo da nosso vida diurna e consequentemente a razão de ser da nossa própria existência, dependentes dos nossos hábitos, deveres e obrigações diversos, tal como das nossas alegrias e das nossas tristezas.

Por isso, pela manhã, uma vez recarregados de novas energias, o corpo e a mente renascem em simultâneo, alimentados pela vivificante esperança de levar a bom porto os projectos que ambicionamos, os quais são reconhecidamente essenciais à nossa realização pessoal e profissional.

Como sempre, ou quase, encontraremos atravessados no nosso caminho alguns obstáculos, uns mais agrestes que outros, supostos dificultar o nosso percurso, mas que, uma vez eficazmente contornados, ajudam-nos a sentir e apreciar o prazer dessa nossa luta e, por fim, saborear merecidamente cada vitória nossa, contra uma adversidade omnipresente, na nossa vida actual.
Saudemos esse natural desafio e saibamos enfrentá-lo com honra e dignidade, porque, caso conseguíssemos combater na ausência de qualquer perigo, correríamos o desprezível risco de estarmos a triunfar sem nenhuma glória.

Que seria então de nós, uma vez despidos do nosso orgulho e da nossa vaidade ?

Como alimentar o nosso ego, nutrir legitimamente novas ambições e acreditar firmemente que as alcançaremos, amparados pela nossa fé, se deixamos irresponsavelmente a mediocridade e a irreverência sobreporem-se à ética e à seriedade ?

Os que, no entanto, resolvem escolher tais sinuosos caminhos, estarão certamente a vilipendiarem-se a eles mesmos, o que não deixa augurar nada de bom, para um futuro próximo, em termos de convivialidade e de parcerias, entre indivíduos animados de intenções antagónicas !

É importante acreditarmos pessoalmente e saber convencer os que nos rodeiam, que a vida humana possui todos as condições necessárias para vir a ser realmente bela e maravilhosa e consequentemente agradar-nos verdadeiramente, se formos capazes de aprender a exigir muito mais de nós próprios, do que limitarmo-nos a exigir que a vida nos dê o que dela queremos.

Sabendo que o sonho faz parte da vida, importa orientar e usar as nossas energias na procura do bom, do bonito e do belo que a vida tem para nos dar, independentemente do facto que ela seja, ou não, uma dádiva dos deuses, ou, simplesmente, um dos misteriosos milagres da mãe natureza.

Compete a cada um de nós acreditar firmemente, que a honra, a dignidade e o respeito, valem seguramente muito mais do que a insignificância e o desprezo, justamente merecidos por aqueles que procuram construir uma espécie de felicidade egoísta, à custa dos que continuam a acreditar, com naturalidade, nas generosas virtudes humanas.

Convém não nos esquecermos, de que a vida humana tem um ponto em comum com o Amor, do qual podemos tirar um precioso ensinamento.

Somos infinitamente mais felizes pela paixão que damos, do que por aquela que recebemos.

Basta acreditar nesse ensinamento, querê-lo íntima e activamente e pô-lo em prática, para qua a vida faça nascer, em favor daqueles que sempre viveram com o coração amargurado, uma luz cheia de esperança, aquela que ilumina caras e corações.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Os noivos, o fisco e as multas,

O ditado antigo que afirmava : “A cada dia, as suas penas”, está cada vez mais vivo e actual !

Portugal, graças ao seu invulgar governo, chefiado por um também invulgar primeiro ministro, José Socrates, fica, a cada dia que passa, cada vez mais longe da Europa, pelos motivos mais caricatos e surpreendentes.

Há dias, o país foi informado pela comunicação social, que o governo português tinha resolvido proibir terminantemente a colocação de piercings na língua.
Independentemente das opiniões individuais, (que gozam ainda de uma certa liberdade), que determinam se estamos indiferentes, contra ou a favor do uso de tais práticas e de tais acessórios corporais, tal atitude legislativa, pode e deve ser interpretada, como sendo, da parte do Estado, uma intromissão grave e no mínimo abusiva, no contexto muito particular da privacidade das pessoas. Afinal, para os muitos adeptos apreciadores destas excentricidades, qual a diferença entre ter um, ou vários piercings, na língua, nos mamilos, no umbigo, nas orelhas, no nariz, nos genitais e em outros demais sítios habituados a receber esses “ornamentos”, senão uma simples apetência e preferência, meramente pessoal ? Ou seja, para já, a proibição governamental limita-se à língua, amanhã veremos !

Depois deste divertido episódio, o governo persiste em demonstrar que possui verdadeiramente uma invulgar preocupação para com os cidadãos contribuintes, através de uma nova e surpreendente iniciativa legislativa. Desta vez, e com a história dos piercings ainda muita fresca na memória colectiva, publicou-se uma nova lei, embora de âmbito dito fiscal, que denuncia um novo e inaceitável abuso do Estado, quanto à sua intromissão na esfera claramente privada da vida das pessoas. O que diz esta surpreendente lei ? Que todos os recém casados, tenham eles contraído matrimónio perante Deus e/ou perante os homens, ficam obrigados a revelar todos os custos inerentes à cerimónia, tal como o tradicional e normalmente oneroso copo de água, assim como as despesas directamente ligadas ao casamento, como por exemplo: o vestido da noiva, o fato do noivo e outras, etc, etc...
O objectivo, abertamente declarado pelo governo, é simplesmente a criação de uma inovadora e rigorosa fiscalização dos recibos, ligados às principais e tradicionais despesas originadas pelo matrimónio. Todos sabemos que para haver um recibo, tem que existir uma factura e quando há factura, também há IVA, destinado às finanças. Por outras palavras, o fisco descobriu que ficava a ver passar navios no que diz respeito ao IVA destas importantes despesas de ordem pessoal, já que, por se tratarem de gastos relativos à vida privada das pessoas, nem todos os comerciantes estariam a emitir as respectivas facturas, que os clientes nem sequer exigem. Pois claro!

Apesar do aspecto francamente caricato de mais esta iniciativa governamental, deixamos certamente de achar graça à mesma, quando, aprofundando a leitura da lei, se informa os recém casados que, caso não preencham o questionário fornecido pelas finanças, onde deverão constar os nomes dos comerciantes que forneceram produtos e serviços destinados ao casamento, assim como respectivas facturas e recibos, ficam sujeitos ao pagamento de uma coima até 2.500 euros, por serem coniventes com o princípio da fuga ao fisco.

Moral da história.

O Estado está cada vez mais empenhado em arrecadar dinheiro através da recolha de impostos, multas, juros de mora, coimas, assim como através de qualquer outra forma, que seja surpreendente e imaginativa. O principal é receber dinheiro, cada vez mais dinheiro. Só é pena não se verificar uma redistribuição justa e coerente desse mesmo dinheiro !

Mas como em tudo na vida, o que importa é fazer as coisas bem e correctamente. Ora, obrigar os recém casados
a divulgar pormenores da sua privacidade e ameaçando-os de multas pesadas, caso não contribuam com as iniciativas governamentais, além de ser tão condenável como incorrecto, também equivale a transformar as pessoas em autênticos delatores, obrigando assim as mesmas a substituírem-se ao papel do Estado e à sua administração pública a quem compete realmente e em exclusivo, o trabalho de fiscalização. O simples facto do Estado “delegar” arbitrariamente essa competência, inclusive com recurso a ameaças, demonstra a incapacidade da sua administração pública em desempenhar uma missão que só a ela pertence.
Numa outra linguagem, também se pode chamar essa forma de governar e de gerir os assuntos públicos, de abuso de poder. Como diziam os romanos, “A César, o que é de César.”

Tal atitude, além de ser claramente amoral e discriminatória, também peca por ser profundamente indigna de uma nação de se assume como sendo um Estado de Direito: “Façam aquilo que vos digo e não aquilo que eu faço”.

Para concluir, o que assusta, de uma certa forma, é que quando estamos na presença de um Estado que não hesita em proceder dessa maneira para alcançar os seus objectivos, podemos preparar-nos para sermos vítimas de outros abusos, de outros exageros e de outros pontapés na moral e na dignidade, cujo exemplo, deveria vir de cima, como será infeliz e lamentavelmente o caso agora, com este novo episódio.

Jovem aluna agride professora em plena aula,

A agressão prolongada de uma aluna portuguesa à sua professora, em meados de Março de 2008, perante os restantes alunos da turma, é certamente, por si só, uma notícia extremamente positiva, apesar da imensa tristeza e incompreensão que a mesma suscita !

Positiva, porque graças aos telemóveis com câmara ao alcance de todos, ficou bem patente o baixo nível de educação da juventude de hoje, assim como a facilidade com a qual se pode deliberadamente atentar contra a privacidade a que todos têm direito, incluindo a daquela professora e finalmente, ficou demonstrada a estonteante facilidade com a qual se pode publicar imagens privadas, sem nenhuma espécie de controlo, nesta indiscreta janela aberta sobre o mundo que é a Internet, com a ajuda do seu procurado e acessível site You Tube.

Positiva, porque permite colocar várias e importantes perguntas, tais como : o que pensaram dessa agressão os restantes alunos da referida aula ? Porque razão não intervieram eficaz e rapidamente ? Porque permitiram, deliberadamente, que fossem filmadas as imagens dessa longa agressão e que as mesmas fossem publicadas no You Tube (e com que intuito) ? O que pensaram os pais da jovem agressora, perante tamanha incongruência que vitimou a professora a quem confiaram a própria filha ? Como desejariam aqueles pais, que reagissem a professora, a direcção da escola e o próprio Ministério da Educação ? A reacção destes pais seria diferente, caso fosse uma outra aluna a agredir de igual forma a mesma professora ? Será que a agressora sofrerá algum castigo exemplar ? Será que os restantes alunos da aula que, cobardemente não intervieram em defesa da professora, merecem igualmente alguma punição exemplar ? Qual a explicação da jovem agressora para o seu inadmissível comportamento ?

Positiva, porque as autoridades competentes têm desde já plena legitimidade para tomar, urgente e inteligentemente, todas as medidas que se impõem para evitar que tão lamentável cena se repita com a mesma facilidade.

Positiva, porque esta invulgar e gravíssima agressão, contem simplesmente muitos ensinamentos que urge e importa tirar, especialmente porque vivemos numa sociedade que tem vindo a banalizar e assimilar assustadoramente uma violência gratuita e desrespeitosa, o que, como se sabe, há poucos anos atrás ainda, era severa e exemplarmente repreendido e castigado, quando acontecia.

Positiva, porque tal acontecimento é suposto ajudar-nos, individual e colectivamente, a diferenciar o correcto do incorrecto, o aceitável do inaceitável, assim como, ver e determinar com sabedoria e rigor, o que queremos para o nosso mundo de amanhã e sobretudo o que não queremos mais, nem para o mundo, nem para nós.

Positiva, porque permite ganhar uma maior sensibilidade acerca dos erros e omissões diversos que foram sendo cometidos em nome do progresso e da permissividade e cujas consequências se irão agravando cada vez mais, se nada ou pouco for feito para promover o bem e o justo, em vez de encorajar o que está mal e divertir-se com a infelicidade das vítimas.

Positiva, porque, assim se espera, que alunos, pais de alunos, professores, direcção escolar, autoridades diversas e população em conjunto, deveriam aceitar, com a maior brevidade possível, a marcação de um debate nacional sobre o actual sistema educativo, simultaneamente a cargo de todos os interessados acima referenciados e analisar exaustivamente as actuais consequências de tantos anos de passividade e de tolerância concedidos, aos jovens em particular, em nome de uma sacrossanta liberdade e de uma evolução que é tão necessária como incontornável, mas também, que se tornou consequentemente incontrolável, ou a caminho disso.

Positiva, porque certamente, caso tão leviana e hedionda agressão não tivesse acontecido, nas condições que todos conhecemos, ninguém estaria a relatar estes factos, correndo-se o risco de, amanhã, podermos eventualmente assistir a algo ainda muito pior e de consequências ainda mais graves.

Positiva, porque face ao choque que provocaram essas inesperadas imagens, cada um de nós tem a obrigação e o dever moral de parar e pensar relativamente ao que somos, saber até onde podemos ir nas mudanças a implantar e finalmente, sermos humildemente capazes de decidir, com inteligência e sentido de responsabilidade sobre o que realmente queremos, para nós, para os nossos filhos e netos.

Positiva, porque devemos ter a sensibilidade e coragem para nos apercebermos que, além da frieza e da perigosidade contidas no mal que repentinamente surge à nossa frente, também existe o lado bom, que devemos procurar e encontrar, o tal que, nas profundezas da nossa mente, nos obriga a repensar a visão que temos relativamente ao nosso futuro, futuro esse, aliás, que só conseguiremos construir, se soubermos olhar, reflectido e humildemente, sobre o nosso passado e o nosso presente.

O lado bom da vida não custa nada. O que custa, bastante, é não sermos capazes de eliminar o mal que nós próprios criamos e que deixamos cegamente desenvolver, até atingir os limites do razoável.

terça-feira, 25 de março de 2008

Esperança e realidade,

Abril, que brevemente se irá novamente festejar, foi para todo um povo, sinónimo de esperança para uma vida em liberdade numa sociedade mais justa e onde a qualidade de vida passaria de uma simples miragem para uma desejada e merecida realidade. Em 1986, doze anos depois da festa dos cravos e graças à entrada de Portugal na U.E, voltou a nascer uma nova esperança no coração deste povo. Passados estes longos trinta e quatro anos sobre o despertar dessas redobradas e não menos legítimas esperanças, importa ter a coragem de lançar um olhar sobre o caminho percorrido desde então.
Para isso e da mesma forma que a RTP soube promover a eleição do “maior português de sempre,” abrindo assim um importante debate à escala nacional, essa mesma RTP, poderia proporcionar com a mesma eficácia e visibilidade, uma recolha generalizada de opiniões dos portugueses, relativamente ao despertar, vida e morte anunciada das esperanças atrás mencionadas.

Não é por alguns sectores da sociedade terem de facto progredido, graças à ajuda dos milhões de milhões de Euros recebidos de Bruxelas, que se deve precipitadamente concluir, que os louros desse mesmo progresso, são da exclusiva responsabilidade dos sucessivos e numerosos governos que já passaram por São Bento. Convém sobretudo não nos esquecermos, que, em contrapartida, nos outros restantes sectores da sociedade portuguesa, muito pouco se tem conseguido de positivo, face às incomensuráveis e mais do que justificadas expectativas, criadas aliás com toda a legitimidade. É caso para a colectividade perguntar: onde estão afinal hoje, os genuínos e verdadeiros motivos para que possamos sentir um profundo orgulho da “obra realizada” em benefício dos portugueses, desde 1974? Além de uma incontestável maior liberdade de pensamento e de movimento e outras conhecidas conquistas decretadas a partir dessa data, Abril proporcionou igualmente a abertura de uma janela sobre a Europa e o mundo, que permitiu descobrir quão diferente podia ser o grau de desenvolvimento, entre a sociedade portuguesa da altura, comparativamente com as suas congéneres europeias, entre outras.

Com o passar do tempo e tendo em conta a introdução das numerosas mudanças operadas na sociedade civil, torna-se imprescindível tirar proveito dessa ainda recente liberdade de expressão, deixando exprimir-se as pessoas do povo, os portugueses anónimos, sobre o balanço colectivo e individual de trinta e quatro anos de Democracia. Se considerarmos que, entretanto, o mundo entrou precipitadamente numa nova era, a da globalização, sem que a economia nacional estivesse minimamente preparada para tal embate, não seria de admirar que muito gente tivesse a coragem de pensar e dizer que, afinal, as ditas conquistas da revolução dos cravos, saíram muito caras, talvez mesmo demasiado caras ao contribuinte anónimo.
Quem nos garante hoje, que na sequência dessa globalização claramente imposta, já que ela não foi desejada, e considerando o estado de saúde da nossa real economia, assim como o das finanças públicas, não possamos vir a assistir nos próximos tempos, a um retrocesso generalizado que poderá prejudicar ainda mais a nossa já debilitada situação económica?

É nomeadamente a pensar nessa possibilidade, talvez mesmo inelutável, que não podemos nem devemos deixar-nos ludibriar pelos habituais discursos triunfalistas, autoritários e arrogantes dos governantes, que aparentemente, nunca colocaram como prioridade absoluta, o imprescindível aumento de qualidade do nível de vida e de felicidade da população.

Seja pela participação dos senhores e donos da política, ou dos muitos comentadores que abundam na nossa praça, é surpreendente que, após tanto anos de debates televisivos, tantas mesas redondas e quadradas, tantas análises, tão sábias como exaustivas, tanta pertinência, tanta sabedoria, tanta certeza e tanto poder de dissuasão, ninguém tenha sido capaz de ouvir convenientemente estes magos das ciências exactas e abstractas, de forma a fazer reverter estas sábias lições em beneficio de Portugal e da sua sacrificada população !!

Ninguém pode contestar o facto de que, esta nação, outrora gloriosa, sofre de um mal profundo, que consiste invariavelmente em sobrepor o discurso aos actos. Enquanto se inflaciona as palavras e as belas intenções, os actos nunca chegam a vias de facto. Por causa de tudo isso, o país vive com os pernas enlameadas até os joelhos, no cada vez mais profundo pântano das inúmeras e eternas promessas não cumpridas.
Paradoxalmente, sempre que a sociedade entra numa nova campanha eleitoral, verificamos que existe teimosamente uma grande quantidade de irredutíveis, incondicionalmente defensores de uma determinada cor política, que gritam até que a voz lhes doa, em favor dos candidatos afectos a essa mesma cor. Curiosamente, uma vez os candidatos transformados em eleitos, os mesmos irredutíveis continuam incansavelmente a gritar, mas desta vez, para ostentar desespero e descontentamento, por não receber e beneficiar o fruto das promessas ruidosamente divulgadas durante a campanha. Uma coisa é certa, a situação dos portugueses tem-se agravado substancial e inexoravelmente e não é de admirar que a esmagadora maioria da população se vá desligando pouco a pouco da política nacional, das suas instituições e dos seus governantes, julgados responsáveis directos dos actuais males da sociedade. No dia em que já não houver mais buracos no cinto para poder aperta-lo, soará finalmente a hora de aperto para o conjunto dos vendedores de banha de cobra, que gozaram de uma total e vergonhosa impunidade durante demasiado tempo, enquanto os “paus mandados” sofriam e se sacrificavam para proveito de uma classe de dirigentes sem escrúpulos, ávidos de boas coisas e de uma boa vida.
Talvez o maior erro dos governantes tenha sido acreditar que a lendária passividade da população seria eterna, porque a cobardia e o medo sobrepor-se-iam à coragem e à ousadia, ambas indispensáveis para o povo poder interferir directamente no seu próprio futuro.

Oxalá este povo saiba reclamar eficaz e inteligentemente os seus legítimos direitos, de uma forma segura e duradoira, sem todavia cair na tentação de procurar vingar-se junto dos responsáveis pelo seu insuportável e injusto sofrimento.

Tibete usurpado e amordaçado,

A indisfarçável timidez com que a comunicação social relata os acontecimentos que estão a transformar o Tibete num autêntico campo de batalha, parece estar em perfeita sintonia com a atitude oficial da maioria dos governos dos países ocidentais. Ninguém diz nada de sério e determinado, nem a ONU, nem a UE, nem os EUA, nem a Rússia...
As razões que justificam esse escamoteado silêncio, prendem-se com a recente e crescente dependência económica que grande parte do mundo tem para com a República Popular de China, em vias de passar, da maior fábrica do mundo para a “única” fábrica do mundo !!
Se é verdade que o maior país comunista do planeta, moldado pelo seu então “Timoneiro”, Mao Tse Tung, viveu apavorado, estagnado e fechado sobre si próprio durante meio século, também é verdade que a China de hoje, com a reformulação ideológica parcial, operada por Deng Xiao Ping, deu origem a um inovador paradoxo, na medida em que se orgulha de reivindicar o que realmente passou a ser, ou seja: Um país, dois sistemas. Comunismo mordaz versus capitalismo selvagem !!
Vejamos: de um lado, permanece o sistema do partido comunista único, autoritário e intransigente com os seus objectivos e onde a filosofia dos direitos humano é palavra morta. Por outro lado, paralelamente a uma conservadora e feroz ideologia política exemplarmente comunista, a China implantou uma nova forma de capitalismo, verdadeiramente selvagem, onde tudo vale e tudo é permitido para alcançar os fins pretendidos: passar a ser uma super potência em todos os aspectos. População, (já é ), poder financeiro, (já tem), poder militar (já tem), supremacia fabril, (a caminho) e influência política e económica, (já tem incontestavelmente). Uma questão se coloca com toda a legitimidade: uma vez verificada a supremacia total, (talvez daqui a uns cinquenta ou setenta anos !), o que poderá fazer o resto do mundo para proteger os seus interesses e respectiva soberania? Enquanto tal não acontece, a China continua a ser materialmente incontornável para centenas de milhares de empresas espalhadas pelo mundo, que lhe confiam a sua produção, e essa tendência reforça-se de ano para ano. Face ao seu extraordinário crescimento e consequente enriquecimento, tão exponencial como rápido, a China também necessita, por sua vez, de alta tecnologia e de produtos que ela não produz e de serviços de que não dispõe. Para satisfazer essa incomensurável necessidade a todos os níveis, um importante número de países desenvolvidos, “fazem fila à porta” para propor, negociar, vender, facturar e finalmente receber milhões, milhões e mais milhões.
O actual e desmedido sucesso da China, explica-se com uma desconcertante simplicidade. O conjunto das economias capitalistas, ocupadas a alimentar e manter uma onda sem precedentes de consumismo interno desenfreado, necessitou e continua a necessitar de reduzir os custos o mais possível, de forma a poder aumentar substancialmente as suas margens comerciais, facilitando e promovendo assim, ainda mais, esse mesmo consumismo também selvagem. É graças, ou por causa dessa estratégia, que qualquer consumidor ocidental, tem e possui hoje, uma quantidade nitidamente superior de bens, com o mesmo dinheiro, em comparação com o que tinha há alguns anos atrás. Assistimos hoje ao milagre da mão de obra chinesa, barata, mas também amedrontada e disciplinada pelo poder político. Amanhã, veremos quais as consequências !
Perante este invulgar panorama, nenhum país, seja ele fornecedor, comprador ou os dois simultaneamente, se pode dar ao “luxo” de contrariar a toda poderosa China, por medo de vir a sofrer represálias, como aliás, já aconteceu.
A forma encontrada para salvaguardar a honra e os interesses diversos, consiste em recorrer a uma hipocrisia de Estado, numa tentativa desesperada de agradar à poderosa China, sem todavia criar problemas internos com a parte das populações nacionais que não entendem e não aceitam a brutal ocupação militar, comercial e financeira do Tibete pela China. Na verdade, essa nação, outrora soberana e independente, que alberga, conjuntamente com o Nepal, o tecto do mundo, o majestoso Himalaia, não passa hoje, de uma simples província da China, mais uma, no meio de tantas outras, que juntas formam o maior país do nosso planeta. Só lhe falta, depois da retrocessão de Hong Kong e Macau, engolir militarmente a Ilha Formosa e sua capital Taiwan, para completar as suas vorazes, eternas e insatisfeitas ambições geográficas. Se ainda não lhe chega ser já o maior país do mundo, onde quererá então parar ? O que será que isso anuncia ? Nada de bom certamente !!
Quando se sabe, ainda por cima, que no subsolo tibetano, se encontram importantes reservas de petróleo, nem valerá a pena acreditar que a poderosa China, maior consumidor de combustíveis fosseis, vá devolver ao Tibete a sua independência e a sua soberania. Quem ousaria fazer-lhe frente ? O mesmo acontece com a ocupada e massacrada Tchechenia, invulgarmente rica em petróleo, também ! A Rússia de Putin e de Medvedev, não irá decerto desistir destes enormes proveitos financeiros.
Por tudo isto e relativamente às próximas olimpíadas de Pequim, as autoridades chinesas podem dormir descansadas, porque ninguém terá a coragem de decretar qualquer boicote sério aos jogos. A vingança da China seria seguramente dolorosa para os “prevaricadores”. O Ocidente já marcou a sua posição oficial, anunciando que os atletas não podem de forma alguma serem reféns da política. Onde estavam esses mesmos corajosos políticos, quando russos e americanos boicotaram reciprocamente os jogos olímpicos de então nos respectivos países ?
Entretanto a China continua fiel a ela mesma. Afirma que não há repressão militar contra os “rebeldes criminosos”, que morreram apenas umas dez pessoas, que não há blindados nas ruas de Lhassa, o que aliás, é finalmente hoje totalmente contrariado pelo testemunho vivo de turistas que regressam de um território a ferro e fogo. Como se tudo isso não bastasse, os chineses dão-se mesmo o luxo de tratar o Dalaí Lama, chefe espiritual de todos os tibetanos, de “miserável cão raivoso” e voltaram a proferir ameaças contra ele, contra a sua integridade física. Aos olhos da China e em nome de uma prepotência que estranhamente ninguém contesta, passam a ser criminosos, perseguidos e castigados, todos os tibetanos que “ousam” reclamar o regresso a uma independência, usurpada em 1949. Como reagiria a China comunista em caso de invasão de parte do seu território por uma potência estrangeira ? Já conhecemos todos nós a única resposta a essa interrogação.
Agora que os comunistas chineses, incluindo autoridades civis e militares, assim como parte da população, descobriram o poder mágico do dinheiro, as delicias do consumismo do então abominável capitalismo e uma desmultiplicada força, inerente a uma efectiva e crescente posição de supremacia mundial, ninguém consegue fazer parar essa escalada, nem a China, nem os chineses, que lenta e seguramente, já se encontram instalados em todos os países do mundo, através de importantes comunidades que vivem em circuito quase fechado, à margem dos usos e costumes locais. Qual será a verdadeira razão dessa emigração planetária? Uma estranha pergunta subsiste todavia, para a qual não existe oficialmente uma resposta satisfatória: mas afinal, se nunca ninguém vê nenhum chinês velho no Ocidente, por onde é que eles andam, o que será que fazem com eles? O mal do Ocidente é deixar que tudo isto aconteça, lenta, calma, segura e inexoravelmente. Quando este Ocidente se lembrar, um dia, que é imperioso reagir, antes que seja tarde, nessa altura, já será obviamente tarde demais. A única esperança que poderemos alimentar, é que, um dia, a população chinesa ganhe coragem para rejeitar definitivamente o sistema que a oprime e consiga instalar nesse país, uma democracia inteligente e eficaz, da qual deverão ser previamente expurgados os repetidos e graves erros, habitualmente cometidos com inexplicável e imperdoável impunidade, nas democracias ocidentais

terça-feira, 18 de março de 2008

Amadorismo e mediocridade,

Como sabemos, o ano de 1986, permanecerá, tanto para a História de Portugal, como para a sua memória colectiva, uma data extremamente importante, por ter sido aquela em que, conjuntamente com a vizinha Espanha, se celebrou a adesão de ambos os países à então denominada Comunidade Económica Europeia (CEE). Passados vinte e dois longos anos após essa especial efeméride, convém analisar o caminho percorrido, examinar objectivamente a actual realidade nacional e definir com rigor e realismo, qual o Portugal que desejamos deixar aos nossos descendentes.
Tão importante questão, não pode, por motivos óbvios, ser tratada exaustiva e eficazmente no limitado espaço de um mero artigo de opinião. Merece e necessita ser aprofundado num alargado debate nacional, com a presença de intervenientes dignamente representativos de todas as forças vivas da nação.
Enquanto tal reunião de ideias e de saberes não se realizar, será plenamente legítimo e oportuno, tomar nota de algumas observações e criticas, derivadas das aparentes fraquezas e outras particularidades que, juntas, permitem entender algumas das características da actual sociedade portuguesa.
A principal base de suporte para uma nação poder conquistar elevados padrões de eficácia e riqueza e fazer com que ambas permaneçam e se fortaleçam com o passar do tempo, reside ostensivamente na também elevada qualidade do seu ensino tradicional e técnico, desde o chamado básico, até o mais elevado grau de transmissão do saber, em perfeita sintonia com uma comprovada capacidade de pesquisa e de criatividade, como partes indissociáveis de uma cultura académica, reconhecidamente ambiciosa.
A não existência de tais critérios, infalivelmente geradores de rigor e de exigência, numa sociedade alegadamente desenvolvida, pode ajudar a entender qual a verdadeira distancia que realmente separa a excelência da mediocridade.
Como diz a sabedoria popular, “Quem quer os fins, quer os meios”. Por outras palavras, sem uma política de educação, séria e sustentada, nenhum país e sua respectiva sociedade civil, terão capacidade para puderem atingir um grau de desenvolvimento acima do satisfatório. Importa, no caso português, saber tirar as lições do erros ocorridos no passado, assumir humildemente as lacunas e imperfeições do actual sistema e definir, sem mais demoras, quais os objectivos ambiciosos e realistas considerados imprescindíveis para construir, com sucesso, um novo e promissor futuro colectivo.
Talvez que o estudo aprofundado de outras sociedades, comprovadamente desenvolvidas, em países onde existe uma multiplicidade de exemplos de sucesso, possa ser um excelente laboratório de ideias, para se tirar ensinamentos adaptáveis à nossa realidade nacional. Num mundo globalizado, onde convivem pacificamente diversas formas de organizações, é natural e saudável que nos inspiremos do melhor que se produz além fronteiras e consequentemente, desenvolvamos estratégias capazes de adaptarem esse “melhor” a uma realidade nacional necessitada de melhoramentos significativos. Inventar e inovar, nem sempre compensa.
Quando somos confrontados com um conjunto de dados que provam e comprovam a gritante falta de competitividade da uma economia, aparece sempre, na análise subsequente como sendo a única, senão a principal causa dessa realidade, um falta excessiva de especialização laboral, o que provoca inevitável e infelizmente, uma proliferação de empregados desprovidos de competências profissionais, embora cada vez mais indispensáveis numa economia que caminha a passos acelerados para uma globalização generalizada. A consequência directa, será a incontornável propagação de um amadorismo arrasador, que dificulta ou impossibilita a prestação de um serviço em condições minimamente satisfatórias para o cliente.
Independentemente da evidência, segundo a qual, a qualificação profissional será sempre o melhor garante na conquista de uma elevada qualidade de serviço, também existe uma outra evidência de que raramente se fala ou se ensina, directamente ligada ao cliente consumidor, na medida em que o mesmo deve ter permanentemente presente no seu comportamento de cliente comprador, uma inflexível cultura de exigência, no que diz respeito à qualidade do serviço encomendado e prestado.
Apesar de se verificar a existências de muitos domínios onde o excesso de amadorismo excele em Portugal, um dos melhores terrenos onde se pode verificar tal lamentável e prejudicial excesso, será seguramente o sector do comercio, onde abundam milhares de empregados pertencentes a um círculo vicioso, na medida em que, por um lado, uma larga faixa de entidades patronais esfrega as mãos de contente, sempre que consegue poupar dinheiro nos encargos do seu pessoal. Por outro lado, o respectivo pessoal trabalha desinteressadamente, sem convicções e sem qualidade, de costas viradas para os interesses do cliente, em virtude de se sentir explorado no campo financeiro e consequentemente resignado a trocar horas de uma presença física, contra o embolsar de uns trocos no final do mês.

Em alguns casos, nomeadamente na hotelaria e similares, é infelizmente flagrante a anormal quantidade de empregadores e empregados que não possuem a formação minimamente necessária à elaboração das diversas tarefas inerentes à profissão, o que explica a existência regular de problemas ligados à falta de higiene, em prejuízo da saúde do consumidor. Aliás, a conhecida, mas também controversa ASAE, tem fiscalizado e autuado ultimamente várias empresas do ramo alimentar, que possuíam nos seus armazéns, toneladas de produtos em avançado estado de descomposição, aparentemente prontos a serem despachados para seus clientes retalhistas.
É de lamentar que, além do amadorismo excessivo, a ganância exacerbada, de alguns, seja verdadeiramente mais importante, do que a procura de uma orgulhosa seriedade profissional, assim como do incondicional respeito pelo cliente, ambos indispensáveis para a prestação de um serviço que se quer e se exige qualitativo e ao qual o consumidor tem plena e legitimamente direito.
Para finalizar, convém lembrar e realçar que uma das palavras chaves, para vencer honrada e eficazmente as barreiras da adversidade que fomenta geralmente uma indesejável mediocridade, dificilmente poderá ser outra que a certamente emblemática, mas seguramente invejável EXCELÊNCIA.

Não custa experimentar procurá-la e alcançá-la, o que custa e atormenta , é nunca lá chegar.

segunda-feira, 17 de março de 2008

O Estado no banco dos réus,

Como já foi aqui debatido, todos sabemos e lamentámos, que o Estado deixa de ser uma pessoa de bem, a partir do momento em que não honra o seu papel de entidade suprema da nação, nomeadamente, quando resolve não assumir as responsabilidades que lhe são inerentes, sobretudo, se tivermos em conta a sua solene obrigação de ser o primeiro a dar o bom exemplo, em nome da ética e da moral pública, assim como, a bem da nação.
Efectivamente, quando o Estado resolveu tomar a inesperada e surpreendente decisão de descriminalisar a emissão de cheques em situação de falta e/ou insuficiência de provisão, invocando como justificação, a necessidade de descongestionar os tribunais, o próprio Estado cometeu um crime de lesa património, no âmbito da economia nacional e cujas consequências atingem hoje em dia, em termos de tesouraria e de falta de liquidez, níveis perfeitamente insustentáveis para a maior parte dos agentes económicos.
Olhando para este assunto do ponto de vista teórico, parece no mínimo obvio, que o Estado tem por obrigação conhecer exaustivamente todas as consequências que podem resultar da aplicação de uma nova legislação, sobretudo quando se trata de alterar uma lei já existente. A lógica de tal iniciativa, subentende que só se justifica proceder a uma qualquer alteração, se for comprovadamente garantido um melhoramento sensível da mesma e nunca o contrário.
Depois da teoria, passemos então a prática. Uma vez publicada, essa nova legislação permite que qualquer pessoa, seja por conveniência própria, seja ainda por descuido, que venha a emitir cheques sem provisão, já não corra o risco de vir a ser perseguida penalmente. Arrisca-se todavia, em caso de não justificação e não regularização atempada, a ficar proibido pelo Banco de Portugal de requisitar novos cheques.
Vamos agora analisar quais as consequências (contudo previsíveis), desta manipulação legislativa :
Em primeiro lugar, criou-se um precedente, aliás tão descabido como perigoso, pela simples razão que deixou a porta aberta a diversas formas de abusos e de malversações, num mercado que já sofria dos efeitos negativos de uma conjuntura desfavorável aos agentes económicos, em geral.
Em segundo lugar, esses mesmos agentes económicos, conhecedores de uma já lendária lentidão da máquina judiciária, passaram a recear, que, em caso de multiplicação abusiva e descontrolada de cheques sem provisão, já não pudessem confrontar os respectivos sacadores com uma, então temida acção penal, pelo simples facto de que a referida emissão de cheques sem provisão, deixara inadvertida e “milagrosamente” de ser crime !!! O que equivale a dizer que, enquanto se “encoraja” a prática de burla, penaliza-se forte e injustamente o burlado.
Passados poucos anos, após a entrada em vigor da referida manipulação legislativa, importa proceder a um balanço simplificado da actual situação.
Como era redondamente previsível, a emissão de cheques sem provisão banalizou-se e disparou literalmente para números tão graves como assustadores. As razões de tal agravamento, prendem-se com o facto de que, num país de reduzidas dimensões, onde todos ou quase todos se conhecem e tudo se sabe, a situação de “impunidade” dos sacadores faltosos, chega rapidamente ao conhecimento de todos. Sendo assim, não será de admirar que haja um número cada vez maior de empresas, principalmente aquelas de média e pequenas dimensões, que ficam regularmente confrontadas com a devolução de cheques sem cobertura dos seus clientes. Um dos efeitos imediatos dessa impunidade, é o da bola de neve !
Claro, que sempre que isso acontece, permanece a “possibilidade” do burlado confiar o caso ao advogado, que, logo à partida, poderá pedir o pagamento de uma provisão de valor igual ou superior ao próprio valor do cheque sem provisão. Caso o valor do cheque valha a pena e justifique custear simultaneamente advogado e justiça, o infeliz burlado deverá armar-se de paciência, para puder aguentar os anos de espera, necessários à pronúncia de uma decisão definitiva, vinda do tribunal competente, se, como vem sendo habitual, o caso não prescrever entretanto.
Caso o burlado prefira optar (nos grandes centros urbanos exclusivamente) pelo recurso às Secretarias das Injunções, deverá em primeiro lugar informar-se convenientemente sobre as reais hipóteses de sucesso que tal recurso poderá eventualmente proporcionar-lhe. Uma coisa é certa, aquando da entrega de cada caso no balcão das referidas Secretarias e antes de saber qualquer resultado, deverá proceder ao pagamento das respectivas taxas, (% sobre o valor devido cujo montante é aliás limitado por lei). Como não podia deixar de ser, também neste caso, o infeliz burlado deverá armar-se de muita paciência, até se verificar uma qualquer resolução, se tal vier a acontecer.
Ou seja, em qualquer dos casos, além dos prejuízos directos causados pelos burlões, o burlado, ainda deverá suportar os custos bancários da devolução do(s) cheque(s), assim como, os dos restantes encargos exigidos por advogados, justiça e Secretarias, etc, etc

Caso ainda não se sinta satisfeito com a referida lentidão da Justiça e suas reduzidas hipóteses de sucesso, existe a possibilidade do burlado contratar os serviços de uma empresa especializada em cobranças difíceis e aceitar, em caso de cobrança, receber sensivelmente a metade do valor que lhe era inicialmente devido; sendo certo que a outra metade representa o valor do trabalho da empresa de cobrança. Caso se opte por tal solução, ainda persiste o risco de vir a ser burlado pela tal empresa de cobrança que, se não for idónea, poderá de facto receber com sucesso os créditos mal parados e guardar pura e simplesmente para ela, o fruto das referidas cobranças. Se tal vier a acontecer, o único caminho legal, será proceder a uma queixa crime e aguardar pacientemente que a Justiça faça o seu trabalho.
Para completar este já triste panorama, o facto do burlado não ter recebido o valor da sua transação comercial, não o isenta da estrita obrigação de entregar o valor do IVA ao Estado. Caso não o faça atempadamente, deverá então pagar uma multa igual a 20% do valor em causa.
Conclusão: O mercado nacional encontra-se gravemente afectado com o acumular dessas insustentáveis situações e compete ao agente económico encontrar (talvez na caixa de pandora), as soluções supostas reduzir ou eliminar os elevados risco em causa, numa situação de total indiferença da parte do Estado, directamente responsável pela degradação efectiva das anteriores condições.
Muito curiosamente, na sequência do encerramento da actividade de um agente económico, resultante do agravamento das suas condições financeiras, o próprio Estado ficará por sua vez prejudicado por não poder receber todo ou parte das verbas que lhe são devidas, no âmbito da lei fiscal. Outra consequência igualmente negativa: um número cada vez maior de empresas estrangeiras preferem não ser representadas em Portugal face à existência de elevados riscos ligados à cobrança das respectivas facturas.
Assim, perde o agente, perde o Estado e perde o país !!
Basta de incompetência e de leviandade, por parte de quem compete proteger os interessas do contribuinte e do país.

O Homem, o crime e a sociedade,

Enquanto de Norte a Sul, Portugal e a sua já empobrecida e angustiada população, assistem impotentes a uma inequívoca subida da criminalidade, tanto nas áreas urbanas como no interior, as autoridades politico-militares do país, optam por insistir num discurso que se quer tranquilizador, recorrendo para o efeito à leitura de “sábias” estatísticas, tendentes a comprovar exactamente o contrário, mas que, compreensivelmente, não convencem ninguém.
Contra factos não há argumentos !
Como já foi aqui referido num anterior artigo, intitulado: “Quando jornalismo rima com sadismo”, o alargado conjunto de noticiários, consagra a maior parte dos seus espaços informativos, à divulgação diária de péssimas e assustadoras noticias que ocorrem em todo o mundo. Independentemente das verdadeiras motivações que levam os jornalistas a exibir essa diarreia de pouco animadoras noticias, existe uma outra realidade, bem mais triste ainda, é que toda essa ameaçadora criminalidade está forte e inelutavelmente presente no seio da nossa sociedade. Tentar desmenti-la é uma aberração que só denigre os seus autores.
Mais importante do que fomentar uma batalha de números, ao sabor de interesses meramente politico-partidários, importa proceder a uma análise exaustiva da situação, capaz de encontrar e explicar as verdadeiras razões que estão na origem desse perigoso aumento da criminalidade, antes que a mesma venha a atingir proporções de carácter irreversível.
Se me fosse permitido tentar antecipar algumas dessas razões, poderia afirmar, com reduzida margem de erro, que os principais factores que desencadeiam uma forte motivação criminal, poderão ser os seguintes:

· Na mente dos criminosos, encontra-se uma irresistível vontade de apoderar-se de bens alheios, com o fim de enriquecimento pessoal praticamente imediato e com pouco trabalho.
· Verifica-se uma desmedida e desnecessária ostentação dos mais variados sinais exteriores de riqueza, da responsabilidade daqueles privilegiados que a possuem.
· Vindo daqueles que detém o poder, é visível a demonstração de um alto e rápido aumento de nível de vida, certamente gerador de incompreensão e cobiça dos subordinados que vivem à margem desses invejáveis sucessos.
· Regista-se uma excessiva “propaganda” e banalização de todas as formas de criminalidade, através dos meios informativos, incluindo a poderosa e incontrolada Internet, aliás iniciadora de perigosos e “bombásticos” ensinamentos.
· Presenciamos uma evidente, mas infelizmente suspeita falta de vontade política e uma insuficiência de meios adequados, para dissuadir os potenciais prevaricadores, comparativamente a outros tipos de investimentos públicos.
· É lamentável e pesado de consequências, a inconsciência leviana com a qual a nossa actual sociedade fomenta quantidades sempre crescentes de assimetrias sociais, com os seus lotes de esquecidos e de abandonados, entregues a si próprios, que, não tendo absolutamente nada mais para perder, mergulham numa nebulosa marginalidade, onde pensam encontrar um suposto e ilusório refúgio, eventualmente capaz de contrariar a sua indecente e excessiva miséria, tão material, como aliás intelectual.

Durante muitos séculos, as populações registaram uma forma de vida, indiscutível e exclusivamente condicionada pelo permanente e assustador poder das autoridades religiosas, possuidoras de uma plena legitimidade para fazer uso de todos os meios ao seu dispor, principalmente, o do recurso a ameaça de castigos diversos, incluindo aquele que prometia a ida para as chamas eternas do inferno; com a particularidade destes castigos serem infligidos pelos mais do que misteriosos e não menos assustadores poderes, ditos divinos ! Com a perda definitiva de influência dessa mesma Igreja, aquando da sua separação efectiva do Estado no início do século XX, a sociedade civil começou a desfrutar de uma maior e merecida liberdade espiritual e consequentemente, deixou-se progressivamente conduzir em direcção a diferentes e renovadas formas de espiritualidade, de pensamento e de convívio.
O simples facto de saber que, contrariamente ao incontestado e aterrador poder espiritual divino, profeticamente omnipresente em todos os lugares e dentro de cada um dos pecadores, o novo e circunscrito poder das autoridades policiais, só se inicia e toma efectivamente efeito, a partir do momento onde o criminoso é apanhado fisicamente, deixa aos meliantes uma razoável e apetecível margem de manobra, que incita os mais inconscientes a tentarem a sua sorte, indiferentes aos prejuízos diversos que irão causar às suas anónimas e infelizes vítimas, cujos direitos raramente são lembrados, quando se fala de direitos humanos.
Sendo universalmente reconhecido, que o excesso de liberdade mata a própria liberdade, não será de admirar e ainda menos de surpreender, que o progressivo e inexorável aumento de uma alargada e incontrolável permissividade nas nossas actuais sociedades, se assuma como sendo o principal factor desencadeador das sucessivas ondas de efeitos negativos, das quais a criminalidade faz parte integrante, embora no meio de tantas outros.
Perante tal sombria realidade, a sabedoria assegura que é fundamental e urgente reflectirmos, madura e construtivamente, sobre as actuais “reduzidas” formas de castigos em que incorrem na realidade os diferentes tipos de prevaricadores ! Sabendo que a Justiça de hoje, é particularmente menos pesada e castigadora do que aquela praticada tempos atrás, o candidato a criminoso já não deve sentir-se demasiado e irremediavelmente apavorado, ao ponto de desistir dos seus ilegais intentos. Muito curiosamente, na sua generalidade, os criminosos têm em comum, um ponto que os une, tanto na convicção de uma pseudo impunidade, como no resultado de um eventual castigo. A esmagadora maioria deles, talvez por possuírem uma determinada inconsciência ou, uma qualquer insuficiência intelectual, convencem-se, graças a uma perturbante ingenuidade, que só os desafortunados e outros desleixados, é que se deixam apanhar pela teia da Justiça. Por definição, a inquestionável “esperteza” deles, representa a sua única e garantida salvaguarda.
Caso essa tão sui generis motivação venha a ser comprovada através de exames psicológicos aprofundados, a efectuar em laboratórios idóneos, competirá então à sociedade e autoridades competentes, investirem fortemente numa formação centrada no reforço da ética humana, baseada na incontestável imprescindibilidade do ensino e consequente domínio dos valores morais e cívicos do indivíduo, sem os quais nenhuma sociedade que se quer inteligente e civilizada pode progredir em segurança, no respeito de todos e de cada um e com séria e incontroversa garantia de um futuro colectivo e individual promissor. Paralelamente a essa recomendável reformulação ética e moral do indivíduo, existe, além do real dever, uma imperiosa necessidade da parte de todos os intervenientes, de empenhar-se, séria e eficazmente, numa drástica redução da miséria, ou melhor, na sua erradicação, sabendo que essa mesma miséria, é mãe de todos os vícios e de todos os males de que todos sofremos

quarta-feira, 12 de março de 2008

Quando o jornalismo rima com sadismo,

A profissão de jornalista, consiste principalmente em encontrar, seleccionar e comunicar acontecimentos que, por serem considerados invulgares, mas actualmente, também cada vez mais chocantes, merecem ser levados ao conhecimento do chamado grande público. Uma vez completada a recolha dos últimos acontecimentos ocorridos à escala planetária, importa seleccionar os que, em função da linha editorial, terão lugar no suporte noticioso, seja ele televisivo, imprensa escrita ou falada. A referida linha editorial, obedece necessariamente a regras e critérios ditados pela administração, que, por sua vez, tem que prestar contas à entidade patronal e accionistas. Sabendo que a comunicação social pertence ao mundo dos negócios, não será difícil entender que a rentabilidade e o lucro financeiro representem a prioridade das prioridades. Por outras palavras, o que importa é ganhar dinheiro, muito dinheiro, ganhar o mais possível.
Tendo em conta a permanente necessidade do ser humano de sentir-se bem e reconfortado, os jornalistas resolveram bombardear o cliente com uma rigorosa selecção de más e péssimas notícias, preferencialmente a partir da primeira página, e sempre escritas com letras gordas; sabendo que, quanto pior são estas notícias, melhor será para as vendas.
Assim, a esmagadora maioria das notícias publicadas, falam e exibem sem pudor, de tudo o que é hediondo, horrível, assustador, abominável, aterrador, sangrento e, sempre que possível, reforçado com imagens que não deixam margem para dúvidas. O teor dos assuntos focados, é praticamente sempre o mesmo: Atentados bombistas, suicídios ou não e seu lote de mortes e de feridos ensanguentados. Incêndios, inundações, terramotos, tsunamis e outros cataclismos que matam muitos de uma só vez, deixando impressionantes rastos de destruição e de desolação. Criminalidade violenta, com os seus inevitáveis mortos e feridos. Acidentes de mil e uma espécies, com preferencia para os que incluem veículos irreconhecíveis após os respectivos embates. Assaltos à mão armada, com tomada de reféns. Violência doméstica e suas marcas bem visíveis. Violência sexual, com seu inseparável lote de menores abusados por autênticos doentes que circulam inexplicavelmente em plena liberdade. Raptos de crianças, entre outros, que são normalmente encontradas mortas e abusadas. Roubos e desvios de dinheiro, sem esquecer esta nova moda importada, o denominado “Carjacking”, roubo de carros com recurso a violência extrema. Os assuntos de corrupção, activa e passiva, que implicam frequentemente nomes sempre sonantes, mas que nunca chegam a ser verdadeiramente incomodados por uma Justiça, essencialmente eficaz contra os pobres e os fracos. Sempre que possível, pormenores mórbidos dos chamados suicídios, que resolveram por fim à vida por motivos nem sempre descobertos. Tudo isso, sempre acompanhado de palavras empolgantes, fortes, assustadoras, especialmente escolhidas para reforçar ainda mais a notícia. Quando esgotados estes assuntos, fala-se e escreve-se então sobre as intermináveis lutas intestinas dos partidos políticos e da permanente “guerra” existente entre cada um deles. Os restantes espaços noticiosos ficam reservados para o emblemático mundo do desporto (perdão, do futebol), cuja informação se assemelha a uma verdadeira ditadura relativamente às outras disciplinas desportivas.
Um dos efeitos psicológicos que esta constante e infindável diarreia de más e péssimas notícias produz no conjunto de telespectadores, leitores e no ouvintes, é o de transmitir a ideia de que o asar bate normalmente à porta alheia. A consequência lógica e imediata, também reside no facto de que essa ideia transmite, simultaneamente, um sentimento de tranquilidade, pessoal e individual, pela simples razão de que, mais uma vez, esta longa sucessão de asares não lhe era destinado !! Daí a transformar esse alívio em sentimento de “segurança”, é um passo.
Ou seja, paradoxalmente, saber da infelicidade dos “outros” faz nos sentir “bem”. Quanto mais anónimos, os tais “outros”, melhor !!
Tendo plena consciência dessa realidade, os jornalistas, por fazerem uso exaustivo dessa mania de seleccionar meticulosamente estas más notícias, oriundas do mundo inteiro e publicá-las, correm seriamente o risco de serem acusados de uma inequívoca demonstração de um indisfarçável sadismo que, estranhamente, encontra facilmente o seu eco nas profundezas insondáveis do contrapeso humano, o denominado masoquismo aliado ao irresistível voyeurismo. Seja ele do telespectador, leitor ou ouvinte.
Só é pena que o imprescindível conhecimento da deontologia própria da profissão de jornalista, assim como o seu devido e incondicional respeito, não tenham meios e forças suficientes para inflectir essa lamentável tendência e encaminhá-la progressivamente em direcção a uma renovada forma de jornalismo, sensibilizada pela absoluta necessidade de divulgar notícias, transmissoras de uma verdadeira felicidade e alegria particularmente contagiantes.
Quem disse que o ser humano não compraria muito mais notícias anunciadoras de bem estar e de beatitude comunicativas ?? Se eu fosse jornalista, pensaria nisso, pelo menos duas vezes !!
Creio que se assim fosse, o mundo inteiro se portaria imensamente melhor, muitíssimo melhor e até agradeceria!

terça-feira, 11 de março de 2008

Discriminação sexual,

O século XXI já entrou no seu oitavo ano de vida e não deixa de ser surpreendente a ainda existência de diferenças de trato entre os géneros masculino e feminino, se considerarmos, com honestidade e realismo, que os dois sexos constituem, copulativamente, a indispensável essência, remota e actual, desta nossa sociedade, assim como, a única garantia de uma inevitável e ambicionada projecção no tempo dessa mesma sociedade e dos seres humanos que a compõem. Estranhamente, apesar da presença persistente e pouca honrosa de múltiplos pontos negativos no seu funcionamento, essa mesma sociedade não tem nenhum receio em se considerar a si própria como sendo seriamente desenvolvida.
Curiosamente, é no decorrer de um difícil e longo caminho que a sociedade de ontem teve que percorrer, para se converter na sociedade mais moderna e mais desenvolvida que conhecemos hoje, que encontramos as bases da própria existência de uma denominada discriminação sexual, entre Homens e Mulheres. A mais importante de todas essas bases, será, sem dúvida, a obrigatoriedade do ensino básico para rapazes e raparigas, o subsequente acesso a cursos superiores e consequente, uma formação académica (unissexo), que permite, a ambos, a entrada no extenso e variado mundo do trabalho. Embora tal discriminação seja frequentemente uma realidade, nomeadamente em áreas mais sensíveis, tais como, o principio de uma remuneração diferenciada para lugares idênticos, o ainda reduzido acesso da Mulher a postos de responsabilidade (supostamente propriedade do Homem) e a permanência do estatuto da Mulher no seu eterno lugar de “dona de casa”, aliás também chamada, (por mentes com carácter nitidamente machista), de “doméstica”, com o conjunto de tarefas que esse lugar implica para ambas as denominações.
No entanto, a sobrevivência da nossa espécie, ao longo dessa já velha e longa História da humanidade, tem certamente, como aliás a referida discriminação, sua explicação e suas raízes, na separação das responsabilidades que incumbiam a cada um dos dois sexos, em conformidade com as naturais aptidões e características físicas, próprias a cada um deles. Enquanto, na longínqua pré-história, o Homem, predador natural, tinha força física e coragem para ir caçar presas, seu único e indispensável sustento, trazia-as seguidamente para a caverna, que servia de abrigo colectivo, onde a sua companheira tratava de preparar a comida, utilizando o produto da referida caça. Durante milénios e séculos, é verdade que o papel da Mulher foi sendo limitado aos afazeres do lar, cuidar da descendência, confeccionar e tratar da roupa de toda a família e garantir a sua alimentação, enquanto o Homem, animal eternamente sedento de poder e de riqueza, guerreava-se contra os outros, para satisfazer suas variadas e loucas ambições. Posteriormente, com a evangelização em larga escala das populações, a cargo de missionários exclusivamente masculinos, a Mulher passou a ter que “obedecer” às leis de Deus e da Santa Igreja, além da sua já habitual e tradicional obediência e submissão ao Homem. Os anos passaram e foi, de uma certa forma, a partir do momento em que a Mulher soube realçar e pôr positivamente em evidência a sua invulgar beleza, que a sua visibilidade e influência junto do Homem, começaram a ser uma realidade promissora. Com o tempo, a Mulher acrescentou à sua invulgar beleza, uma subtileza indiscutível, formando assim, um dos seus mais atractivos trunfos, à sua reconhecida e denominada “feminilidade”. Para que honra seja feita a Mulher, a sua feminilidade e aos seus trunfos, ficou memorizada para sempre uma frase lisonjeadora que diz o seguinte : “Atrás de um grande Homem, há sempre uma grande Mulher”. A História, de facto encarregou-se de comprovar a veracidade e o bom fundamento desta observação.

A esse propósito, que me seja permitido reproduzir aqui e agora, algumas citações extraídas do capítulo: Mulher, contidas no meu livro de temas múltiplos, (porventura à espera de ser editado), relativas a essa particularidade tipicamente feminina :

“A feminilidade está intrinsecamente ligado a um todo que a Mulher tem, sente, imagine, diz, pensa, toca, faz, olha e deseja, entre outras sensações, acções, atitudes e demais posturas que só a Mulher domina”.

“A subtileza contra a energia e a paciência contra a impulsividade, sempre foram dos melhores trunfos que a mulher soube muito habilmente evidenciar e manejar, no seu eterno e inevitável confronto com o sexo oposto. Já foram muitos os milénios de prática e de experiência que a mulher soube capitalizar em benefício da sua fragilidade e mesmo, quando necessário, da sua própria integridade. No sentido físico e não só, a mulher recebeu dos deuses e da natureza, uma dádiva que lhe está genética e intuitivamente adstrita e que os já mencionados milénios, só ajudaram a aperfeiçoar ainda mais, até se atingir um patamar vizinho da excelência: a sua feminilidade”.

“Ainda bem! Sem a mulher, este mundo e sua respectiva humanidade não poderiam existir e se porventura pudesse mesmo existir, ele seria um mundo onde o próprio homem não poderia nem saberia viver”.

“Era como viver num jardim onde os passarinhos não cantavam, passear numa floresta onde os rios ficaram sem água da vida e onde as flores, embora multicolores, não exalassem, nem fragrância, nem cheiro, nem aromas. Não toquem na mulher! Além da vida e da alegria, ela é o futuro do homem”.

Regressando ao tema de abertura, em vez do Homem (pelo menos alguns), persistir nesta discriminação negativa relativamente ao sexo oposto, deveria abrir a sua mente, para entender que, muito mais importante que estar permanentemente a recorrer a uma suposta supremacia do Homem sobre a Mulher, é sobretudo debruçar-se sobre a perfeita complementaridade existente entre os dois sexos e descobrir quais as vantagens dessa complementaridade em beneficio de cada um dos sexos. O Homem, para seu próprio interesse, tem forçosa e finalmente de entender e aceitar, que na hipótese do “desaparecimento” da Mulher desta sociedade, ele não seria capaz de fazer frente a tal ausência, nas mais banais situações da vida do dia-a-dia e passaria a ser reduzido ao papel de um animal doente e abandonado, sem capacidade para sobreviver sozinho num mundo, onde as adversidade e necessidades requeiram uma parceria completa, equilibrada e definitivamente eficaz. O Homem tem que saber reconhecer que sem a Mulher, ele não é nada, mesmo sabendo que a reciprocidade a essa verdade, também é uma outra e incontornável realidade.
Resumindo : discriminação, não, complementaridade e igualdade, sim !!
Está compreensivelmente implícito, nesta complementaridade, uma não menos compreensível igualdade de direitos que existe natural e necessariamente entre Homens e Mulheres. Nada pode explicar e ainda menos justificar, que num contexto laboral, a trabalho igual, não haja vencimento igual. Se, a assiduidade, a produtividade e a qualidade prestadas, forem absolutamente idênticas, independentemente de quem as produza, então não há justificação coerente para que se aplique uma qualquer diferença, na retribuição salarial entre empregados de um sexo e empregados do outro sexo. Quando um dirigente Homem, usa e reivindica a aplicação dessa diferença, está simplesmente demonstrando, além de uma mentalidade de ganância fácil, a sua profunda ansiedade e incapacidade em se considerar igual à Mulher, na sua qualidade de ser humano. Aliás, poucas serão as profissões onde a Mulher não possa facilmente provar a sua igualdade de competência com o seu companheiro Homem. Pelo contrário, haverá certamente bastantes tarefas específicas, sistematicamente entregues e confiadas à Mulher, onde o Homem se sentiria tão à vontade, como a sua única e eterna companheira.
Se, até agora, a sociedade humana trouxe à luz do dia, a sua indiscutível evolução em todos os domínios, técnicos e intelectuais, se a Mulher comprovou a sua adaptação a essas mesmas evoluções, terá então chegado, agora, mais do que nunca, a vez dos homens, (com tendência para machismo exacerbado), entenderem que, caso não tenham capacidade e vontade para seguir o rumo dessas evoluções, correm irremediavelmente o risco de se deixar ultrapassar pela realidade dessas numerosas e cada vez mais frequentes evoluções. Aquelas que conhecemos, acrescidas daquelas que estão ainda para chegar.
Convém no entanto deixar aqui um aviso à navegação : Da mesma forma que, como toda a gente sabe, o excesso de liberdade mata a própria liberdade, vale a pena lembrar o seguinte : No dia em que essa esperada e legítima igualdade de direito entre Homens e Mulheres for efectiva e definitiva, haverá, da parte da Mulher um erro a não cometer. Esse erro, seria de tentar ou desejar que, após tantos anos de desigualdade, a Mulher tirasse partido dessa consagração de igualdade para transformá-la sub-repticiamente numa posição dominante, invertendo assim a História do relacionamento entre os dois sexos. Tal precedente poderia assumir consequências agravadas e imprevisíveis, em prejuízo de um salutar e necessário convívio entre Mulheres e Homens que se quer, sobretudo, tão complementar como inteligente..
No dia em que a ciência permitir ao Homem engravidar, acolher nas suas entranhas durante noves longos meses, a sua própria progenitura, e finalmente dar à luz, o Homem passará a descobrir o verdadeiro sofrimento físico, intimamente ligado à reprodução da sua própria espécie e, se se comprovar a real existência da sua suposta inteligência, nesse dia, e só a partir desse dia, ele terá (em mãos) os elementos que lhe permitirão dar o justo valor à condição feminina, sua coragem e demais qualidades e então, aceitar e reconhecer uma desmistificada igualdade entre ele, o sexo forte, e o sexo oposto, dito fraco.
Finalmente, por outras palavras, duas coisas me parecem fundamentais para se obter uma indispensável harmonia entre os dois sexos :
1.) Quando o Homem olha para uma Mulher, tem definitivamente que deixar de pensar sistematicamente nela, da cintura para baixo. A Mulher não pode continuar a ser reduzida à imagem de uma apetitosa boneca, colocada pela natureza ao serviço do Homem e dos seus egoístas apetites sexuais, quando não perversos, e onde os conflitos e outras contrariedades, ficam resolvidos com alguns pares de bofetadas ou palmadas no rabo. O Homem ao comando e a Mulher na obediência. Este tempo medonho e primitivo está morto e enterrado para uma esmagadora maioria de Homens; embora saibamos infelizmente que subsistem ainda uns tantos irredutíveis !!
2.) Muito embora compita subtilmente à Mulher saber ser verdadeiramente Mulher, com sentido de inteligência, elegância, encanto, feminilidade e beleza, compete-lhe saber gerir, com charme e subtilidade, um compreensível e natural desejo de valorizar a sua feminilidade, com merecido respeito, resistindo eficientemente à tentação, não menos natural, de fazer uso e abuso dos seus dotes femininos, para atingir fins talvez consideravelmente menos ortodoxos. Exigir ser conquistada, sabendo apreciar e saborear tal conquista, faz toda a diferença do recurso à banalização do charme e da feminilidade, triste e inglório apanágio daquelas que preferem oferecer-se.
Para que possa ser eficazmente combatida a discriminação sexual em causa, compete ao Homem, mais do que nunca, honrar e fazer jus à sua inteligência, à sua sensibilidade, ao seu sentido de justiça e de equilíbrio e ao reconhecimento da teoria da evolução, nomeadamente e sobretudo da evolução intelectual do ser humano. O Homem do Neerdenthal deixou definitivamente lugar a um ser supostamente racional, condenado a orgulhar-se das sua qualidades e envergonhar-se dos seus defeitos e fraquezas.
O melhor caminho para conseguir alcançar tal nobre objectivo, passa por aquele em que Homem aceita dedicar à Mulher, toda a atenção, o respeito, e a consideração devidas, não num só e único dia por ano, consagrado como sendo o dia internacional da Mulher, mas sim todos os dia do ano que Deus faz.
Do seu lado, a Mulher deve estar atenta, sempre que pode, em demonstrar e merecer verdadeiramente a sua igualdade e aprender a exigir o implícito reconhecimento dessa mesma igualdade.
Assim, ganharão a humanidade inteira e ambos os sexos.


quarta-feira, 5 de março de 2008

Mais um negro aniversário,

No dia 4 de Março de 2008, completaram-se sete longos anos (aproximadamente 2.558 dias), sobre a inexplicável tragédia de Entre-os-Rios.
Logo pela manhã daquele dia, os meios de comunicação social anunciaram que, a “Associação das vítimas da queda da ponte Hintze Ribeiro” em Castelo de Paiva, deu a conhecer a sua inesperada decisão de desistir oficialmente do pedido de indemnização, elaborado a pensar nos familiares das vítimas, desistência essa, motivada pela sua perda de credibilidade no sistema judiciário.
Essa atitude, além de exemplar e muito corajosa, vem de uma certa forma demonstrar à sociedade civil e respectivo Estado, que, não contente de sofrer em silêncio, o povo também sabe sofrer com grande dignidade.

Do ponto de vista moral, essa tomada de posição também representa, inequivocamente, uma forte e enérgica “bofetada” psicológica destinada a todo o aparato político, judicial, policial e administrativo que, juntos, representam o Estado Português e que, em mais um caso, se mostrou total e incompreensivelmente incapaz, ao longo de tantos anos, de encontrar os culpados pela queda da referida ponte e levá-los a Justiça para aí serem publicamente sentenciados.
De facto, todos sabemos da já lendária lentidão dessa Justiça, que muitas das vezes, por demoras excessivas, entre outros aspectos pouco abonatórios, não chega até ao povo, apesar dessa mesma Justiça ser um dos poucos direitos que a constituição portugueses garante ao cidadão.

No caso presente e considerando que, apesar das diversas e exaustivas investigações levadas a cabo, nenhum culpado foi encontrado até a data, tal significa muito provavelmente que tal insólita situação permanecerá inalterada no tempo ! Afinal e até prova em contrário, a culpa morreu mesmo solteira !!! Apesar de, na altura da sua demissão, o então ministro das obras públicas, Jorge Coelho, ter afirmado peremptoriamente o contrário !!
Essa inadmissível atitude dos poderes públicos, comprovadamente dotados de meios suficientes para que se faça Justiça num caso como este, deixa pressupor que existem indícios de que os possíveis e eventuais culpados beneficiaram de uma determinada protecção, orquestrada por quem possui os meios legais para que tal aconteça.

Quem vive neste país e se orgulha de estar minimamente atento ao que se passa, nomeadamente ao nível das altas esferas do poder, adquire naturalmente a plena consciência de que existem fortíssimas suspeitas da existência de um clima generalizado de total impunidade, sempre que se trata de “pessoas importantes”, cujo nomes aparecem, directa ou indirectamente ligados a situações ditas tendenciosas, que nunca chegam a ser levadas até ao fim.
Como disse, aliás e muito bem o recém empossado Bastonário da Ordem dos Advogados: “Nem valerá a pena citar nomes que toda a gente conhece”.
Resumindo essa bem triste história, no que diz respeito ao acidente em si, existe um inquestionável certeza : a dramática e prematura morte violenta de 59 (cinquenta e nove) pessoas, entre as quais, crianças e adultos, agravada com o não menos dramático sofrimento de todos os familiares e amigos destas inocentes vítimas. No que diz respeito aos tribunais, estamos na presença de uma outra certeza, bem mais inaceitável e inequivocamente vergonhosa, na medida em que não quiseram ou não souberam dar a única resposta que tamanha tragédia merecia e justificava: Verdade e Justiça !
Sendo assim, seja por incapacidade, por desleixo, ou seja ainda por conveniência, o que neste caso terá obrigado a operar um compreensível encobrimento da verdade, o Estado e a sua poderosa e onerosa máquina, não permitiram que os familiares das 59 (cinquenta e nove) vítimas, fizessem um verdadeiro e legítimo luto dos seus entes queridos.

Já circulam por aí rumores que, se tivesse havido e falecido, no meio destas 59 (cinquenta e nove) vítimas, uma importante personalidade, tal como um ministro ou outro qualquer dignitário da nação, os responsáveis pela tragédia teriam sido atempadamente descobertos, apanhados, inculpados, julgados e exemplarmente sentenciados.

Seja como for, num incondicional apoio especialmente dirigido a estes pobres familiares e amigos das vítimas, muitos outros portugueses, anónimos e honrados, devem compreensivelmente sentir-se solidariamente abandonados, insultados, usurpados e injustiçados, perante tão indigna e revoltante actuação, vinda de uma entidade eticamente obrigada a ter uma atitude literalmente oposta, ou seja, proteger os seus cidadãos, até as últimas consequências.
Agindo desta lamentável forma, o Estado e seus responsáveis, correm o risco de serem novamente acusados de arrogância, prepotência e incúria, todas perfeitamente inadmissíveis, por se tratar de defender sorrateiramente interesses não declarados, o que neste caso, equivale a matar pela segunda vez, cada uma das 59 (cinquenta e nove) vítimas dessa tragédia, envergonhando profundamente o país e suas instituições.
De entre todas as funções que são do domínio exclusivo dos poderes públicos e cujas finalidades e orientações devem sempre e necessariamente fazer prevalecer os verdadeiros fundamentos de um Estado de direito, dos valores intrínsecos da Democracia e dos inalienáveis direitos do cidadão, o ministério da Justiça, respectivos tribunais e seus magistrados, são, sem margem para dúvida, os que possuem a obrigação ética e deontológica de trabalhar e decidir no maior respeito pelos mais elevados padrões de equidade, honradez e rectidão.

Além do incondicional respeito pelo próprio principio da honradez, imprescindível a qualquer magistrado encarregado de fazer Justiça com sentido de nobreza e de dignidade, também é imprescindível salvaguardar a honradez do próprio Estado, a bem do país e a bem de todos, sob pena de deixar instalar e alastrar perigosamente um sentimento generalizada de total e absoluta descrença, no país e nas suas instituições.

O Homem, a máquina e o civismo,

Quando Ferdinand Verbiest tem, em 1769, a ideia de conceber um sistema mecânico que permitisse ao Homem deslocar-se sem esforço, nunca poderia ter imaginado que essa inocente ideia, revolucionaria posteriormente o mundo, num espaço relativamente curto de tempo. Assim, inspirado neste sonho, nasce, em 1771, pela mão de Joseph Cugnot, o primeiro carro, movido a vapor e capaz de avançar a uma “estonteante” velocidade de 4 km por hora, durante aproximadamente uma quinzena de minutos !! Espantoso, um autêntico milagre da engenharia !
Desde então, o Homem fez tudo para conquistar essa extraordinária máquina, mas na realidade, justiça lhe seja feita, foi e continua a ser a máquina que conquistou efectiva e definitivamente o Homem.
Quem tenha já experimentado os prazeres da condução automóvel, sabe e recorda-se, sem dúvida, que os seus primeiros contactos com a máquina, foram recheados de estranhas e encantadoras sensações. O simples acto de dirigir e comandar uma reluzente máquina, provoca normalmente a sensação de estar a viver uma certa magia, que deslumbra os nossos sentidos e as nossas emoções. Quanto maiores forem as capacidades técnicas e quanto mais elegantes forem as linhas que compõem a aerodinâmicas do engenho, maior é o prazer e o orgulho de quem está sentado atrás do volante de um tal bólide. Num espaço inferior a um quarto de século, se é verdade que o sucesso do automóvel se tornou universal e absolutamente esmagador, também é incontestável, que a sua alargada utilização é responsável por uma sinistralidade que, lamentavelmente, cresce proporcionalmente ao tempo que passa e com o números de veículos efectivamente em circulação.
Entretanto, foi necessário adaptar as vias de comunicação rodoviária, às performances das máquinas, cada vez mais potentes e velozes. É claro, que tanto as máquinas como as estradas têm os seus limites e os seus defeitos, como em tudo na vida, mas o pior de todos os males ligados à circulação rodoviária, encontra-se no condutor, ou seja no próprio Homem. É maioritariamente ele o responsável por essa sinistralidade crescente, causadora anualmente em todo o mundo, de centenas de milhares de mortes e de acidentados, invariavelmente. Em Portugal, particularmente, as raízes desses excessos e erros diversos cometidos ao volante e que culminam sistematicamente nestas hecatombes, são praticamente sempre as mesmas; a falta de preparação e de experiência para dominar totalmente a máquina; o desejo de brilhar perante os outros, tentando demonstrar capacidades de condução que na realidade não se possui; a condução sobre o efeito de substâncias impróprias, tais como o álcool e os estupefacientes; a condução em estado de fadiga física e intelectual excessiva, ou ainda com o inevitável sono a sobrepor-se à consciência e atenção do condutor; a mania que alguns automobilistas têm, despidos de qualquer civismo, de se arrogar uma importância e uma prioridade que não têm de facto; a pressa mal controlada comparativamente à perícia individual do condutor; a incapacidade de conjugar condições atmosféricas com uma condução segura; a falta ou insuficiência de conhecimentos do potencial real da máquina e das suas reacções físicas e mecânicas; a falta de prática de alguns condutores que só ocasionalmente tomam o volante, como é os caso dos chamados domingueiros, que não têm a mínima noção da intensidade e “perigosidade” do trânsito e das traiçoeiras condições de piso; os erros e/ou esquecimentos infelizmente frequentes, verificados na sinalização vertical e horizontal; as apostas feitas entre dois ou mais condutores, decididos a fazer tudo para ver quem chega primeiro à meta; o evidente e gritante incumprimento das regras estabelecidas no código da estrada, que os condutores impõem e exigem veementemente aos outros, mas que não se aplicam necessariamente aos próprios; a deficiente ou a não utilização dos indicadores de direcção, dos espelhos retrovisores laterais e interior, o mau estado dos pneus e outros órgãos vitais do veículo; a falta de uma presença visível e inteligente das brigadas de trânsito que compreensivelmente privilegiam os esconderijos, para melhor apanhar de surpresa os incautos e multá-los facilmente; finalmente, a velocidade, ou a indicação do seu excesso, que, invariavelmente, na opinião das forças policiais afectas ao trânsito, é quase a principal senão a única culpada de todos os males que acontecem nas estradas. Esta conclusão fácil, demasiado fácil, esconde cobardemente duas coisas : a primeira, é que nem todos os condutores legalmente encartados, possuem de facto as aptidões intelectuais indispensáveis à condução automóvel; a segunda, é que perante tantas falhas e consequentes responsabilidades do lado do Estado e das entidades “competentes” em termos de segurança rodoviária, a velocidade tornou-se, por um lado, o bode expiatório perfeito e por outro, um excelente meio para “facturar” milhões de Euros em multas pesadas, que engordam invariavelmente os cofres do Estado e das suas respectivas autarquias. Agora, uma coisa é certa: não há fatalidade !!
Da mesma forma que há povos que eficazmente aprendem, trabalham, produzem, exigem, enriquecem, obedecem, respeitam, vivem e conduzem bastante mais disciplinadamente do que outros povos, proporcionando todas as vantagens inerentes a uma sociedade dita civilizada, tais como, um convívio baseado no respeito mútuo, onde a segurança, a qualidade e o nível de vida satisfazem geralmente a maioria das pessoas, também há outros povos, onde, devido ao facto de os prazeres individuais, o egoísmo o egocentrismo, a preguiça e orgulho exacerbados, representarem uma tão grande importância na mente de cada um, já não sobra nem espaço, nem justificação, nem motivação, nem necessidade para olhar a realidade de frente. Talvez seja por medo de se aperceberem e verificarem que, afinal, separados ou juntos, eles aparentam diferenças sensíveis e apresentam assimetrias mais do que substanciais, comparativamente com aqueles outros povos, relativamente aos quais nutrem uma indisfarçável inveja e uma crescente cobiça.
Curiosa atitude, quando se sabe que o sucesso nunca cai do céu, mas, nasce sim da preparação, do esforço, da perseverança, da ambição coerente e da confiança em si. Portanto, se não há fatalidade, não será por obra do acaso que em Portugal se conduz muito pior do que em outros países europeus, onde o nível e a “qualidade” de vida são o que se conhece e onde a esperança de ver as coisas melhorarem significativamente, só se encontra em duas categorias de pessoas: 1) nos ingénuos, por serem pobres de espírito, 2) e nos nossos políticos. Pudera !!
Talvez seja imprescindível, agora mais do que nunca, os portugueses fazerem finalmente uma reflexão extremamente séria sobre sua verdadeira identidade, as suas reais condições, os meios disponíveis, acrescidos daqueles que deverão ser encontrados, os erros cometidos, aceitar com indispensável humildade, a sua posição efectiva no xadrez europeu e mundial nas suas componentes civilizacionais, sociais, económicas e tecnológicas, armar-se solidamente de ambições realistas, à medida das suas reais capacidades, assim como dos seus objectivos e finalmente, prometer e falar bastante menos e começar a trabalhar e produzir muitíssimo mais.
Só assim e apenas assim, os portugueses conseguirão, a médio prazo, as condições duradoiras de uma verdadeira mudança, criadora das virtudes essenciais ao enriquecimento intelectual e financeiro.
Só assim e apenas assim, a qualidade de vida deixará de ser uma miragem e no meio de outras vantagens, a nomeadamente excessiva sinistralidade rodoviária passará da realidade para a História.
Relativamente ao assunto inicial da condução automóvel, onde não há, nem pode seguramente haver lugar para uma desejada e conveniente fatalidade, como explicar a existência de condutores, calejados com milhões de quilómetros percorridos nas vias europeias e portuguesas durante quase meio século, sempre a altas velocidades, mas de uma forma responsável (e só quando tal era possível), que no balanço geral, apresentam um registo totalmente virgem no que diz respeito a acidentes e incidentes rodoviários ?
Talvez que o segredo de tão raro e invulgar percurso, tenha as sua origens no escrupuloso respeito e disciplinada obediência de uma velha e sábia máxima, que aconselha o seguinte :

“Numa condução que se quer boa e segura, o condutor nunca deverá exceder, nem os seus próprios limites, nem os limites do seu veículo, tendo em permanente atenção um profundo respeito pela condições materiais e climáticas da sua condução”.



segunda-feira, 3 de março de 2008

O Homem e a banalização da violência,

Já repararam que, na chamada pré-História da humanidade, desde que o Homem saiu da escuridão da sua protectora caverna, organizando-se em tribo, com o natural intuito de se proteger dos seus predadores e assegurar a sua alimentação e sobrevivência, dava, sem ter consciência disso, os primeiros passos na constituição do que mais tarde passaria a ser uma sociedade civil.
As quatro centenas de milhares de anos que separam estas premissas balbuciantes de uma forma de vida em colectividade da época seguinte, denominada civilização, deveriam normalmente ter sido mais do que suficientes para que, a peça mestre dessa transição no tempo, o Homem, aprendesse a dominar os seus impulsos selvagens e violentos, de forma a acautelar e nunca repetir os erros cometidos, que, como todos sabemos, têm sempre e inelutavelmente consequências gravosas.
Hoje em dia, perante uma indesmentível realidade histórica, repleta de uma infinita e inesgotável série de erros, o Homem, para ter boa consciência, prefere escolher a reconfortante facilidade de concluir que, afinal, o erro é humano. Simplesmente humano ! A partir daí, tudo é possível, tudo tem explicação, tudo tem as suas origens, ou seja, tudo passa a ser normal, porque compreensível e portanto admissível. Em boa verdade, a culpa do erro, o tal que prejudica indiscriminadamente tudo e todos, nem sequer é do Homem, é sim da própria natureza que, sozinha, se encarregou de conceber e aperfeiçoar o ser sui géneris mais ambivalente e mais perigoso para ele mesmo, assim como para as outras espécies, jamais visto até então no planeta Terra.
Analisando o já longo percurso do Homem e respectiva humanidade nos últimos dois mil anos, desde o anunciado nascimento de Jesus Cristo, nosso Senhor, também conhecido como “salvador” dessa mesma humanidade, constatámos que, a partir dos vários Imperadores romanos, Calígula, Nero e o próprio Júlio César, sem falar de Herodes, seu Rei na Judeia, todos eles foram exímios no recurso sistemático à violência exacerbada contra os oprimidos e os fracos, a nossa História colectiva nunca mais parou de alinhar, uns atrás dos outros e até aos nossos dias, criminosos sanguinários, horrendos e loucos ditadores, guerreiros sedentos de sangue e de vitórias, tal como também outras aberrações “humanas” responsáveis por inúmeras desgraças. Apresentar aqui uma lista completa dessas desgraças, que seria demasiadamente longa e cansativa, não invalida que se possa citar, em apenas uma meia dúzia de linhas, os que mais mortes, sofrimento, e destruição causaram até hoje a essa nossa humanidade, da qual o total de vítimas representa aproximadamente uma centena de milhões de mortes !!!
Assim, embora numa ordem aleatória, temos na China, o Mao Tse Tung, na Birmania, a junta militar dos generais, na Turquia, Talaat Pacha, responsável pelo genocídio arménio, na Europa e na Ásia, Genghis Khan, o maior guerreiro e conquistador de todos os tempos, na Rússia/URSS, Lenine, Marx e Estaline, no Uganda, Idi Amim Dada, na Transilvania antiga, o Conde Vlad Tepes IV, no Cambodja, o tristemente célebre Pol Pot, na Sérvia, Slobodan Milosevic, no Iraque, Saddam Hussein, na Alemanha, Adolfo Hitler, na Itália, Benito Mussolini e na Correia do Norte, Kim Il Jong , pai e filho etc, etc...
Exceptuado Genhis Khan, o mais antigo de todos eles que viveu no século XIV, os restantes citados, pertencem à nossa História recente. Face a uma tal constatação, só podemos lamentar veementemente, que quanto mais nos afastamos dos primórdios da sociedade humana, mais perigosa e selvagem a mesma se torna e cada vez mais mortos deixam nos seus rastos, os acima referidos carrascos da humanidade que, nem sequer completam duas dezenas de indivíduos!!!
Sabendo que o dito “salvador” antecedeu no tempo essa infindável e permanente quantidade de guerras, holocaustos e outros genocídios, causando os conhecidos e gravíssimos prejuízos humanos e materiais, acima mencionados, nem valerá a pena tentar imaginar o que teria sido da humanidade de ontem e a de hoje, se Jesus não tivesse vindo até nós para nos salvar! Oxalá não se venha trazer um dia, a prova da existência de uma relação de causa a efeito, entre a vinda do “salvador” e a profunda e mortífera decadência em que a humanidade mergulhou de corpo e alma, nestes últimos dois mil anos!
Independentemente dessa teorias que não incriminam nada nem ninguém, é deveras impressionante, infinitamente triste e pouco reconfortante para os nossos futuros descendentes, constatar que a omnipresente perigosidade do ser humano, cresce dramática e inelutavelmente com o passar do tempo.

Curiosamente, se considerarmos a abundância e a qualidade do ensino dado às gerações inteiras de jovens, a experiência individual e colectiva adquirida ao longo dos séculos, a sabedoria popular e o conhecimento aprofundado que daí resulta em beneficio de todos, a utilização cada vez mais selectiva da inteligência e do Saber Universal, deveríamos estar a assistir a uma cada vez maior pacificação do Homem e da sociedade civil, a um maior respeito pelo outro, através de uma intrínseca vontade de entendê-lo e ajudá-lo !! Pelo contrário, as insondáveis e inesgotáveis engenhosidade e maldade do ser humano, utilizam os avanços científicos e tecnológicos, para ininterruptamente criar e aperfeiçoar novas armas de destruição maciças, para melhor amedrontar, disciplinar e dominar os seus adversários e inimigos.
A este ritmo, e com essas surpreendentes “ambições humanas”, é difícil e pouco realista imaginar um futuro mais risonho e mais seguro para a nossa espécie, se considerarmos como factor agravante, o recrudescimento do fanatismo religioso islâmico, agora dotado de meios bélicos mais poderosos do que nunca, que o convertem numa forma lamentavelmente inovadora de terrorismo, com as suas já numerosas e comprovadas vítimas, disseminadas por todos os continentes do nosso planeta.
Como tive a oportunidade de relatar e explicar num livro multi-temas da minha autoria, onde foram pormenorizadamente focados os diversos aspectos, positivos e negativos ligados à natureza do ser humano, livro esse, aliás, à espera de ser editado, o Homem tem de facto à sua volta, alguns inimigos muito sérios e demasiadas vezes geradores de violência, tais como, entre outros: o dinheiro, a política e a religião, que separados e/ou em conjunto, já são responsáveis por uma infinita acumulação de desgraças e calamidades, que afectaram e continuam infelizmente a afectar gravemente a humanidade.
Custa certamente admitir, que tão elevados riscos de acontecimentos graves, inerentes à intrínseca personalidade selvática do Homem, estejam em crescimento permanente ao longo da nossa História colectiva, mas, por muito que custe, não podemos esquecer, no meio dessa amargurada realidade que é a nossa, a presença efectiva de todos os sintomas e a probabilidade de se constatar um agravamento constante destes elevados riscos e das suas indissociáveis consequências. Mas, pensando bem, pior que a indesmentível violência do dia-a-dia, é seguramente a sua grande banalização, o que faz com que já não choque absolutamente ninguém.
Perante factos tão pouco lisonjeiros para a espécie humana, devemos todavia salvaguardar a esperança, ao reconhecer e aceitar que nem tudo está mal, porque, de facto, quando o Homem deseja algo ardentemente, arquitecta e concretiza correctamente os seus planos em favor do bem, demonstra uma valiosa capacidade de conseguir adiantar-se à necessidade do seu semelhante e servi-lo o melhor possível. A nossa fatalidade, é saber que uns poucos fazem o bem e outros, em maior quantidades, fazem o mal e que esse mal, a pior faceta do Homem, sempre chamou muito mais a atenção do que a existência do próprio bem.
Regressando ao ainda único exemplar do meu livro, talvez seja por eu ter tido a ousadia de abordar assuntos tão sérios e tão pouco convidativos, mas incontestavelmente ligados à face negativa da nossa História, que ainda não encontrei nenhum editor interessado em dar luz a essa minha obra.
Entendo, que para a maior parte dos editores nacionais, os temas ligados à coscuvilhice, à lavagem da roupa suja, à corrupção no desporto, os romances de leitura fácil, assinados nomeadamente por “socialites”, desportistas ou outras figuras conhecidas da nossa praça, garantem mais vendas, e consequentemente maiores receitas, comparativamente aos proveitos incertos, ligados à talvez arriscada edição de uma obra séria, designadamente pedagógica, que aborda, corajosamente as actuais incertezas relativas ao futuro da humanidade, com a agravante do mesmo ser da autoria de um novo e “ilustre” desconhecido autor.
Enfim, outros e incessantes sinais do tempo, onde o dinheiro, esse malvado e insubstituível dinheiro, mais uma vez, toma estranhamente o lugar de outras valores, verdades e avisos, teórica e supostamente úteis, para quem queira prevenir-se e agir, objectivando um melhor amanhã, em benefício de todos.